5.1.07

Oração fúnebre



“Sou, ou melhor, era (pois é esse o estilo que agora devo utilizar ao falar de mim próprio, que me encoraja a expressar melhor os meus sentimentos), era, repito, um homem de disposição moderada, domínio de temperamento e humor aberto, mas pouco susceptível à inimizade, e de grande moderação em todas as minhas paixões. Mesmo o amor pela fama literária, a minha paixão dominante, nunca azedou o meu temperamento, não obstante as frequentes desilusões. A minha convivência não era desagradável aos jovens e descuidados, como também aos estudiosos e instruídos. E como tinha um especial prazer na companhia de mulheres recatadas, não encontrei razões para ficar desagradado com a recepção que da parte delas encontrei.

Numa palavra (…) Os meus amigos nunca encontraram ocasião para reclamar em qualquer circunstância do meu carácter e conduta; não que os zelotas, podemos bem supor, não tivessem ficado contentes por inventar e propagar alguma história que me fosse desvantajosa, mas nunca conseguiram descobrir nenhuma que julgassem gozar de plausibilidade. Não posso dizer que não há vaidade quando faço esta oração fúnebre de mim próprio, mas espero que não seja deslocada, e esta é uma questão de facto que facilmente pode ser esclarecida e certificada.”


David Hume, 18 de Abril, 1776.


Tradução via Lado Negro da Lua.