2.4.09

Ecco, è finito



Edgar P. Jacobs, «A Armadilha Diabólica»
Post-scriptum: O Lado Negro da Lua fecha hoje as suas portas. Em tempo blogosférico, três anos ainda é alguma coisa e ao fim desse tempo chegámos à conclusão de que o o blogue cumprira os seus objectivos e de que pouco mais lhe podíamos adiantar. Apesar de ter nascido fruto de uma dor intensa, este espaço teve momentos de muita alegria e de profunda partilha intelectual. Ou melhor: gostámos. Muito. Agora, vamos fazer outras coisas. Os que as desejarem conhecer deixem recado na caixa de comentários (a moderação está actividada e os vossos dados não serão tornados públicos). Bom dia a todos e até sempre.


31.3.09

Out of time



So, what now? Well, not much, i guess, that's the way it is, not much i can do. You're out of time? Yup, that's it, completely out of time. Come, let's go and check the birds. I'm out of time, i tell you, you know that. No way, mate; make time. That's an order and besides you said it yourself: there must always be time for birds.

Pensamento do dia


Mesmo que o mundo te diga «desiste», se a esperança te sussurar «tenta mais uma vez», não tenhas medo de o fazer.

Autor desconhecido

30.3.09

E vão três



O camarão é para mim. O scotch, o champanhe e a cerveja não há, porque (chuif, chuif) estou a toque de antibióticos. Aos leitores, a todos, e em particular aos fellow bloguers Pseudo, Expresso do Oriente, Robina (onde andas rapariga?), Lorde, Funes e por aí fora, um excelente dia.

28.3.09

The right stuff



(...) Portanto, tendo em conta o que lhe disse, como se chama um agrupamento de palavras, ou lexemas, como este? É uma combinatória lexical. Óptimo, não se esqueça da terminologia, voltaremos a ela, entretanto, esta sua combinatória em particular, parece-lhe acertada? Não. Porquê? Porque não é comum, tem uma formulação imprecisa e não serve o propósito que devia servir. Nomeadamente? Nomeadamente que o leitor percebesse a minha argumentação, este é um texto expositivo. Certo. Não se esqueça de que as combinatórias existem por uma razão: elas possuem uma função, que é a de facilitar a compreensão e a empatia com o leitor; por isso deve para já usar combinatórias que sejam familiares e não estas 'coisas' que escreve, mas isso só por si não basta, certo? Certo, as combinátórias devem ser correntes mas necessitam também de ser coerentes para com o sentido comunicativo que ajudam a concretizar. Correcto. Bom, combinatórias lexicais já está e ainda temos tempo para fazer umas flores, viu que combinatória feliz? Vi, senhor Lúcio, "fazer umas flores", mas, hum, é pouco comum. Funciona ou não? Funciona. Isso, fazer umas flores, habitue-se às combinatórias lexicais e a pensar nelas antes de escrever porque a elas voltaremos nas suas próximas dissertações. Como ainda temos 20 minutos, passemos agora para as cadeias referenciais; inicia este parágrafo utilizando a palavra, o lexema, já agora, «esta». O que é e para que serve o lexema «esta»? É um pronome demonstrativo. Muito bem. Para que serve? Serve para demonstrar algo relativo ao nome. É por aí, é por aí, mas, em linguística funcional, os pronomes demonstrativos, esta, aquela, esse, etc, enquadram-se numa categoria de lexemas mais abrangente cujo conhecimento e domínio é fundamental para a coesão de qualquer texto. Devidamente enquadrados e interligados entre si, os referentes constituem uma CADEIA REFERÊNCIAL. Já lhe explico. O pronome «esta» é um REFERENTE da cadeia referencial. Tem como intuito fazer referência a algo sobre o qual falou no parágrafo anterior e que pretende retomar no presente páragrafo. Então, e em relação ao parágrafo anterior, onde fala de tantas coisas e de tantos atributos das coisas, a que é que o lexema «esta» se refere, ao certo? Explique-me, sou todo ouvidos... (...)

27.3.09

Looping

Birds we are
and fly is our bid
you're my star
and i'm your kid



Birds we are
we may fly...

Or we may stumble
and crash and rumble
and even die.

Shall we try?

Olhos postos em Melbourne



O grande circo está de volta e logo na primeira sessão de treinos livres Hamilton é apanhado a comunicar via rádio com a sua boxe: 'The car's bottoming out, I can barely see the marker boards.' De volta à pista, a velocidades de 300 km/hora, o jovem lobo Rosberg e o veterano Barrichello discutem o tempo mais rápido.

26.3.09

The right stuff



Então, Jorge, na sua opinião do que acaba de ler quais são as marcas que definem o 'estado de espírito' do narrador, do sujeito poético, não se esqueça dessa, do texto que acaba de ler?.. Significa um insulto, senhor Lúcio. Um insulto, hmm. A quem, onde, como e porquê? Um insulto a Camões, na Lisboa do século XVI, porque escreveu uma obra controversa e como não sei, tinha inimigos, senhor Lúcio. Muito bem. Diz você que é um insulto mas, baseado no texto, essa era a pergunta, exemplifique Jorge, exemplifique. Tem cinco minutos a partir de agora.

List der Vernunft - versão final



Tenho de te confessar. Não gosto de gajos como tu. Não gosto, pá. Para começar, tu foste à faculdade e eu tive de me contentar com a universidade da construção civil. Depois, tu tens guito e eu não. E, para cúmulo, como os teus amiguinhos não são trolhas tu resolves tudo com duas penadas e já eu fico sempre na merda. Não, pá. Não gosto mesmo nada, nadinha de gajos como tu que olham de raspão para textos como este e que tiram a pinta a um gajo após lhe lerem não mais do que duas palavrinhas.

Nunca gostei de gajos como tu. Sabes o que é? É a escola das obras, pá. Ensinou-me a não gostar de gajos como tu que, do alto das suas confortáveis chaise longues à séc. XVII e enquanto beberricam um whiskizinho de malte, com três frases bem construídas dão cabo dum homem sem ao menos terem ido além da segunda palavra que lhe leram.

Sim, porque tu és culto e sabes muito bem que ao whisky bom os escoceses guardam-no para eles e que essas merdas que vemos aí à venda é tudo zurrapa a fingir para dar à parolada aquele feeling de que até são gente com G maiúsculo, quando o que são é uns pobres diabos todos os dias manipulados e remanipulados até à exaustão por tipos como tu.

Qual Chivas Regal, qual Ballantines, qual caralho. Não, filho, tu és um gajo culto e tens dinheiro. Por esse estreito só passa zurrapa de requinte. Glenmorangie, Glendifich, Isle of Jura, Talisker e assim que para mim sobra o VAT69 acabadinho de destilar em Sacavém e que eu lá tenho de ir buscar, não à tua prestigiosa garrafeira que remonta ao séc. XIX mas ali ao LIDL, acabadinho de abrir a pensar em gajos como eu.

É assim mesmo, não é meu? Vês como eu leio a tua e a minha situação tão bem? Já viste esta, olha-me este tipo, pensas tu, olha-me este Lúcio, este Lúcio o quê? Olha-me este, mas tu alguma vez vais ler uma bosta qualquer escrita por um gajo chamado Lúcio não sei das quantas? Não, pá, já me tiraste a pinta, e basta, não é? E depois, ler dá tanto trabalho, caramba, já viste a canseira que não é?

Para quê é que hás-de ler o que diz um matarrulano da construção civil que assina Lúcio Ferro? Lúcio Ferro, pois, pois, o que um gajo que assina Lúcio Ferro quer é figos, figos e mais nada, o grande espertalhão, o grande vivaço. Pois, pois…

Acertaste. Pois quero meu, julgavas que os figos eram todos só para ti e para os que são como tu?.. Isso é que era bom meu, porque é que hão-de ficar os figos todos só para ti? Pois, pá, é assim mesmo, um gajo das obras quando lhe dá na mona para andar à pantufada com a cabeça é uma chatice. Uma chatice das grandes. Arma-se cá um escarcéu… Mas não te vás já embora, aguarda que estou até aqui contigo e ainda mal comecei. Tem calma filho, tem muita calminha que hoje vais aprender umas coisas que até te podem vir a ser úteis. Quem sabe.

Eu sei, o que tu desejavas fazer era mandar à merda, claro, esses gajos das obras são todos uns borcejos indistintos, sem tirar nem pôr, ler um é lê-los a todos, puta que os pariu, não tens tempo para isso, são uma merda os gajos e tu e os que são como tu sabem isso perfeitamente. Perfeitamente ou ferpeitamente, consoante a zurrapa, não é isto verdade?

Não, pá, a verdade é que os gajos das obras te dão muito jeito quando queres instalar a marquise nova ou a retrete se te entupiu, aí até que és todo pleno de mesuras com a malta, não vá um gajo regar-te a tampa da sanita com ácido sulfúrico, só pelo gozo característico dos borcejos, fora isso, distância que essa gente é muito pouco recomendável, não é meu grande rapazola?

Eu percebo-te, pá. Tens muito mais que fazer e ler dá-te muito trabalho. Não te esqueças é que escrever ainda dá mais. Se bem que isso, isso tu até já estejas farto de saber, claro, e quando precisas resolves um “problema de leitura” sem espiga de maior e os teus figos até te cantam loas. É tão fácil, não é? Vais ali à estante que os teus avozinhos te deixaram de herança mais o sangue azul, e zás, toma lá Tolstoi, zás, toma lá Hemingway, zás, toma lá Eurípedes, zás, toma lá «List der vernunft», que com essa é que quilhas a malta toda, fica tudo sem dormir a matutar no que «List der vernunft» queira dizer… List der vernunft? Ora porra, nunca ouvi falar, quem é este trolha?

E depois, tu até tens uma estante tão bonita e tão bem recheada com os clássicos da Filosofia, da Pintura, da Literatura Universal! Os teus figos derretem-se todos com a tua erudição, não é, meu? Pois claro que sim, claro que se derretem, não é?

Não pá, estás equivocado, eles não percebem as tuas «erudições e como não te percebem as «erudições» esses figos não te chegam, mas tu acabas por não ler bem a coisa e depois vens mandar umas bocas, verniz com os porcos, à Silvester Stalone da Literatura de cordel e como os teus figos não te chegam, não sabem a nada, sentes-te mal pá, sentes-te mal e sentes a bílis, e é uma chatice e então, pimba, malhas no trolha, quem é que esse filho da mãe julga que é? Quem?!?

Olha-me esta, um trolha de merda a bater-se a figos doces que até eu gostava de comer, mas não tenho arte ou habilidade para o fazer…

Pois é pá, não lês bem a coisa e entretanto deixas de ler por completo. Julgas que um gajo só tem de ler as cotações da bolsa e o Expresso aos fins-de-semana e depois, olha, «é assim», como diz a malta que tanto desprezas.

Ler que leiam os outros, não é filho? E de preferência livros de meretrizes ou alternadeiras ou carolinas ou o diabo que os carregue que é para ficarem sossegadinhos, muito sossegadinhos, muito, enquanto tu e gajos como tu tocam esta porcaria de país para a frente (oh, como é bom ser da elite, como é bom nascer em berço de ouro, n'est-ce pa?), que a Literatura para as massas é a das meretrizes ou a das meretrizadoras e assim é que é bonito e tu tens mais o que fazer.

Mas olha que, se calhar, se calhar incorres em erro, meu. As aparências desiludem. Às vezes é precisamente nos livros de meretrizes que tu podes encontrar o mais fiel retrato do mundo em que vives e olha que os trolhas não são tão parvos como parecem. Julgas o quê? Julgas que tiras assim a pinta aos gajos, com essa arrogância, com esse teu desdém blasé de quem tem amigos bonitos, de quem tem uns dinheiros, de quem tem uma estante recheada de séculos e séculos de sabedoria?

Põe-te fino meu, olha que os gajos não são parvos de todo e uma coisa que os gajos sabem, lá está, sabedoria que não se aprende nos livros, é que «quem não se sente não é filho de boa gente.»

Põe-te fino meu menino, por cá ainda anda tudo entretidinho a jogar aos figos amargos, mas vê bem os gajos lá do Médio Oriente? Tu estás a ver o filme, estás? «Full Metal Jacket», dá-lhe «Full Metal Jacket» e se for só isso vamos cheios de sorte, apre!
E os bacanos em África? Como é que é? Ora diz lá, como é que é, meu? Por enquanto estão a dormir mas, se resolvem acordar? E já nem te digo nada dos chineses, quando esses gajos se lembrarem de que têm o mundo pelos tomates não vai haver «List der vernunft» que nos safe, podes crer…

Pois é pá, é uma merda, estou cansado, acarretar massa para os caboucos dum armazém por construir cansa, são seis da manhã e vê lá que ainda não fui dormir à conta da tua malfadada “List der vernunft” e à pala da ligeireza com que tu lhe passas esses delicados ovinhos por cima. Vou deitar-me é isso, vou deitar-me que o meu mal é sono e tu, quando acabares de ler isto, levanta mas é o rabiosque da poltrona e vai ler a tua mulher.

É uma merda, ler esse livro, não é? É como os outros, aliás. Dá trabalho. E até já o leste tantas vezes, como os outros, aliás… Estás ver bem o frete que é ler um livro que já leste um mar de vezes?.. Dá uma trabalheira dos diabos, não é verdade?

Mas olha que a tipa gosta que a leiam, pá. Por enquanto, a gaja vai-se conformando e aceitando que ao invés de a leres lhe dês perfumes caros e umas fodazitas ao fim-de-semana. Mas põe-te a toques, meu. Não tarda muito os perfumes perdem o odor e as fodas a graça e ela gosta mesmo é que a leiam. Gostam todas, todas as que valem a pena, já devias saber isso, e olha que a tua gosta de ti e quer que sejas tu o bibliotecário. Se te demites dessas funções, mais tarde ou mais cedo estás lixado. Por isso, não te esqueças, vai lê-la. Só te digo, se não o fizeres, quem ainda o faz sou eu, com ou sem "List der vernunft" de permeio. Com ou sem “list der vernunft”. Entendido?

Entre uma missão e outra



Ao longo da vida falhei inúmeras vezes. Falhei no casamento, falhei na amizade, falhei na profissão. Falhei até naquilo em que mais ambicionava ser bem sucedido e onde fico sempre aquém do que ambiciono. A minha riqueza é essa, sou rico em falhancos. É por isso que me dá tanto gozo viver. Se não fosse um falhado nunca poderia ambicionar ser bem sucedido.

Pensamento do dia



Incomoda-te que fale abertamente das amantes que tive? Não, pelo contrário. Como assim? Essas mulheres todas desempenharam um papel na tua vida e agora desempenham outro na nossa. Hã? Essas mulheres que tiveste, meu querido, prepararam-te para mim.

Countdown - 3

Amigos, Universidade de Birmingham, Março de 2006

Somos amiúde criticados pelo facto de não assumirmos aqui as nossas verdadeiras identidades e ao invés nos escondermos atrás de máscaras mais ou menos credíveis. Sim, claro que não me chamo Lúcio e jamais frequentei a Faculdade de Agronomia, da mesma maneira que o outro meco não se chama Helel e se há uma coisa de que não percebe patavina é de linguísticas, morfologias, etimologias et all. Para uns é absolutamente indiferente a nossa verdadeira identidade (para mim também o é, de certo modo, leio os outros não por quem são mas por aquilo que escrevem). No entanto, para outros, as máscaras causam alguma confusãoi Por exemplo, ainda há poucos dias a novel prosadora das emoções comentava polidamente comigo esse facto e na altura silenciei-me e nada adiantei. Ora, como entretanto O Lado Negro entrou nesta contagem decrescente resolvi vir então expor algumas das razões que nos levam a não assumirmos o nosso verdadeiro rosto. A verdade é mais trivial do que possam pensar e basicamente resume-se ao seguinte: somos figuras públicas com altos cargos ao serviço da Nação, aparecemos nos jornais com frequência, inclusive, para mal dos nossos pecados, nas revistas cor-de-rosa e por isso temos uma imagem a manter que não se compadece com certas coisas que por vezes aqui vimos vomitar. Essa é a razão principal, e esperamos que compreendam, mas há outras; também é um facto que nos esforçamos por não deixar nada ao acaso e, se eu sou Lúcio Ferro e o outro meco é Helel Ben Shahar, deve para isso existir uma razão, não vos parece?.. Fica pois, sobretudo para os mais antigos e fiéis leitores, um ponto de interrogação.