Li algures (acho que numa das citações do ThinkExist na coluna direita deste blog) que os melhores textos surgem dos pensamentos que temos na hora de escrever. Pois bem, seja. São agora 2:10 da manhã (agora quando escrevo, não agora em que publico). Acabei de me levantar da cama (ainda com os jeans, a camisola de lã azul, os sapatos pretos. Os sapatos pretos que precisam de ser engraxados, os sapatos pretos que estão velhos e a dar as últimas, os sapatos pretos que, apesar de tudo, são bastante confortáveis). Para variar, não tenho sono. Verdade seja dita, caro e amigo leitor, não devia estar sequer a escrever este bocado de prosa mal amanhada (mas, que fique entre nós, um segredo entre amigos). Devia estar deitado na cama com o discman a tocar incessantemente (Sérgio Godinho, Ska-P, Metallica, o que o estado de espírito exigir. Porque, ao fim e ao cabo, é o estado de espirito que nos governa. Mas isso é outra historia) até o sono levar, finalmente, a melhor. Infelizmente (para mim, pois para o leitor isto é totalmente irrelevante), parti hoje de manhã o discman, arruinando uma das minhas poucas distracções (além desta) quando me fecho no quarto à noite (feio todos os dias: tecto branco, paredes em azul claro, uma carpete que mete medo ao susto, cortinas cuja cor é-me tão misteriosa que nem a consigo identificar. Parece que estou preso num pesadelo expressionista. Não admira que o senhorio queira despachar a casa. Ai dele que me interrompa outro Domingo de sono para mostrar a casa a uns bifes quaisquer! Dou-lhe um chuto no cú com tanta força que volta recambiado para a India!).
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Peço desculpa pelos tantos parêntesis que vêem neste texto (alguns chamar-lhes-iam oblíquos não obrigatórios: informação desnecessária, mas que sempre dá cor ao texto. Eu chamo-lhes parêntesis, é mais fácil) são a minha mente a funcionar. Nunca há um pensamento só, há sempre mais, há sempre um a interromper outro que, por sua vez, se veio meter na conversa entre outros três (Ah, meu rico discman! Pelo menos tu mantinhas-me concentrado numa só coisa: a música. Pelo menos tu mantinhas-me distraído no meu regresso a casa, de segunda a sexta, sempre à uma da manhã, após dois dedos de conversa virtual... mas sempre aprazível e desejável).
Sendo assim, peço ao leitor que os ignore, pois a questão fulcral deste texto, o âmago, the kernel, é o seguinte: quando é que esta cadeira que tanto balouça sobre as suas quatro frágeis pernas se parte, fazendo-me cair estrondosamente sobre o traseiro?
Yep, não devia estar a escrever isto. Devia estar a aproveitar a minha súbita insónia para adiantar a tradução da Pat. Ou pensar no trabalho sobre Trados e Machine Translation para o Pete. Ou adiantar a oral de Espanhol do David (e, diga-se de passagem, sou sublime orador, um prazer de ouvir, um deleite para o ouvido atento). Ou, em último caso, podia estar a fazer os trabalhos para a Ana Teresa. (Felizmente, preciso tanto das aulas dela como de um tiro na cabeca, pelo que decidi baldar-me). Podia até estar a ler o Trainspotting, o Schinddler’s Ark ou o 80 poemas de Emily Dickinson. Ou, quem sabe, a trabalhar noutro poema, visto que é a minha nova quirk. Mas, não. Sou demasiado preguiçoso. Poder-me-iam dizer que sou “Brilliant, but lazy.” Porém, para o “brilliant” que sou, não me devia dar ao luxo de ser tão “lazy.”
Enfim! Mas, devo confessar, gentil leitor, não julgue que recebo a sua atenção com ingratidão, que gostei de escrever estas linhas. Sem pressão, sem ritmo, sem lógica. Sem qualquer pretensão de torná-lo profundo, universal, filosófico, complexo. Só eu, a caneta, uma mente vazia e um quarto que tende a ganhar o cheiro da comida asquerosa do meu housemate. Sem o peso da razão sobre os ombros cansados, sem lixo sentimental a toldar-me o raciocínio, a minha orgulhosa frieza e presunção intelectual.
E assim se passa mais um dia, uma noite, uma hora, um segundo, uma vida. Tempos estes que provam ser aborrecidos quando se decide ficar uns tempos sem fumar, quando não há álcool em casa (a não ser a porcaria do Lambrini quase sem gás), quando não há programa para se sair à noite. Quando um cretino desastrado como eu tropeça no fio e parte o discman.
Crap! Tenho mesmo que comprar outro discman.
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Peço desculpa pelos tantos parêntesis que vêem neste texto (alguns chamar-lhes-iam oblíquos não obrigatórios: informação desnecessária, mas que sempre dá cor ao texto. Eu chamo-lhes parêntesis, é mais fácil) são a minha mente a funcionar. Nunca há um pensamento só, há sempre mais, há sempre um a interromper outro que, por sua vez, se veio meter na conversa entre outros três (Ah, meu rico discman! Pelo menos tu mantinhas-me concentrado numa só coisa: a música. Pelo menos tu mantinhas-me distraído no meu regresso a casa, de segunda a sexta, sempre à uma da manhã, após dois dedos de conversa virtual... mas sempre aprazível e desejável).
Sendo assim, peço ao leitor que os ignore, pois a questão fulcral deste texto, o âmago, the kernel, é o seguinte: quando é que esta cadeira que tanto balouça sobre as suas quatro frágeis pernas se parte, fazendo-me cair estrondosamente sobre o traseiro?
Yep, não devia estar a escrever isto. Devia estar a aproveitar a minha súbita insónia para adiantar a tradução da Pat. Ou pensar no trabalho sobre Trados e Machine Translation para o Pete. Ou adiantar a oral de Espanhol do David (e, diga-se de passagem, sou sublime orador, um prazer de ouvir, um deleite para o ouvido atento). Ou, em último caso, podia estar a fazer os trabalhos para a Ana Teresa. (Felizmente, preciso tanto das aulas dela como de um tiro na cabeca, pelo que decidi baldar-me). Podia até estar a ler o Trainspotting, o Schinddler’s Ark ou o 80 poemas de Emily Dickinson. Ou, quem sabe, a trabalhar noutro poema, visto que é a minha nova quirk. Mas, não. Sou demasiado preguiçoso. Poder-me-iam dizer que sou “Brilliant, but lazy.” Porém, para o “brilliant” que sou, não me devia dar ao luxo de ser tão “lazy.”
Enfim! Mas, devo confessar, gentil leitor, não julgue que recebo a sua atenção com ingratidão, que gostei de escrever estas linhas. Sem pressão, sem ritmo, sem lógica. Sem qualquer pretensão de torná-lo profundo, universal, filosófico, complexo. Só eu, a caneta, uma mente vazia e um quarto que tende a ganhar o cheiro da comida asquerosa do meu housemate. Sem o peso da razão sobre os ombros cansados, sem lixo sentimental a toldar-me o raciocínio, a minha orgulhosa frieza e presunção intelectual.
E assim se passa mais um dia, uma noite, uma hora, um segundo, uma vida. Tempos estes que provam ser aborrecidos quando se decide ficar uns tempos sem fumar, quando não há álcool em casa (a não ser a porcaria do Lambrini quase sem gás), quando não há programa para se sair à noite. Quando um cretino desastrado como eu tropeça no fio e parte o discman.
Crap! Tenho mesmo que comprar outro discman.
2:47, over and out.
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