Ah… Meu amigo, penso que te apaixonas por palavras… Nada mais do que isso, apaixonaste-te por palavras e estas toldaram-te o raciocínio. Em seguida, as palavras irão destruir-te e lamentarás amargamente teres-te entregue a elas de forma tão irreflectida. Verás que o Amor por palavras é o mais ingrato de todos. Em breve as palavras te deixarão só e então vais sofrer o que não sofreu Dante por Beatriz. Verás, em breve as palavras se esconderão algures, algures onde as cegonhas fazem os ninhos, lá longe num canto assombrado, num jardim das maravilhas que nunca visitarás, num jardim onde a tua Alice constrói, palavra a palavra, o vosso castelo de cartas, o vosso palácio que em breve se desmoronará e, então, quem mais irá sofrer serás tu, e não as palavras que te trazem doido, que te deixam eufórico, as palavras que nunca te li, porque não é teu
mister escrevê-las.
Regressa para nós, regressa antes que seja tarde, regressa com as tuas memórias feitas de sangue, ópio e asfalto, regressa antes que te seja tarde de mais e as palavras te consumam a vida, “the will”, letra a letra, verbo a verbo, paráfrase a paráfrase. Regressa com a “wit” dos britânicos, regressa com a verve dos lusitanos, regressa com a fúria da escrita que se faz “blunt” a cada espaço que preenches luminoso de noite, grávido de Lua, regressa e dá-nos a morte que escondes de nós e de ti sem nunca deixares de por ela ansiar, mantendo essa clarividência que há muito te ensinei, essa certeza de “business as usual” a que nos habituaste.
“Time is Money, don’t be an idiot.” Porque será que sei que não o farás? Sei que estás cego e não me acreditarás. Meu amigo, rogo-te, ainda não é tarde demais. Olha-te no espelho e percebe de uma vez, os ingleses é que têm razão: “You are in to deep already, get out, get out, get out before you get hurt in that spider trap somebody decided to lay down for you.”E lamento-te, embora admire essa entrega incondicional, a verdade é que não consigo entender o que viste nas palavras, não logro descortinar nesse teu mistério qualquer justeza. Escondes-te de nós e adoras as palavras como se estas não fossem apenas “a means to an end”.
Não vês que as palavras são como as andorinhas? Não vês que são livres de ir e vir, sempre que o Sol brilha noutras partes do Mundo e as andorinhas decidem que as palavras nada são senão “a means to an end”? Ah… Meu amigo, apaixonaste-te por palavras…
Ne t’inquiète pas mon ami. Ce vrai, je suis tombé amoureux. Peut-être, mon cher, peut-être je suis tombé amoureux seulement par de mots, et rien que de mots. What can I say? Une chose je peut te dire: je ne peux pas retourner. Les mots de ce type la, de ce type que j'obtiens quand elle les écrit, valent la peine d'être amoureux avec. La vérité, tu sais, ne pas que ça: «Nos deux cœurs seront deux vastes flambeaux, Qui réfléchiront leurs doubles lumières. Dans nos deux esprits, ces miroirs jumeaux.» Et les mots, mon ami, elles remplissent mon coeur de telles émotions que je ne m'inquiète pas si je vole ou si je meurs au-dessus d'elles. Non, ça ne m'inquiète pas.
……………………………… MAS.
I have no power left within me to resist the appeal of this overwhelming tune with which you have chosen to enlighten me. In a last cry of despair for my former self I write to you in a language I’m more familiar with, a language that barely holds my sanity together, alas, it is the only way I can think of to gather the random pieces of my shattered former self and fight you off before it is too late. This is my last resource to resist your summon. Already, stupid as it may seem to an indifferent spectator, I’m in love with you. Amo-te. And I wish to be with you forever, even if for Ever is but this brief episode of eternity when two souls touch each other and become One. For Eternity. Let me touch you. I just want to touch you. Now.
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Quinze páginas para traduzir. Ainda quinze páginas. The Medicine Bundle. Que diabo tenho eu a ver com The Medicine Bundle? Estou cansado de traduzir, cansado do trabalho na padaria e de chegar a casa às sete da manhã para ter ainda de me ir sentar à secretária a traduzir um texto que nada me diz. The Medicine Bundle. Sure, it’s an interesting story, it’s got to do with native-americans and their particular mystical take on reality. E depois, como pensar em The Medicine Bundle se só penso em ti? Não, não posso pensar em ti. Tu és uma não-realidade. És produto da imaginação. Tu és tudo aquilo que sonhei, e ao mesmo tempo tu és tudo aquilo que nunca quis.
Isto não faz sentido, ou faz? Não, não faz sentido, já são sete e meia, espera um pouco, como é que é mesmo, como é que se lê isto? Ah, já sei: It was five minutes after closing time when the museum curator... O que é um museum curator? Oi, está a tocar o telefone. Do lado de lá um amigo: vai ao Google, calma rapaz, estás cansado, eu sei, vai ao site da Faculdade; no corpus do departamento vais encontrar o equivalente de "museum curator". Calma. I'm with you. Já fui, está limpo, já sei o que é um museum curator, sempre o soube, sim, sempre o soube, e agora ninguém me trava, ninguém me pára, who’s the man, meu amigo? Who’s the man? Não te esqueças... Remember what I thought you years ago, do you remember? Recorda só mais uma vez: You’re good kid, you’re good, but as long as I’m around, you’ll always be second best. Toma, aprende, é mais uma pérola que te dou. Enquanto estou vivo. Que conversa é essa? A conversa é que cheira-me que não me sobra muito tempo. Os cilindros, a merda dos cilindros está a matar-me. Eu sei que estou a morrer. O meu pai teve o ataque cardíaco aos 45. O meu avó morreu do mesmo aos 50. Estou com 36. Estou a morrer. Tenho de resolver isto dos cilindros, que vício tão estúpido. Anda lá... You’re the man, you will work it out. Are you chicken?..
No, I’m not chicken. I’m a boy, I’m a simple boy, a simple boy living in the past, fighting for life in the present, I’m but a boy trapped in and old man’s mind. Fighting for life, fighting for her or against Her in the present, I don’t know. I don’t know. I don’t even know who or what She is.
... Ok, dorme bem, amanhã tenho a família por cá e não posso aparecer de olheiras. Fica.
O telefone fica, também. Fica mudo. Siga, merda, este texto não é mais forte do que eu. Nem pensar, já te mostro. Medicine Bundle, é? Que se fodam as carcaças. Bolas? Bolas não temos, só Vianas. A cinco euros à hora não há tempo para bolas, e se não gostam encontrem outro palhaço que não se importe de queimar os dedos a tirar e a meter o pão do forno.
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The Medicine Bundle é… Eu já te mostro. Espera aí, aquele gajo da Fac enviou-me um mail a gabar-se de que tinha encontrado um equivalente… Espera aí, o que andará o gajo a fazer? Bem, é Natal, deve estar bêbado. Não há-de ser nada. O editor só quer esta porra daqui a uma semana, vou mas é morder o texto; o título fica para o fim; é assim que mandam os livros, é assim que vou fazer. Puta que pariu o pão está quente. Merda, já feri os dedos, ai!..
E depois tu. Porque me fui meter contigo?
Porquê? Vais acabar por dar cabo de mim. Vais matar-me ainda mais depressa do que os cilindros. És bela, de uma beleza ímpar. A tua beleza queima. A tua beleza queima mais do que o forno a mil graus. Ó Deus, este ateu, este ateu e anti-clerical confesso implora-Te. Salva-me dela. Salva-me que ainda morro de Amor por Ela.
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Pardal, são mais quinze bolas para cumprir a cota e fechar a loja por hoje. Pardal? Estás na Lua? Ó Pardal?!? O quê? Sim sou eu, Pardal para os mecos da padaria, Pardal para os mecos do patronato, Pardal para as miúdas da loja da frente, Pardal e é por causa de estar sempre a assobiar a mesma melodia, sempre quando me esqueço do mundo, me esqueço de The Medicine Bundle, me esqueço do pão e de todos e só te vejo a Ti, só tenho olhos para as tuas palavras, para o teu Amor, para o desejo de te possuir e de enfim te vergar à minha vontade egoísta - enquanto vou cozendo fornada de pão após fornada de pão.
O Barbeiro de Sevilha. É a melodia que assobio. Não me perguntes por quê… É belo, quase tão belo como tu. Quase tão belo como eu sou feio e tu és magnífica. Tu – Aparição.
Post Scriptum. Pardal, queres vir connosco até ao Tejo? A Susana e a Rita também vêm… Sabes o que a Susana me disse? Disse-me que a Rita te acha giro, rapaz, estás cheio de sorte!.. Não vens? Como não vens? A cota do pão está cumprida, o boss diz que tu és um bom profissional e acho até que vamos os dois ser aumentados!.. Tens trabalho de casa? Deixa lá o trabalho de casa, se tu não vens a Rita vai ficar aborrecida e vai chatear a Susana e depois quem se lixa sou eu! Ainda não percebeste que a Rita gosta de ti? Porra, pára lá de assobiar essa música sem pés nem cabeça e vem com a gente ao Tejo, não imaginas como é bonito o Tejo na madrugada de Natal com uma cachopa nos braços…
Imagino sim. Ai não que não imagino. Mas. Sabes, eu, quando for ao Tejo, vai ter de ser com Ela. Ou então, não vou lá com mais ninguém.
OU VOU? OU VOU? OU VOU?
Hoje estou solto. Nem sequer tive um minuto para dedicar à minha mais recente conquista. Se calhar, porque a conquistei, sinto-a já conquistada e não me apetece falar-lhe - não hoje.
Hoje não quero nada com compromissos ou palavras de Amor. Hoje estou solto e livre e é meu desejo prolongar esta sensação pelo menos até ir dormir e amanhã acordar com todo o peso da solidão a tolher-me os movimentos.
Em dias como o de hoje, dia de papagaios e caturras apaixonadas na estupidez de uma carícia que se faz violenta em excesso, gosto de sentir-me assim, livre, solto.
Talvez seja já tarde. Não será esta prosa porventura tão honesta como seria desejável. Porque sim, porque hoje estive e estou só, só que estive só e estive acompanhado.
Hoje foi dia de amigos, antigos, novos, e dia de liberdade, como só os amigos nos podem proporcionar. Os verdadeiros amigos só nos exigem que estejamos presentes e que gostemos das mesmas coisas que eles e acima de tudo que não sejamos hipócritas. É por isso que gosto tanto de estar só com os amigos.
Hoje foi dia de crocodilos e de McDonalds. Hoje foi dia de andar às voltas a cronometrar as rondas do segurança no Zoo, na esperança vã de que chegasse no preciso momento em que galgávamos a passagem encerrada do carrousel, só porque nos dá gozo chateá-lo.
Hoje foi dia de febras com arroz e batatas fritas de pacote, acompanhadas por um jarro de barro de vinho da casa e uma empregada de mesa ucraniana.
Hoje foi dia de folga. Dia de folga de tudo o que me pressiona, de tudo o que me faz pensar, foi dia de folga e foi um dia saudável. Pequeno-burguês, como se dizia na terminologia dos meus avós e até por isso mesmo um excelente dia saudável, na risota com amigos novos e antigos e em liberdade.
Um dia de folga no zoo com amigos e a liberdade a escorregar-se das mangas do casaco até se vir esfumaçar no preço dos hamburgers com vista para os crocodilos do Nilo do McDonalds.
Hoje foi também dia de estrada. Foi um dia de tantos carros, tantas vidas que se cruzam jamais se tocando. Tantos carros, tanta gente, Almada cheia, a Cruz de Pau feita ovo, Lisboa com espaço para estacionar e no Zoo um perfume de juventude, a amigos novos e antigos que me aceitam e que me tomam por um deles sem me exigirem mais do que a minha boa disposição e a cumplicidade de UMA VIDA feliz. Hoje foi um dia de camaradas.
E como tudo na vida, sempre que hoje é um dia de camaradas entre rapazes amigos novos e antigos, hoje foi também um dia de milfs. Também foi dia de milfs como o são todos os dias no zoo, iniciando amigos novos e antigos no sempre renovado prazer de apreciar até à exaustão como são apetitosas à vista e sempre foram as novas mães casadas de fresco.
E não só. Hoje foi dia de book fotogénico de brasileiras mulatas vestidas de mini-saia e sapato estilete. Que nos cortou a respiração em mais de uma ocasião antes de o cinismo próprio a amigos novos e antigos se manifestar em sonoras gargalhadas.
Hoje foi mais um dia. O mais importante deste dia, é que tu voltaste. Voltaste amarga. Voltaste com os sonhos embrulhados na tua mais recente úlcera. Voltaste e tocas-me outra vez. Fazes com que anseie por te abraçar e te proteger. Fazes com que deseje que não estejas assim, que estejas feliz como eu estava. E então, pois, hoje é noite de sonhar com um rio que morre à beira Mar.
ESTA NOSSA HISTÓRIA. ESTA É A NOSSA HISTÓRIA.
Passemos agora para o teu tema principal. O Amor. O Amor de um homem por uma mulher.
Fica já sabendo que um homem cativo nas garras do Amor não passa da metade de um átomo que corre em busca da metade que o complementa. Como saberás um dia, torna-se cómico QUANDO UM HOMEM se vê a tal ponto enredado na fantasia que se deita a correr em busca da Mulher, provando assim, contra as expectativas, que no final de contas o Homem que sempre se julgara superior não passa de uma ínfima metade do Ser Humano. E por que razão nunca se tinha o homem lembrado de que era tão incompleto? Porque nunca tinha amado, é óbvio.
Mas, não te olvides, a Mulher está na zona do relativo. A idealidade que o homem lhe atribui é uma total ilusão. E ainda bem, porque senão tu poderias desaparecer engolido na vertigem das emoções ideais que essa Mulher te proporciona.
Conselhos tenho poucos para te dar.
No fundamental deves agir da seguinte forma:
... diremos sempre que sim a tudo quanto ela desejar. E procurarás descobrir todas as graças dela; porque só assim, terás, tu, graça para ela. E nada se pode imaginar de mais maravilhoso, de mais encantador, do que quando ela se sorri do nosso arrebatamento e nos pisca o olho porque sabe que nos faz feliz.
Tal, meu velho amigo, é a tentação que a mulher representa. Uma vontade tão profunda que te chegará a doer. É o melhor dos frutos mas é também aquele que nunca irás saborear. Ficarás preso, sem dúvida, no seu olhar que fere como um punhal, como uma rica adaga de prata debruada a rendas douradas.
Ela é tudo e é nada ao mesmo tempo; despreocupada como o vento, serena como a profundidade do mar, ela é tudo mas sem ti nenhum de vós é nada.
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Nenhum homem que não tenha amado é capaz de conceber tudo isto. Ou melhor, só um homem que a ame como tu amas a pode pensar e sentir e viver e desabrochar e... Por fim, morrer, tal como eu já morri e tu ainda não, o futuro se encarregará de to dizer. Seja como for, nada temas, se assim morres essa não poderá deixar nunca de ser – Uma morte feliz.