31.7.07

Pensamento do dia



"As bebidas alcoólicas podem ajudar doentes, que estão para morrer, ou os que vivem deprimidos. Esses, bebendo, não se lembram mais da sua pobreza e da sua miséria."


Bíblia Sagrada, Provérbios, 31: 6/7

29.7.07

Matrimónio


... Um dia depois, foram ao juíz e casaram. Ela comprou uma canoa cor de laranja na qual davam longos passeios no Mar azul. Observando-se timidamente diante das faces ardentes do Sol e do Oceano. Escutando-se no rumor do rio e amando-se na sombra da água. Tinham medo, mas não tinham, tinham sonho e tinham pesadelo.

Todos os dias, invariavelmente, decidiam separar-se e todos os dias, invariavelmente, se viciavam ainda mais e mais um no outro. Ele começou então a ler com clareza, como se tudo o que estivesse para trás apenas fosse uma preparação para o que enfim lia, o livro que era o livro da vida. Tinha esperado longamente pelo Amor de uma Mulher. Mas, e se não tivesse sido feito para o Amor? E se não fosse tudo apenas mais um desengano? E se não fosse tudo mais e apenas mais um trágico e cómico erro?

Ela, por sua vez, era infinitamente mais subtil do que ele e sabia que o seu amor se afadigava em demasia nesses pensamentos que, de tão profundos, acabavam por ser risíveis.

Por fim, comovidos e ambos livres e belos na sua mútua alegria, compreenderam finalmente que tinham nascido para se encontrarem e que só assim poderiam conceber as suas vidas de uma maneira feliz.

PS- Este texto, fui eu que o escrevi, corria o ano de 1991. Já andou por aí e deu uma volta de 180 graus até cá chegar.

28.7.07

Pensamento da noite


















If love is blind, what is the purpose of lingerie?


Autor anónimo.

Hard drive



Queres o quê?!? Álcool, álcool às 10 horas da manhã?!? Não achas que é cedo de mais para isso?.. Tem de ser? Ok, pronto, ok, bora lá tratar disso. Que foi agora? Que mais é que tu queres, o quê? Pastilhas?!? Tu queres pastilhar, pá? Queres pastilhas, ó meu sacana, pastilhas?!? Tu deves pensar que eu sou rico para ter ainda de ir comprar pastilhas, só pode! Tem mesmo de ser?... Ok, pronto, também te trato disso, não quero que te falte nada, sabes muito bem disso. Mais alguma coisa? Um olezinho? Um oleozinho?!? Tás doido, queres meter essa merda toda, agora?!? Não preferes antes bolota ou polén? Não?.. Tem de ser óleo, óleo do bom? Ó, pá, pode ser, mas nesse caso tens de vir comigo a Lisboa, só nesse caso, ok? De acordo?.. Vamos lá então, estás pronto? Calma, já vamos ao álcool às pastilhas e ao resto...
……….
Bom dia amigo. Bom dia, diga? Pastilhas, aqui para o sacana, sabe onde é que posso arranjar? Disso não tenho, lá à frente, há quem venda… E óleo; arranja oleozinho do bom?.. Lamento, também não há cá disso… Bom, pelo menos álcool tem, não é verdade? É como vê, disso tenho… Quanto é que vai ser? Olhe, pronto, meta aí 10 euros diesel, se faz favor, que ainda tenho de ir à procura de pastilhas para os travões e óleo para o motor…

27.7.07

Pensamento da noite



Acho imensa piada às pessoas que se queixam de que em Portugal se fode pouco e mal. Das duas uma: ou esses indivíduos nunca se cruzaram com pessoas como eu, ou andam com muita falta de foder...

26.7.07

On fire


Tal y cual como había madurado, terminé a las doce en punto. Bueno, en verdad, terminé a las once y cincuenta y nueve. Música, maestros.



Foto: Picasso

25.7.07

O rio vai desaguar

Que fixe. O rio, finalmente, está quase, quase a desaguar. Corre contra a montanha, do chão para o céu, mas está quase, quase a desaguar. Já não era sem tempo. O rio vai desaguar e eu quero tudo quando isso acontecer. Tudo. Tudo aquilo que me negaram a vida toda. É isso o que eu quero. Mais nada. Quero tudo o que me foi negado e se for intenção de alguém erguer diques ao rio eu vou lá estar e arrebento com tudo à chapada e ao pontapé se assim tiver de ser. O rio está quase, quase a desaguar.
……………

O Mar é já ali, e por trás do mar fica o Paraíso. Quem quiser vir comigo até lá, que venha, quem quiser ficar pelo caminho, que fique. Estou-me nas tintas. Mais vale só do que mal acompanhado. Não me voltam é a roubar aquilo a que sempre tive direito e que, umas vezes por culpa própria, na maior parte por culpa de outrem, me foi negado este tempo todo. Não. Acabou-se a brincadeira. Não me voltam a fazer a folha. Eu sou muito bonito, mas também sei ser muito feio. Não tenho culpa disso. Foram vocês, foi a vida quem me ensinou. Não maltrato ninguém, nem os bichinhos nem as plantas, o rio precisa delas para correr, mas quem se meter comigo é melhor que esteja ciente de que eu não sou bom de assoar; quem me trair é bom que saiba a tempestade que está a comprar.
……………...

Uma coisa óptima acerca de se ir contra às paredes é que ao fim de um certo número de choques se ganha um sexto sentido em relação aos obstáculos, até em relação àqueles que parecem invisíveis. Nada me veio de mão beijada. Foi sempre porrada e mal viver. Acabou-se. Estou farto. Tenho 36 anos e vou ser feliz. Só ou acompanhado. Prefiro acompanhado (afinal, quem não prefere?) mas se for só, then so be it.
……………

Não há porrada pior do que aquela que já levei ao longo da vida. E é bom – asseguro-vos - é muito bom levar na tromba assim, anos e anos a fio. É muito bom passar fome, à séria; é muito bom dormir na rua, à séria; é muito bom ir parar ao hospital, à séria. Ganha-se uma resistência do caraças. Survival of the fittest, como diria Darwin.
……………

Mas julgam que perdi a poesia? Julgam que perdi a capacidade de sonhar? Julgam que deixei de ser menino? Não, não deixei. Só que só o demonstro se o merecerem. Caso contrário, faço de mim o pior bandido que possam imaginar. Truques, esquemas, cinismos, violências, golpes sujos, conheço-os a todos, porque de todos fui vítima no caminho até aqui. Foderam-me de mil e uma maneiras mas acabei por escapar ileso e aqui estou e sabem porquê? Porque sou e sempre fui um menino, um menino que ama, que sente, que chora, que abraça, que ri, que se comove e que possui um coração enorme que acredita na bondade humana e no amor. E isso, apesar de tudo, continua a ser verdade. Mas também é verdade outra coisa: menino sim, parvo é que não.
…………….

Não, não me voltam a roubar. Que fixe. O rio, finalmente, vai desaguar.

24.7.07

Best of...



Prezados leitores. Aqui há uns tempitos (uma semana e meia) a malta de O Lado Negro da Lua juntou-se, foi jantar, fez uma orgia intelectual e tomou uma resolução. Foi mais ou menos assim: "Ó, eu não tenho tempo, people, caguei no assunto! Pá, eu também não tenho, caraças! Épá, eu não sei meu, por mim, vou tirando umas fotos e tá-se bem, palhas não palhas meto uma ou outra... Olhem, lindos, eu é que não tenho tempo nenhum, já me basta o meu patrão e a minha patroa e como é que ainda vos aturo aos três é que gostava de saber."

E a conversa arrastou-se, regada com um bom vinho tinto, neste tom melodramático de trazer por casa, até que alguém teve uma ideia interessante: "Com o material que já temos e como não temos nem tempo nem disposição, que tal se fizessemos uma retrospectiva, um best of desta droga?" A ideia foi bem acolhida. Tradução: ninguém cuspiu nem vomitou para o Lado. Na verdade, foi ponderada e aceite por todos. Assim sendo, O Lado Negro da Lua, de longe um dos melhores blogues de escrita criativa do nosso quarteirão da blogoesfera, inicia agora, uma vez por mês, a republicação dos seus melhores textos. O primeiro, para ler, ou se nos acompanham desde sempre, para reler, foi publicado em Abril de 2006. Chama-se: Murmansk.




Foto: Picasso

Update da hora de almoço


Incrível isto. Ainda mal comecei a primeira, já me estão a colocar outra à frente, com a particularidade de esta última ser bem, bem mais longa (300 p). Porra, eu sei que pedi, mas calminha, tá? Foda-se, agora tudo o que eu peço realiza-se em triplicado e em menos de um fósforo, é?.. Porra, que chatice pá! Por este andar ainda tenho de contratar pessoal, constituir uma firma, arranjar instalações e o carago! Diabos!... Bom, back to work e música, música para acelerar a coisa (ou não, não importa, o que importa é que sabe bem, sabe bem):

Pensamento do dia



Never judge a book by its cover. (First, check the pictures inside it).

23.7.07

Pensamento da noite

"I'm going to marry Elaine Robinson. Ha...Ha... Well - Well - Well... What's happening? Ben says he and Elaine are getting married. I don't believe it. That's what he says. Right? I'm going up to Berkeley today. Come on, let's call the Robinsons. We've got something to celebrate. No, I think you'll want to wait on that. They don't know? No - they don't. Well, when did you decide all this?

About an hour ago.

Wait a minute. You talked to Elaine this morning? No, she doesn't know about it.You mean she doesn't know that you're coming up to Berkeley? No. Actually, she doesn't know about us getting married yet. When did you two talk this over? We haven't.

You haven't?

Ben, this whole idea sounds pretty half-baked. No, it's not. It's completely baked.
It's a decision I've made."

Retrieved from: The Graduate.


In da house on fire



E pronto, não foram três cerejas, como pretendido, mas apenas duas acompanhadas de um morango, o que também não foi nada mau. De qualquer maneira, parece que continuo com o toque de Midas, pelo menos a julgar como o trabalho e o dinheiro vêm ter comigo. Seja como for, aqui estou, depois de umas mini-férias de sonho, com as baterias recarregadas, in da house, on fire and eager to rock. O mundo é a minha ostra.

17.7.07

Anormais, cônjuges e tomates podres


Boa tarde

Antes de mais, caros colegas, quero que saibam que foi um prazer partilhar convosco os últimos quatro anos da minha vida. Aprendi muito com todos e sinto amizade por todos e todas. Isso dito, passemos então ao que realmente interessa:

Como sabem, faço parte de um "grupo de anormais" (mas antes isso do que um "grupo de espertos") e, como faço parte de um "grupo de anormais", não tenho, regra geral, tempo para estar presente em jantares de grupos, sejam eles de grupos anormais ou de outro tipo. No entanto, e em relação aos diversos jantares que têm sido por vós colocados a debate, desde já afirmo e garanto sob palavra de honra que prometo estar presente em todos, mas todos eles, sem qualquer excepção. Palavra de honra!

Mas, claro, com uma condição prévia, obviamente: os referidos jantares têm que meter lutas na lama, mulheres aos berros umas com as outras, tomates podres e lavar de roupa suja, bem como troca de insultos malandrecos por parte das visadas. Sem isso, remeto-me à minha anormalidade e vou antes jantar com a "cônjuge", que bem precisa, a coitadita, que tanto a tenho negligenciado, entre outras motivos porque vocês me trazem assim, nesta angústia permanente sobre qual jantar deva eu honrar com a minha modesta presença.

Sem mais de momento, subescrevo-me atenciosamente,

Obrigado, atento e venerador,

Engº Lobo Solitário


Texto da autoria de: Lobo Solitário
Título: Helel Ben Shahar

15.7.07

Pensamento do dia


I'm sick to death of people saying we've made 11 albums that sounds exactly the same, In fact, we've made 12 albums that sound exactly the same.

Angus Young


Nem à bofetada...




Não te posso deixar dois minutos, sozinho, que estás logo de volta de um rabo de saia, és danado! Amor… Amor o tanas! Tu nem me fales em amor, seu desgraçado, até com a vizinha, até com a vizinha, essa porca feia e velha?!? Amor… Amor nada! Até com a vizinha, que tem quase idade para ser tua mãe? Maldito, és um cão danado, é o que tu és!.. Amor… Amor nada... Vou-te foder, meu lindo, vou-te montar até ficares seco, sequinho, mas tão seco que nem forças terás para olhar para outras mulheres... Vais? Vais?.. A sério, juras?.. Vou sim, meu cabrão, vou sim… O que é que tens aqui, o que é isto… O que é?.. É todo para ti… amor, todo… Todinho… Vou chupá-lo, vou chupar o teu belo calipo, anda cá meu cabrãozito, anda cá…

Pára… Já chega, vem, monta-me! Montar-te?.. Essa agora, montar-te?.. Não… Vou fazer-te sofrer, vou-te fazer sofrer muito… Monta-me, amor, monta-me!.. Calma querido… Calma… Ah… Que maravilha… Que maravilha que é o teu pau… Ai meu amor, és mesmo uma putazinha, uma putazinha deliciosa…Tem cuidado com o que dizes… Olha que ainda ficas a chuchar no dedo, meu cão! Meu cão selvagem! Está quieto, cão! Não te mexas, não te mexas!..


Tão bom… Tão bom quando me montas… Tão bom…Cala-te cabrão, cala-te!
Fode-me, puta, fode-me! Está calado…ah… Cala-te… cala-te…
Bate-me, bate-me, esbofeteia-me! Mostra-me quem manda aqui, mostra!.. Queres levar, queres levar na cara, queres?.. Quero, quero, bate-me, bate-me! Toma, cão, toma! Toma!.. Mais, com mais força, esbofeteia-me, mais! Toma! Toma! Meu amor! Minha perdição! Toma! Toma!.. Ah… Oh… Mais… mais… Toma, toma, anda, vem-te comigo… Amo-te, amo-te… Vem-te comigo!..

………………………………………

Gostaste, querida? Gostei, meu amor. Desculpa ter-te batido… Não faz mal… Até que gostei das tuas bofetadas… Para a próxima, sou eu quem te bate, sim? Sim… Tudo o que tu quiseres. Amo-te. Olha… A propósito… Vamos dar outra linda, vamos? Já?.. Sim, vá lá, please… És incorrigível, meu sacana, és incorrigível, nem à bofetada tu tens emenda. Nem à bofetada, vá, dá-me um beijo na boca.

13.7.07

Tintin, o mundo e os filhos da puta



Comecei a ler Banda Desenhada muito jovem. Por volta dos 12, 13, já tinha lido o Astérix, o Tintim, o Lucky Luke e o Blake and Mortimer, entre tantos outros. Essa paixão pela BD sobreviveu à maturidade de outras leituras e a BD continua a ser para mim um género gráfico-literário da maior importância. Aprendi mais no Astérix (no antigo, não na merda que vem depois da morte do Goscinny) acerca da sociedade e dos costumes e da hipocrisia, do que em qualquer outra obra literária. Corto Maltese, por seu turno, ensinou-me a poesia, ensinou-me a aventura, ensinou-me o valor da amizade e transmitiu-me plenitude emocional. Ao Pato Donald e à Margarida fui buscar muitas noções sobre o amor; ao Tio Patinhas e aos sobrinhos, outras tantas sobre a família; Mortimer ensinou-me a importância do espírito crítico e Blake o fair-play dos genuínos cavalheiros.

Aqui há uns anos atrás, uns cabrões quaisquer tiraram a Lucky Luke o seu cigarro e colocaram-lhe uma palhinha à hillbilly atrasado mental na boca. Chateou-me, mas o Luke nunca foi um dos meus heróis favoritos. Agora, leio aqui, e confirmo aqui, que querem banir o álbum de Tintim, intitulado: “Tintim no Congo”. O argumento é quase o mesmo que usaram para “desfumigar” Lucky Luke; dizem que este álbum de Tintim oferece um retrato “racista” dos negros com os quais o herói interage.

Eu sempre tive amigos pretos ao longo da vida. Até cheguei a levar nos cornos por causa disso (há sempre alguém que não goste de pretos e muito menos de brancos que se dão com estes últimos). O álbum “Tintim no Congo” li-o pela primeira vez teria dez anos e é, ainda hoje, um dos que mais aprecio.

Mas não devia, aparentemente, pessoas como eu, são racistas. Da mesma maneira, não deveria gostar de Herman Melville nem do seu fabuloso Moby Dick, claro está, porque se trata de um livro que atenta contra os sacrossantos princípios ecológicos da nossa época politicamente correcta. De Rudyard Kipling, então, nem falar: como gostar de ler Kim, um livro em que os indianos surgem como um bando de analfabrutos exóticos?

Pois claro, não devia gostar, mas gosto, e muito. Isto que vos digo até pode parecer-vos de somenos importância. Mas estou em crer que não. Onde é que isto irá parar, onde? O mais irónico desta porra é que, regra geral, estes “censores” da Cultura Ocidental são os primeiros a virem dizer que, em nome da especificidade cultural, a mutilação genital feminina, o uso do hijab nas escolas, os casamentos arranjados etc, são para ser respeitados. Pois é. Onde é que esta porra irá parar? Sinceramente, não sei. Vou mas é ter com o meu amigo Corto. Talvez ele me saiba dar uma solução apropriada para mais esta filha da putice com requintes de malvadez.

12.7.07

Numa tarde em Lx




O dia tinha começado mal para burro. Uma cefaleia terrível e uma sensação de vazio e de angústia ao mesmo tempo. Ter andado a praticar boxe contra o vidro de uma janela, na noite anterior, não ajudara: o punho tinha ficado em retalhos e nunca fora muito bom a esgalhar uma com a mão direita. Mas, do mal, o menos: “Sou ainda jovem e bem parecido e cheio de energia” gritei para as paredes em voz alta. “E o que me falta em maturidade intelectual, compenso com o meu golpe de génio,” reflecti em surdina. E estava quase, quase, de férias. Bem, havia o problema de o cabrão do filho da puta da chocolateira, que pesa uma tonelada e meia e bebe que se farta, estar sem bateria. Tinha de descalçar essa bota, mas só o poderia fazer se primeiro metesse a dita besta a trabalhar. Pensei e reflecti que, quem me daria jeito, mesmo jeito, era o tal do Helel Ben Shahar, rapaz novo e de físico robusto, habituado ao longo da sua curta vida a empurrar carros de bois atrás de carros de bois. E pronto, resolvi-me. “Hel? Sou eu, tudo numa alta? Queres vir beber uma cervejinha aqui perto da minha casa? Podes? Maravilha pá, pago eu, não te demores!”

Era apenas mais uma tarde de um longo e quente mês de Julho na cidade de Lisboa, uma estrada perdida algures entre caminhos e uma das avenidas mais movimentadas da metrópole. O sol queimava a pele, o vento quente enchia as narinas e o horizonte dançava flamejante, unindo céu e estrada. Uma imagem interessante, mas que o suor que me escorria cara abaixo e que as mãos escaldadas pela chapa do automóvel me impediam de apreciar em todo o seu esplendor. Pelo contrário, o calor era agora inimigo público número um. Tudo começara nessa manhã… O meu caro e estimado amigo Lobo Solitário convidara-me para ir beber um copo. "Uma boa!" pensei. "Esplanadazinha em Lisboa, uma fresquinha na mão, cérebro a meio gás, uma troca de piadas e umas saias levantadas pelo vento. Tudo porreiro!” E assim foi… mal sabia eu que umas cervejas e umas piadas depois, sem saber bem como, encontrar-me-ia atrás do carro do Lobo, juntamente com mais três desconhecidos, a empurrar como se a minha vida dependesse disso…

A merda do carro não queria pegar nem à lei da bala. Eu suava por todos os lados. A direcção, sem o sacana do sistema eléctrico, exigia um esforço tremendo. Lá atrás, os outros, sob a batuta do Hel, faziam das tripas coração. Mas não dava, caralho, o sacana do bicho não colaborava de maneira nenhuma. “Mais um esforço pessoal, mais um esforço!” O moço da mercearia olhou para o relógio. O gajo que distribuía publicidade, apesar de toda a boa vontade que demonstrara até ao momento, parecia prestes a desculpar-se e a ir-se embora. O Hel deitou-me uns olhinhos onde pude ler um assomo de raiva ainda que temperado com uns pozinhos de compreensão e de companheirismo. Tinha de ser desta. Se não fosse desta, tava bem fodido, era o que era. “Vamos, porra!” “Ainda não, ainda não, não metas já, não metas já! Agora Lobo, agora!”
“Terceira, caralho, arranca, cabrão! Não vais lá, meu filha da puta, não vais, não vais? Quarta, porco, quarta, vou-te pegar em quarta meu filha da puta dos infernos!” E os outros? E os outros? Porra! Os outros ficaram para trás, esta bodega já anda, aos solavancos, mas já anda, não pegou mas anda! “Merda, estou na avenida, vou bater, vou bater!”


- Força! Está quase!!” – encorajava eu os meus ajudantes.
- Eu não sei… mas se isto não pega agora, tenho que ir embora – anunciou o gajo da publicidade, o rosto vermelho do esforço.
- Pois, lamento, mas se não for desta… - desculpou-se o outro.
Estava a ver o caso mal parado. O monstro tossia e tremia, a força moral dos meus companheiros esvanecia-se e o calor impiedoso frustrava todos os nossos heróicos esforços. Estava na hora de envidar todas as forças para um empurrão final. O Lobo lá ia entretido, travando uma luta hercúlea contra uma bateria teimosa, num jogo de caixa entre terceira e quarta e eu lá empurrava, resignado, amaldiçoando a minha sorte, sob o sol escaldante, com as cervejinhas ainda a badalar no cérebro. Não fosse o Lobo ser um gajo porreiro e de quando em vez pagar-me um copo... ENTROU NA AVENIDA! Só restava esperar…
Ao ver o Lobo partir, fui assaltado por um conjunto de questões filosóficas que normalmente não me perturbam: quais as verdadeiras implicações de se entrar com um carro cuja bateria está praticamente morta, movido a braços e pernas, numa das avenidas mais movimentadas de Lisboa em plena hora de ponta? Voltaria a ver o meu amigo? E a minha carteira, esquecida em sua casa? E os dez euros que me devia?

Pegou, em quinta mas pegou. Entrei na curva da avenida devagar, muito devagar. Tinha as pernas a tremer e mal conseguia fazer o ponto de embraiagem. Era só suor e nervos. Aos poucos, lá me acalmei. Estava um trânsito nojento. Fiz a rotunda, dei gás para aquecer o motor do carro e fui parar suavemente junto ao semáforo. Tinha duas opções. Virar para casa ou seguir em frente. Estive quase, quase, a mandar tudo à merda e a meter logo para a A2. Só que, não sendo assaltado por questões filosóficas, fui alvo dos meus princípios éticos: não só tinha um amigo lá atrás, como, para além disso, lhe devia dinheiro e aqui o Lobo preza muito passar na rua sem dever nada a ninguém.

“Mau, tanto tempo! Bonito, ou pifou no meio da avenida ou fez-se à estrada!” Calma, ele não faria isso, até é bom tipo por trás dos dentes afiados, Hel, ele há-de chegar... O trambolho do carro lá virou a esquina, longos minutos depois, verde, sujo e velho. Afinal, era possível que ainda hoje chegasse a casa. “Bem, Lobo, meu sortudo de merda, agradece à Cornélia” disse-lhe. “Agora, faz boa viagem!" Despedimo-nos com um aperto de mão e deixei o Lobo agradecido a enfrentar o sol estival com uma bomba, literalmente, nas mãos. “Ah, mais uma coisa!” lembrei-me de súbito, virando-me para o rosto inquisitivo do Lobo. “Vê lá se isso não te pára no meio da auto-estrada…” disse, com um sorriso escarninho. “Faz boa viagem…” Retribuindo o sorriso, o Lobo arrancou, por certo confiante e seguro de que ainda naquele dia estaria a fumar um charutinho e a beber um bom whisky.





Este texto foi escrito em parceria. Assinam: Lobo Solitário/Helel Ben Shahar.

Ok boss, ok.

- Olha, preciso que venhas comigo, tenho umas coisas para tu fazeres.
- Agora? Agora estou aqui ocupado, estou a tratar de um assunto, de coisas impor…
- Tem de ser agora, já.

Ok boss, ok

- Estás a ver ali aquele edifício?
- Sim?
- Vai lá dentro à recepção e pergunta pelos meus óculos escuros que me esqueci deles hoje de manhã quando me reuni com o engenheiro.
- E quer que eu lá vá buscá-los?
- Já devias era ter ido.
- Mas, vestido assim, de calções de praia e de xanatos? É um sítio elegante, um sítio que cheira a dinheiro, é um sítio para se ir bem vestido, como o senhor, nunca assim!
- Ninguém liga a isso. Vai que já estou atrasado.

Ok boss, ok.

- Olha, agora, esperas aqui enquanto eu vou ali ao banco, não demoro nada.
- Mas, está um calor horrível!
- Eu não demoro nada, espera aí que eu já venho.

Ok boss, ok.

[45 minutos depois]

- Safa, os gajos do banco são cá uns melgas!
- Sim? Problemas?
- Chatices pá, não sei o quê do computador e os dados que não eram reconhecidos, uma seca tremenda!
- A sério? E tinham ar-condicionado?
- Lá isso, tinham, isso, tinham, foi o que me safou.

Ok boss, ok.

- Podemos agora ir tratar do meu problema?
- Qual problema?
- A bateria, o carro, lembra-se?
- Ah, pois, o carro que tu avariaste…
- Sim, esse carro. Pedi-lhe hoje de manhã que me ajudasse a resolver esse problema…
- Eu não empurro nada, ouviste?
- Não se preocupe. Empurro eu e o senhor só tem de engatar a terceira e pô-lo a trabalhar. Como está numa descida não será difícil. Depois, peço-lhe, encarecidamente, venha comigo até à loja comprar uma bateria nova, não vá dar-se o azar do carro ir abaixo ou assim...
- Tu és um chato, eu tenho muitas coisas para fazer, sou um homem ocupado, ouviste?
- Eu sei. É um favor que lhe peço e ficar-lhe-ei eternamente grato.
- Bom, pode ser. Mas empurras tu e pagas tu, percebes?

Ok boss, ok.


- Olhe, desculpe, eu queria uma bateria para o carro…
- O rapaz quer uma bateria que trabalhe, nada de modernices, sobretudo, que não seja caro!
- Boss…
- É assim mesmo pá, senão ainda te vigarizam!
- Boss…
Querem uma bateria, é? Não sei se tenho.
- Por favor, é só uma bateria e já vamos embora…
- Nesse caso, está bem, mas vai custar-lhes caro…
- Eu sei, mas eu só quero uma bateria, se for em conta, tanto melhor.
- Bem, vou ver o que se pode arranjar.
- És mesmo um parvalhão pá, não soubeste lidar com o homem. Agora, amanha-te. Se julgas que te passo um vale para pagares essa merda, estás muito enganado.

Ok boss, ok


- Anda cá, já acabei de jantar!
- E?
- Anda cá, és surdo? Anda cá!
- Estou a escrever, estou a tratar de coisas impor…
- Anda cá!
- Diga?
- Faz-me um nescafé.
- Um nescafé?
- Sim, um nescafé, está aqui ao lado na cozinha.

Ok boss, ok.

- Ó, então e a colher, não me trouxeste a colher!
- A colher?
- Sim, traz-me uma colher para mexer o nescafé, como é que queres que o mexa?
- Olhe boss, tem bom remédio: saque do caralho e use-o para mexer o café; não só o adocicará como ficará com a pilinha bem mornita…
- Tu não falas assim com o teu pai, ouviste, ouviste???

Ok boss, ok. Tudo ok.

Pensamento do dia



"For more than two thousand years gold's natural qualities made it man's universal medium of exchange. In contrast to political money, gold is honest money that survived the ages and will live on long after the political fiats of today have gone the way of all paper."


11.7.07

Feeling good



O carro não pegou, tive de angariar quatro escravos (entre estes o meu grande amigo Hel) para o empurrarem, quase fiquei com o meu automóvel-sapão parado numa das avenidas mais movimentadas de Lisboa e, cinquenta quilómetros depois, apercebi-me de que deixara em casa todos os documentos e o dinheiro também. Entretanto, uma amiga liga-me a dizer que recebeu umas massas valentes que esperava há muito e que estava disposta a partilhar comigo um pouco da sua riqueza, convidando-me para uma sessão de boa comida, álcool, drogas e, quem sabe, outras coisas mais.
Mas o carro voltou a não pegar e eu fiquei aqui agarrado a pensar que há dias assim. Dias em que não vale a pena lutar contra o destino. Se querem que vos diga, não me chateia por aí além. Até porque finalmente me sinto calmo. Fui dar um mergulho. Comi uma coxa de frango. Fumei um cigarro.
Agora, acabo de descobrir uma caixa com garrafas de vinho verde e uma outra com charutos da República Dominicana. Ok, é certo, com estas porras todas estou agarrado aqui pelo menos dois dias, mas e depois? I feel good. So good que até me dá para ouvir músicas destas





Foto: Promenade du Feu

9.7.07

Pensamento do dia

Conheço uma data de pessoas que não é capaz de viver livre e que, por isso, troca a sua liberdade com o primeiro(a) idiota que lhes apareça à frente. Not me. A minha liberdade custou demasiado caro. Só a troco por amor e tem de ser correspondido.

7.7.07

Quero foder. Já



Quero foder. Já. Caguei nas consequências. Quero uma gaja boazona e bonita e que saiba foder. Agora. Quero lá saber se a gaja depois se apaixona por mim. Borrifando-me se eu depois me apaixono por ela. Quero comer uma gaja boa e quero que ela me coma a mim, todinho, agora. Pronto. É isso o que eu quero. Já! Puta que pariu as consequências. Quero levá-la para a cama, chupar-lhe os lábios, morder-lhe os bicos das mamas, faze-la gemer, abrir-lhe as pernas, lamber-lhe a cona e enterrar-me todo nela. Já.

Estou-me nas tintas para as consequências. Quero lá saber da merda das combinatórias consequenciais. Para trabalho, já tenho quanto me baste, foda-se! Raios e trovões! Quero foder. Preciso de foder. Já.

Quero dar uma com esta tesão toda, assim mesmo, com esta tesão que me domina, com esta tesão que me atira para a frente, com esta tesão que me faz realizar coisas brilhantes, com esta tesão que faz com que seja o melhor, ouviram, o melhor de todos, puta madre, (sou tão bom que isso até me assusta) quero foder com esta tesão toda, esta tesão e este desejo que me cega e que um dia ainda fará com que me case contigo, estou a falar CONTIGO, se tu me aceitares, é óbvio.

É mesmo assim. É desta maneira que te quero foder.

Quero comer-te agora. Preciso de te dar um foda, agora, sem mais delongas, uma foda de fazer tremer os alicerces da cidade e de desassossegar a puta da Internet toda, da China a Hong Kong, passando pelo fiel amigo, pelas freedom fries e a acabar num auto de fé ao essencialismo da saurkraut alemã. Já. Agora.

Pensando melhor, quero foder-te só a ti, em privado, sua gata maltesa., sua cabra da montanha, sua deliciosa putazinha... Sabes o que eu quero agora?.. Quero comer-te toda, amor, todinha. É como te digo: quero degustar-te por inteiro. Quero devorar-te. Quero ser o primeiro... a tocar-te como mereces.

Foder-te toda. Descerrar-te a cortina do Paraíso. Ensinar-te coisas de que nunca ouviste falar, fazer-te vir em dobrado, em triplicado, em quadriplicado, em papel azul timbrado a 21 linhas, em páginas cibernaúticas com hiperligações directas para o inferno do século XXI, quero fazer-te gozar tanto, mas tanto, minha gata, minha puta, minha cabra, minha vaca, meu amor, ai o quanto te quero fazer gozar, o quanto eu te vou fazer gozar...

Vou fazer com que te passes dos carretos.

Tens medo?.. Anda cá. Eu não mordo. Nunca ouviste dizer que cão que ladra não morde? Pois, eu não sou cão, tens razão, mas é a mesma coisa, cão ou o Lobo, vai dar ao mesmo, não tenhas medo... amor... Quero-te tanto...

Isso. Tira as cuecas e deixa ficar a mini-saia. Não sabes como eu gosto quando ficas só de mini-saia e mais nada, só o teu rubor encarnado e o veludo azul da saia. Anda cá agora. Dá-me um beijo na boca. Vem, come-me a língua, morde-me, explora o meu lado negro – toca-me. Toca-me. Isso, acaricia-me o pau. Isso, vai descendo, vai descendo... devagar, devagarinho... que mamas que tu tens... Lindas, maravilhosas, adoro-te! Adoro-te!

Pronto, pronto, pronto...


Faz-me uma mamada.


Lambe a cabecinha com jeitinho, meu doce, chupa-a como deve ser... oh... ai...
Como ficas bem de caralho na boca! E essas tuas argolas, esses brincos... ai.... tu não imaginas como me excitam essas argolas, esses brincos... Ui... doce...ai... isso... mais, mais...

Espera, não me faças vir, ainda não querida, anda cá... vira para cá essa coninha molhada e gostosa... vou comer-te essa cona maravilhosa, vou levar-te ao paraíso... Sim...sim... devagarinho, não tenhas medo... bem devagarinho, devagarinho... Anda, vem comigo e goza, goza, goza...


....................................................

Que horas são esta porra? Meio-dia e meia? Já? Merda. Nem dá tempo para uma rapidinha. Que vida mais filha da puta a minha. E a cabra da cefaleia que tenho na cabeça. Dói que se farta. Tou a ver que isto nem com o sacanas dos Ben Urons vai ao sítio. Eu tava a dormir, porra! Despertador, despertador numa hora destas?!?

O telemóvel a tocar? O que podem ainda querer de mim os cabrões?.. Péra, já tou a ver, é um gajo fixe, é até é um tipo à maneira... Sim, diz? Ir aonde? Ao IST? Só podes tar a gozar, só podes! Urgente? Devo-te favores? Pronto, merda, eu vou ao IST, liga daqui a duas horas.

Outra vez o instrumento sonoro do diabo, raios? Que me querem eles agora? Jantar de despedida com a malta da Politécnica? Hoje?... Logo à noite?!?.. Tás a brincar comigo pá, só podes tar na tanga, bacano! É obrigatório e é preciso ir de fato e gravata?.. Ai o caralho, foda-se, ok, encontramo-nos às sete e meia à porta; pois pá, um autêntico desastre, pois pá, tás fodido, eu também, pois pá, só nos fodem e nós não fodemos nada, pá, é um autêntico desastre, pá, escuta o que eu te digo, pá!.. Tá.

Combinado. O quê? Não tens sapatos? Olha, tens bom remédio: vai comprar um par ao e-bay....

Tchau meu, abraço, grande abraço.

O quê?

A Julia?

There’s something about Julia?

Yep, that is true. .Julia i’m in love with you. Will you ever need me as much as i need you?

Caga nisso. Até logo: já sabes, se tiveres dúvidas, manda-me uma SMS.

Caramba.

Meio-dia e trinta e cinco. Não me posso esquecer de que ainda tenho de passar no ISLA antes das duas e de que não tenho gasolina no carro. Já sei: arranco daqui à bomba, passo no ISLA, faço uma curva pelo IST, trago o carro para casa, acabo a tradução que o outro filho da puta quer ainda hoje, envio-a por mail, tomo um duche, verifico se o cabrão enviou a guita no correio de volta, passo uma camisa a ferro, engraxo os sapatos, cravo a vizinha para me fazer o nó da gravata e, brilhante, glittering, vou ao jantar da Politécnica.

Tá limpo. Ainda não fodi, mas tá limpo.

O telemóvel? Outra vez? Outra vez? Mas tenho eu de desligar a porra do telefone? Tenho?!? É isso?!? Mas sou eu assim tão importante para não pararem de me chatear? É?!?.. Arredem caralho, deixem-me em paz, porra!

Diga doutora? Falta o anexo VI do protocolo cultural e educativo entre a República Portuguesa e a do Burkina Faso? Sim, sim, estou a visualizar, perfeitamente, doutora. Enviar por fax, o mais depressa possível? Fique descansada, doutora. Não, não se preocupe que não a deixarei ficar mal (alguma vez deixei, sua excelência podre de boa como o milho, alguma vez, meu docinho?) daqui a vinte minutos, o mais tardar, o anexo VI estará na sua secretária. Sim, sim, pois, sim, sim, eu é que agradeço. Até amanhã, doutora...

Bom. Meio-dia e 40. Ok Lobo, ok boss, numa porreira, trip natural, mas nem por isso menos fenomenal. Faz apenas o que tens a fazer, Lobinho e tudo se tornará simples. Simples? Simples uma merda. Uma Merda de simplicidade, é o que é. E ainda digo mais. Sabes o que é que tu queres, sabes? Tu queres fazer amor. É isso que queres e é porque este texto te deu tusa e porque ficaste horny que tu o queres... Tu queres fazer amor e, olha, eu também quero! Quero fazer amor... Já.

6.7.07

Pensamento do dia

Tou farto desta porra até à ponta dos cabelos. Estou farto, farto, farto. Só me apetece mesmo é mulher. Não me apetece mai nada. Mulher e ponto final. E os outros que tratem do resto, que são pagos para isso, os gatunos. PS- Não se preocupem que correu tudo bem. Até acima das expectativas. Só que o Lobo ficou exausto e ainda tem de ir fazer meia dúzia de fretes com este calor filha da puta. Até depois.

5.7.07

This is it

Bom. Só me lemmbro de uma expressão e ainda por cima é do japonês: TORA, TORA, TORA!

2.7.07

Do medo da confissão do mar


Estavam a uns bons cem metros da costa e entretinham-se a boiar e a rir um para o outro. Tinham feito uma corrida debaixo de água que os levara para longe e riam-se das pessoas que, ao fundo na praia, mais pareciam formigas do que gente. Já não se viam há tanto tempo que aquelas férias juntos lhes estavam a saber maravilhosamente. Para ele, o irmão, apesar de mais novo uns cinco anos, representava muito mais do que um irmão; era quase como se fosse um modelo a seguir e sempre que precisava de conselhos era ao irmão a quem se dirigia. Para o irmão, ele era também muito importante, embora, desde que o irmão tinha sido pai, essa importância tivesse diminuído ligeiramente.
Chapinhavam e riam quando o viram. Foi ele o primeiro a vê-lo e quase entrou em pânico. O irmão percebeu logo que algo estava errado e seguiu o olhar dele. Uma enorme barbatana dorsal aproximava-se, rondando-os. Era um tubarão.
Media no mínimo uns três metros e meio. Descrevia círculos cada vez mais curtos em torno deles. Em breve, atacaria. Saltou fora de água e as dúvidas que tinham dissiparam-se: tratava-se de um grande tubarão branco.
Não podiam esperar impávidos e serenos. Tomaram uma resolução: iria cada um por seu lado para baralharem o bicho e tentarem chegar à segurança da costa, ali a uns escassos e simultaneamente distantes 100 metros. Teve medo. Não queria afastar-se do irmão. O irmão nadava muito melhor, era mais forte e mais corajoso do que ele e resolvia sempre os problemas. Mas tinha de ser. Tinham de se separar. O irmão olhou bem dentro dos seus olhos e disse-lhe: “Vai, vemo-nos na praia!” Sorriu por um breve instante e já se afastava dele com uma braçada vigorosa. Por seu turno, uma fracção de segundo depois, ele nadou afastando-se do irmão.
Só uns 15 metros depois olhou para trás. O tubarão tinha feito a sua escolha. Rondava o irmão e não o deixava aproximar-se da costa. Mas o irmão era um nadador exímio e haveria de safar-se. Nadou mais uns dois minutos e de novo olhou em volta. O irmão nadava paralelo a ele próprio, a uns 15 metros de si, num crawl desesperado, em direcção à praia. O tubarão estava prestes a atacar. Horrorizado, viu quando o bicho enorme saltou fora da água, as mandíbulas, imensas, abertas, abatendo-se já sobre o irmão, quando este, com uma finta incrível, saltou por seu turno para trás e para a direita, fazendo com que o mergulho fatal do bicho encontrasse no seu caminho apenas a água. Tinha sido por pouco. Mas o alívio não durou muito. De novo, a maldita barbatana voltou a surgir, uns 20 metros à frente. Nadava à esquerda do irmão. E parecia que se preparava para se pôr outra vez aos círculos em torno dele. Estava agora entre ambos e a costa, à esquerda do irmão, muito perto do irmão e a uns trinta metros de si mesmo. Na praia tinham-se apercebido do que se passava e era o pânico. Mas, alguns pescadores, armados com arpões, lançavam um barco à água. Olhou para o irmão. Os seus olhos encontraram-se com os dele. O irmão estava esgotado. Pareceu dizer-lhe com os olhos que aproveitasse a aberta e nadasse na direcção da praia. O tubarão aproximava-se de novo do irmão, desta vez sem hesitações nem círculos, numa linha recta perfeita. Maldito bicho, maldito! O irmão já não se mexia. Tinha fechado os olhos e parecia reunir as suas últimas forças. De súbito, virou-se e começou a nadar na direcção oposta, na direcção do mar alto. “Não!” gritou ele.
Esteve para se atirar para a frente do bicho, para se interpor entre este e o irmão, ainda tinha tempo para isso, era meia dúzia de braçadas e podia fazê-lo. Mas não o fez. Não foi capaz. Com os músculos todos retesados dentro de água, não foi capaz de um movimento. E agora já não valia a pena. Olhou para trás. O barco dos pescadores aproximava-se, lentamente, demasiado lentamente. Virou a cabeça para onde nadava o irmão. O tubarão deu um grande salto, a sua bocarra abriu-se gigantesca e com um som terrível de carne ossos estralhaçados cerrou-se em cheio sobre o tronco do irmão.

– Não, Não!
– Calma, o que foi, o que foi?
– O tubarão, o Pedro!
– Calma querido, foi um pesadelo, foi um pesadelo!

Abriu os olhos. De facto, nadava, mas no seu próprio suor. Tinha sido um pesadelo. Ao seu lado na cama, a mulher afagava-lhe o rosto, tentando tranquilizá-lo. Aos poucos foi normalizando a respiração.

– O que foi?
– Um pesadelo horrível. Um tubarão tinha morto o meu irmão.
– Calma querido, já passou, já passou, foi só um pesadelo.
– Sim, um pesadelo horrível.
– Já passou, vamos dormir, sim?
– Que horas são?

A mulher olhou para o relógio na mesinha de cabeceira do seu lado da cama.

– Seis e meia querido, ainda é muito cedo, vamos dormir.

Abraçou-se à mulher e fechou os olhos. Tentou afastar os pensamentos da cabeça. Não conseguiu. Deu uma, duas voltas na cama. Deixou-se estar, inquieto, mas ao fim de cinco minutos levantou-se. A mulher adormecera de novo. Dirigiu-se à cozinha e fez café. O café estava bom e sentiu-se momentaneamente reconfortado. Fumou um cigarro. Ia ser um dia longo, tinha muitas coisas importantes para tratar nesse dia. Mas a merda do sonho não o largava. Era só um sonho, é certo. Não era supersticioso nem tão pouco acreditava em premonições. Sabia que o irmão estava vivo e bem de saúde. Contudo, no sonho, deixara-o morrer sem esboçar um gesto. Tinha tido a oportunidade de se interpor entre o irmão e aquele bicho nojento e não o fizera. O medo tinha-o paralisado. Mas não era suposto ser ele o guardião do seu irmão?
Reflectiu que se se tivesse interposto quem teria morrido teria sido ele e não o irmão. Teria o egoísmo sido o motivo para nada ter feito? Ou será que tinha sido o medo, puro, o pânico irracional que o tubarão lhe provocava? Não o sabia. Mas o facto permanecia. Fosse pelo que fosse, medo irracional, ou interesse egoísta, ou um misto de ambos, ou instinto de sobrevivência, no sonho deixara morrer o irmão. O irmão mais novo, o irmão que já tinha filhos, o irmão que era melhor do que ele em todos os aspectos e que seria chorado por mais gente do que ele próprio. Tinha sido egoísmo? Fraqueza? Medo? Tudo junto? Não o sabia e não o saber atormentava-o.
Por esse motivo, e como tinha um dia longo pela frente, um dia em que teria de manter a cabeça fria e lúcida; em se iria jogar uma cartada importante no seu futuro, antes de tudo o mais sentou-se à secretária e escreveu; deitando para fora o sonho que o atormentava. Escrevendo-o e exorcizando-o, sublimando-o, por fim ultrapassando-o, nesta confissão que, agora, vos apresenta.

Porto, 23 Março de 1993, 07H45.

1.7.07

Volta Churchill, fazes falta

Quero contar-vos um pequeno segredo de algibeira: sou um bêbado. Quer dizer, não sou bem isso, sou um “heavy drinker”, “but not exactly a drunk”. Ou melhor ainda: sou um tipo que bebe, bebe, bebe, mas não é dependente do álcool. E é raro embebedar-me completamente. Ou seja, numa semana normal bebo muitíssimo (entre seis a dez cervejas e uma garrafita de vinho por dia, pelo menos em quatro dos sete dias da semana. Mas só me embebedo completamente aí uma vez de três em três semanas.

Quero também dizer com isto que, apesar de ser um bêbado, ao contrário destes últimos, sei “estar” bêbado nas mais variadas situações, sem que a maioria das pessoas saiba ou se aperceba de que estou bêbado. Aliás, só uma minoria é que o percebe (desde que eu não deseje que a minha condição transpareça). Essa minoria é composta de:

a)- Pessoas que me conhecem muito, muito bem.

b) – Outros bêbados, como eu; Até porque, como diz o ditado, “it takes a drunk to recognize another”.

PS- Que é que isto tem a ver com senhor da foto? Nada. Absolutamente nada. É apenas um bonito rosto e, como sabem, gosto sempre de ilustrar os textos que aqui coloco com fotografias bonitas. Por isso, só isso e nada mais é que a foto ilustra o texto e quem tirar outras ilações estará completamente [gralha de edição, palavra ilegível]. Bem sei que poderia ter optado por colocar antes uma foto de Churchill para ilustrar o meu texto, mas isso colocaria um problema: é que apesar de Churchill ter sido um "bêbado" (no sentido em que defino), ele não só não era parvo nenhum como também não fazia de pavão bêbado nem tinha a mania de que era um gajo importante; era-o de facto.