29.7.07
Matrimónio
... Um dia depois, foram ao juíz e casaram. Ela comprou uma canoa cor de laranja na qual davam longos passeios no Mar azul. Observando-se timidamente diante das faces ardentes do Sol e do Oceano. Escutando-se no rumor do rio e amando-se na sombra da água. Tinham medo, mas não tinham, tinham sonho e tinham pesadelo.
Todos os dias, invariavelmente, decidiam separar-se e todos os dias, invariavelmente, se viciavam ainda mais e mais um no outro. Ele começou então a ler com clareza, como se tudo o que estivesse para trás apenas fosse uma preparação para o que enfim lia, o livro que era o livro da vida. Tinha esperado longamente pelo Amor de uma Mulher. Mas, e se não tivesse sido feito para o Amor? E se não fosse tudo apenas mais um desengano? E se não fosse tudo mais e apenas mais um trágico e cómico erro?
Ela, por sua vez, era infinitamente mais subtil do que ele e sabia que o seu amor se afadigava em demasia nesses pensamentos que, de tão profundos, acabavam por ser risíveis.
Por fim, comovidos e ambos livres e belos na sua mútua alegria, compreenderam finalmente que tinham nascido para se encontrarem e que só assim poderiam conceber as suas vidas de uma maneira feliz.
PS- Este texto, fui eu que o escrevi, corria o ano de 1991. Já andou por aí e deu uma volta de 180 graus até cá chegar.
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