23.1.07
História por contar
A história que vou contar passou-se há uns dias atrás e ainda não dormi só a pensar que histórias como esta merecem ser escritas, contadas a toda a gente, divulgadas, circuncidadas pelo crivo crítico das massas, sem dó nem piedade, só para que percebam que histórias como esta não sucedem propriamente por acaso, mas antes são fruto de uma vontade, de uma tal sorte, de um tal querer, de um tal desejo de posse de escrita que não se escreve, jamaiss se escreve, antes se relata, assim, sem vaidades, sem ambição, sem quiásmos, mas antes com um enorme e irracional desejo de partilha.
Um desejo de me dar a ti antes que seja tarde, antes que fujas e que te percas no mundo do sono que te consola das frustrações do quotidiano e que faz com que não me leias, conforme, aliás, eu não te tenho lido a ti.
Esta, à semelhança de todas as histórias que valem a pena, é uma história como aquelas das quais a realidade deles, a realidade do teu marido e da minha mulher, se ufanam, histórias que não se dizem, que não se soletram, mas para as quais existoainda assim eu e existes tu, e eu digo-as e tu choras, e tu afirmas e eu quebro, sem jamais delas nos aproximar-mos, são histórias tornadas reais por inspiração divina, histórias como esta jamais voltarão a ser relatadas, ó mortais, esta história que vos apresentamos, esta é uma história com H grande.
Esta é uma história banal, e em simultâneo é uma história fantástica.
Leiam com atenção que valerá o tempo que ganham a lê-la. É uma história brilhante e mete gajos bons. E gajas boas. E carros vermelhos e palácios cor de rosa. Não mete foda porque isso é porn e a porn de per si não fica bem numa história extraordinária. Mas tem jogo, tem ciúme e desejo e amor carnal nunca consumado.
E intriga quanto baste, bem como perigo a rodos para os principais protagonistas. Já para não mencionar que também joga com a morte e com a vida. E que te deixa a boca seca e os dedos a tremer antes de te ires embora e te faz virar a página impaciente de terror macabro que nunca chega para satisfazer a ansiedade que tens em ti e que nunca resolverás porque não é teu mister resolve-la.
Esta é… A Tua história. E a minha. Meu amor.
É uma história que me contaram a mim há coisa de uns dias atrás, foi um vagabundo qualquer ou se calhar foi um professor universitário ou terá sido um proxeneta ou uma prostituta, nada disso já importa, visto que a história, a história em si, é tão fabulosa, tão fora do vulgar, tão inédita, a tal ponto transcendente que nem eu próprio, calhado desde a infância para histórias maravilhosas, quis nesta história em particular, eu um homem que tantas histórias contou e viveu, nesta história que nunca li, que nunca escrevi, que nunca ninguém me contou, quis, nesta história que é a tua história e que é a minha, nesta história que nunca ninguém te contou, que nunca leste, por fim, enfim, como deve ser, sem meias medidas e a ler a correr - nela, na história - ACREDITAR. Meu amor.
Mas hoje, uns dias após ela me ter sido contada, uns dias após a ter ponderado e reflectido, devo dizer-te que é verdadeira, que é genuína e o mais engraçado é que se passa de verdade! Nunca me passaria pela cabeça que assim o fosse! Meu Deus, ainda agora, já repousado, comido, bebido e dormido, sinto-me chocado com o teor da brutal revelação que a história me impôs; com a sua magnitude, as suas implicações, as suas verdades amplas e mesquinhas; os seus desígnios cruéis e beneméritos; as suas vilezas e os seus prazeres, enfim, é a nossa história que se faz de história histórias, que não sendo minhas não são tuas nem de quem primeiro a contou e ao mesmo tempo, por uma estranha magia da escrita, se fez duma história por dizer a história que sendo de todos nós é só nossa e não é de mais ninguém.
Esta é a História. O resto conto-te depois.
For Ana Blue.
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