27.2.09

A morte de Miguel



Erámos inseparáveis. Do primeiro ano do ciclo até ao décimo segundo, ninguém fazia farinha conosco.Em primeiros, havia o Tosh, pitecantropo para os íntimos, macaco para os outros, que um dia caiu no poço dum elevador em construção e quase morrera. Mas safara-se e fazia parte do núcleo duro.

Em segundos, O Vanela, assim apelidado por ter nascido na venezuela e porque entre nito e vanela era mais fácil ser amigo. Em terceiros, eu mesmo, puto, curioso, otário, nascido em Moçambique.

Foi um encontro de mentes. Erámos todos bons alunos. O Tosh tratava a matemática por tu, o Vanela era craque em línguas e eu dava uns toques em educação musical e trabalhos manuais. Vivemos a adolescencia em grande. Fomos dos primeiros a brincar com a linguagem basic e os jogos do zx spectrum.

Então apareceu a Isabel. Acho ainda hoje que todos os da turma estavam apaixonados pela Isabel e nós os três ainda mais, embora fingíssemos, ao som dos dire straits do irmão mais velho do Tosh, nada disso nos dizer respeito, até porque nessa altura as miúdas não nos interessavam.

O pai do Tosh trouxera para casa um Sinclair 1000, um dos primeiros modelos de computador pessoal a surgir no país e, pouco depois, todos nós nos tínhamos vidrado na tecnologia moderna.


26.2.09

Ariel - Parte VIII (revisão)


Sentei-me ao volante do R6, recostei-me no assento, confortável, quente, e regozijei-me com a peculiar sensação que estar ao volante de um carro novinho em folha transmite. À minha volta, tudo brilhava e reluzia e a panóplia de botões luminosos, cujo desígnio não compreendia, quase me ofuscava. Lancei um olhar fugaz para o banco de trás, para a ruiva, pelo espelho retrovisor. Ela lá estava, sentada direita, a perna cruzada, e com um ar aborrecido, preocupado, não sei, era difícil ler-lhe as linhas do rosto, porém, ao mesmo tempo, absorta nos seus próprios pensamentos. O que poderia absorver daquele modo a atenção dela? Ao meu lado, lá fora, o R6 tossia e rangia; ouvi a voz do Lúcio: «Como é, vamos?»

Tentei pôr os pensamentos em ordem e a injecção de adrenalina que o meu corpo me administrou, por estar agora a preparar-me para me fazer à estrada, ainda por cima num carro que não era meu, ainda por cima num carro que não podia lixar, ainda por cima o carro novo do Lúcio, prenda do papá, tratou de simplificar o processo, embora não o resolvesse na totalidade, deixando-me num estado
sébrio. Olhei para o rosto do Lúcio, que denotava uma certa ansiedade, pus o pisca e pisei o acelerador com jeitinho, arrancando lenta, suavemente, não sem uma ponta de apreensão. Atrás de mim, o R7 arrastava-se, tonitruante, pesado, sobre o asfalto negro e duro, frio de orvalho. O R6 deslizava firme e seguro pela A5, rumo a Cascais, e eu ia atrás do volante, apertando-o com os dedos, conduzindo com uma atenção redobrada, mas inflacionada pelo álcool, quando senti uma mão cair, num toque suave e delicado, no meu ombro. «Pareces nervoso, querido, não gostas de conduzir?» Era a primeira vez que ouvia a voz dela sem ser no bar, entre o delírio do álcool e a promessa de dinheiro e diversão. Os meus músculos contraíram-se. Ela sentiu-o. «Não, não é isso, apenas... já tive más experiências a conduzir com os copos. Não que não esteja em condições, mas… prefiro evitar surpresas.» Olhei pelo retrovisor e os nossos olhos cruzaram-se no espelho. Ela sorria, mas era um sorriso imperscrutável, que não reflectia o que lhe ia pela cabeça, não da forma como o retrovisor reflectia o verde dos olhos dela, que ela encobriu rapidamente com um lento cerrar de pálpebras, enclausurando-se numa estranha compenetração. Continuámos a viagem, eu e ela em silêncio, um pesado incómodo parecia preencher todo o espaço do carro, espraiando-se até aos recantos mais inacessíveis. Resolvi ligar o rádio e pressionei o botão, o ar condicionado começou a gelar ainda mais o ambiente, desliguei-o e carreguei noutra luzinha que, dessa feita, ligou os estofos, desliguei-os, quando, sem aviso, a mão branca dela cortou o ar e, com um dedo seguro e certeiro, ligou o rádio, «é este», o seu corpo chegado à frente, entre os bancos, a face dela agora colada à minha. Apanhado de surpresa, deixei o volante fugir, mas recuperei o controlo com destreza, os pneus deixando escapar apenas um breve silvo. Olhei pelo retrovisor, apenas para me certificar de que o Lúcio ainda aí vinha. Os faróis do carro de trás continuavam fixos em nós, lançando uma luz inquisitiva. Ela voltou a aproximar-se, sussurrante e magnética, «sabes, não tens de estar tão tenso, eu não mordo.» Recriminei-me pelo meu comportamento imberbe. Lembrava aqueles cães que correm atrás das bicicletas: agora que tinha apanhado uma, não sabia o que fazer com ela. «Não sou bem o que esperavas, é?» A pergunta dela quebrou o silêncio cujo único oponente era o rumorejar das vozes do rádio (sr. Ministro, que tem a dizer quanto aos boatos sobre uma eventual fuga de informação na PJ?), mas percebi que era mais uma provocação, que não esperava obter uma resposta. «Não sei, esperava algo, mas não sei bem o quê.» «Deu para perceber, no bar, que não estás habituado a lidar com putas.» Retorquiu, sem perder tempo, cortante. Não houve qualquer pausa no discurso dela, nem mesmo na menção da palavra «puta», título que se conferiu. Tinha razão, é verdade, mas não deixou de me surpreender o à-vontade da admissão dela. Não parecia existir vergonha, nem tão pouco auto-recriminação. Para alguém tão jovem, sensivelmente da minha idade, falar com tanta facilidade da sua condição, quando era óbvio, até para mim, que ela não andava nestas lides assim há tanto tempo como isso... (Posso asseverar-lhe que não existe qualquer fuga de…) «Tens razão, não estou», respondi num traquejo mecânico, recuperando o sangue frio, «mas a esperar algo, tu não eras, de certeza.» Ela abriu muito os olhos para o retrovisor, permitindo que o verde transbordasse para o meu olhar. Parecia espantada com o comentário, mas logo a expressão se tornou inescrutável. Continuei. «Não te pareces encaixar.» Não argumentou. «Nem com o bar, nem com a tua roupa, dás a sensação de que estás tão habituada como eu a lidar com putas.» «Sabes, não sei se essa é a conversa certa para me levares para a cama.» Ri com agrado e surpresa face à prontidão da resposta dela, que não vinha sem uma pitada de humor ácido. Mirei-a pelo retrovisor e, pela primeira vez, vi desenhar-se-lhe no rosto um sorriso descontraído e sincero, decorado por dentes brancos e perfeitos. «Foi por isso que gostei de ti.» «Porque não sei conversar?» «Porque não me trataste à cabeça como uma puta, como o teu amigo.» «Percebo…» Retorqui, secamente. Era uma mulher estranha, parecia não ter pruridos em falar de si como puta, mas revelava-se ofendida pela forma como o Lúcio a tratara. Voltou a soerguer-se do banco de trás e a colar o rosto ao meu, espiei-a pelo rabo do olho, enquanto me sussurrava ao ouvido. «Achas que a tua namorada vai gostar de saber que andas com mulheres como eu no banco de trás?» Senti a pele do pescoço arrepiar-se ao sentir a voz quente penetrar-me o ouvido e o perfume doce insinuar-se pelas minhas narinas, o que só acentuava o delírio alcoólico em que ambos nos encontrávamos. Virei o pescoço para encará-la de frente. «Bem, no que me diz respeito, ainda não aconteceu nada merecedor de reprovação, pois não?» Retorqui no mesmo tom cáustico que ela empregara. Os nossos rostos estavam quase colados um no outro e mergulhei nas profundezas daquele verde que me atraía para um poço sem fundo, para o qual ia voluntariamente, sem desejo de resistir. Ela envolvia-me num olhar de lábios imóveis, lábios que pressentia suaves e dos quais me aproximava, lentamente, quase sem dar por isso. Os seus lábios roçaram os meus e então…

«Hel?» «Sim?» «É melhor voltares a pôr os olhos na estrada.» Voltei a mim e ouvi o som característico dos pneus a pisar a berma da auto-estrada. Quebrando o encanto, voltei à tarefa de conduzir. Mais um pouco e teria de explicar ao Lúcio porque motivo tinha lançado o seu precioso R6 contra os rails. Ela voltou a recostar-se no banco de trás. No rádio, o ministro continuava a esquivar-se das estocadas da jornalista. «Por que não a convidaste? Seria muito mais divertido a quatro!» Riu com vontade e no seu riso transparecia a quantidade de álcool que ingerira. Ri com ela. Parecia empenhada
em provocar-me. Deixei-me levar na onda. «Hm, não sei se esta será a ideia dela de um tempo bem passado. A propósito, posso saber como te chamas?» «E porque queres saber como me chamo? O mais provável é que, amanhã, não te lembres.» «Bem, amanhã, não sei, mas posso prometer-te que, pelo menos, até ao fim de hoje, saberei como te tratar.» «E tu? Porquê Hel?» «E porque não?»

Atrás de mim, o Lúcio fazia sinais de luzes e tinha o pisca ligado. Parecia querer parar na estação de serviço que se aproximava. Fiz-lhe sinal com a mão de que entendera a mensagem e pus também o pisca. Entrei na estação de serviço e estacionei. «Ariel.» Respondeu, por fim.

What da fuck?



Oi Lúcio, posso entrar, cê tem açúcar? Tenho Patrícia, se fizeres o favor de esperar um pouco, já te trago. Que nada Lúcio, vai me deixar na rua, chovendo?.. Eu vou ver com tu Lúcio, homem não percebe nada de açucar. Como queiras, sabes onde é a cozinha. Sei, sei, há muito tempo que tu não vinha por casa dos teus, não é mesmo? Que mau filho tu és Lúcio, mau filho... Nem por isso Patrícia, estive cá na semana passada. Foi?... Não te vi Lúcio, você é muito, muito elusivo... Sou como você, como a Patrícia, não é? Não Lúcio, somos todos iguais cara, talvez iguais demais Lúcio, mas às vezes me dá uma fome, uma vontade de ser diferente, ai Lúcio, ai. Tá só?...

Finesse


O que é que distingue F.C. Porto, Sporting clube de Lisboa e Bayern de Munique? Seguramente, não é Paulo Futre, nem tão pouco o estádio do Prater, em Viena, e muito menos um toque precioso de calcanhar. Será a diferença no goal-average? Hmm.
Será a entrega dos virtuosos à paixão do jogo? Ou será que é uma forma diferente de encarar esta vidinha do dia à dia? Sinceramente, embora tenha dedicado a esta matéria horas infindáveis de reflexão, não logrei descortinar o raio gama da questão, mas cheira-me (é só um «suponhamos» para o fim-de-semana que se avizinha), cheira-me, dizia, que tem qualquer coisa a ver com heróis e com vilões, com banda desenhada e com uma editora de comic books (não, são são «livros cómicos», embora às vezes...), a tal da Editora Marvel e o tal do Bruce Banner.
Mas isto, na verdade, não passa daquilo que eu digo e, claro, haverá perspectivas diferentes, umas mais «verdes» de raiva do que outras, algumas mais apropriadas à compreensão do que se passa no «verde» do relvado, e outras ainda, «verdes» da esperança que voa nos olhos duma criança sem jamais aterrisar em prado algum. Enfim, tudo coisa de que gosto, e muito. Um pouco como gosto de ler António Botto.


Carnaval e Arte


Em Portugal, a diferença entre a arte e o carnaval é que no carnaval umas galdérias semi-nuas e com o ar mais abadalhocado do mundo se bamboleiam, para gaúdio do pagode, ao ritmo do samba mais pimba e execrável; no mesmo país, mas no que toca à arte, o mesmo pagode fica «chocado» com a exibição, na capa de um livro, de um pintura célebre das coxas e do sexo feminino e vai tudo apreendido, ou não fosse isto um país de muito respeito - desfiles carnavalescos excluídos, obviamente.


PS - Para não me acusarem de xenofobia musical, aqui fica, pois claro, um samba, só que do bom...



21.2.09

18h45



Tinha bebido imenso naquela noite, bagaço, vinho tinto, aguardente velha, eu sei lá, sentia-me perdido, mas ao mesmo tempo estava consciente de que o que não mata engorda, sabia que não iria morrer embora o passar do tempo, ultimamente, tornasse cada vez mais doloroso manter os olhos abertos. Contudo, naquela noite, nunca me sentira tão sóbrio.

Então, recordei ter pegado no Hel num bar e, com a ajuda de uma miúda, gira, engraçada, levá-lo até à casa, numa viagem de noite e de carro, até uma casa escondida num matagal verdejante, mesmo na intersecção que dá para a serra de Sintra, perto do Castelo dos Mouros.

Agora, ali estava eu, numa cama que desconhecia, lençóis de flanela, em casa do Hel, à espera talvez duma sua prima afastada, retida quando a noite não passava duma mentira feita de sombras pardacentas que me enevoavam a razão e ao mesmo tempo me faziam sentir - no íntimo - que aquela era uma noite de resoluções de vida e de morte, até para prima ausente, à medida que fizera o R7 do Hel galgar quilómetros a fio na auto-estrada que dava para a quinta dele. Que dia era?

Um dia em cheio



20.2.09

E tu?



I'm a power load, i'm a bomb about to explode i know no name i ain't got no fame i'm a nuclear plant, i'm a shell about to ignite, i ain't no man full of might i got no take on the night and if you'd let me i'd give you health and screw you wild today - and maybe tonight.

Que é que andavas a fazer em Outubro?

19.2.09

Brevemente, neste blogue



... Lobo Maia meets Abelha Antunes.

Ele há dias...



Como o de hoje. Não é que haja nas ruas melancolia a mais ou a menos; ou que algo fora do vulgar me tenha feito ficar de súbito doente sem saber do quê. Não, é um dia perfeitamente normal, calmo, sóbrio, produtivo até. E no entanto...

18.2.09

Pensamento da manhã



Não há homem completo que não tenha viajado muito, que não tenha mudado vinte vezes de vida e de maneira de pensar.

Lamartine

17.2.09

Oh land of the free...



Anastasio Somoza García, Rafael Leónidas Trujillo, Jorge Rafael Videla, Carlos Castillo Armas, Alfredo Stroessner, Hugo Banzer, Augusto Pinochet, Humberto Castelo Branco, Fulgencio Batista. Para além de todas estas criaturas serem de extracção sul-americana e homens com currículos políticos tenebrosos, que mais têm eles em comum?.. É muito simples, parafraseando um célebre democrata: «they might be sons of bitches but they are our sons of bitches».

Haja paciência

Este senhor, numa atitude verdadeiramente original, veio dizer numa entrevista que, dentro de dois anos, deixa de escrever. É só acabar o livro que tem em mãos e pronto, ponto final. De facto, este anúncio de Lobo Antunes é verdadeiramente inaudito.

Não me lembro de um único escritor (e olha que eu já li muitos) que tenha vindo anunciar que pendurava a caneta, que ia para a reforma, so to speak. Os que o fizeram, fizeram-no sem dizer nada a ninguém e na maior parte das vezes negando-se mesmo aposteriori a dar quaisquer explicações.

O que é que este tipo, em particular um escritor assim assim, nada do outro mundo, pretendeu com este anúncio, tão bombástico quanto vácuo? Uma vaga de fundo a clamar pela continuidade do seu labor?.. Testar a sua popularidade?.. Vender mais umas cópias da próxima oeuvre à pala de ser a última?..

Não sei, não percebo, ou por outra, o que sei é que é estúpido, é ridículo, como se escrever fosse ser jogador de futebol, mediador de seguros ou outra profissão qualquer: «vou reformar-me amigos, num escrevo mais, é tempo de gozar a vida, fiquem bem».

Puta que te pariu Lobo Antunes, escreve ou deixa de escrever ou vai tocar umas punhetas ou lá que uso pretendes dar à mãozinha, agora que a tens livre e desocupada. Grande patêgo.

16.2.09

A Rosa Branca


Sensivelmente em meados de 1940 dois irmãos chegaram à conclusão de que a Alemanha não seguia o caminho mais correcto; no entanto, como eram jovens e nesse época não ficava bem aos jovens contrariarem as normas estabelecidas pelo regime hitleriano (para além de ser extremamente perigoso) calaram-se e guardaram as suas críticas para si próprios.

Entretanto, a guerra de Hitler, Goebbels, Goering e de mais meia dúzia de generais brilhantemente idiotas, afundava a Europa na catástrofe (ver operação Félix, que sorte tivemos).

Então, em 1942, Sofia e Hans Scholl, juntamente com amigos da Faculdade de Munique, decidiram insurgir-se. Criaram o movimento da «Rosa Branca».

Pensaram e agiram. Espalharam panfletos contra o regime e contra a guerra total de Goebbels na cidade de Munique, o próprio berço do nazismo, muitos anos antes.

Poucos dias depois disso, ambos os irmãos foram presos e, sumariamente «julgados» por bandalho chamado Roland Freisler, perderam, literalmente, as cabeças.

Até hoje, o exemplo que deram permanece como um dos mais sublimes na luta dos indivíduos livres contra a tirania.

For those about to rock



We salute you.

Oh my god...


Vai um Perna de Pau no micro-ondas? Hum... Nã, prefiro antes um Corneto de morango refogado na panela.

Pensamento


"The Party seeks power entirely for its own sake. We are not interested in the good of others; we are interested solely in power, pure power. What pure power means you will understand presently. We know that no one ever seizes power with the intention of relinquishing it. Power is not a means; it is an end. One does not establish a dictatorship in order to safeguard a revolution; one makes the revolution in order to establish the dictatorship. The object of persecution is persecution. The object of torture is torture. The object of power is power. Now do you begin to understand me?"
Nineteen Eighty-Four
George Orwell

A alternativa


Não param de lixar a cabeça ao homem. Que é mentiroso, que é aldrabão, que é um autoritário, que é prepotente e por aí fora. Na blogosfera então, é a ver quem mais veneno destila, quem mais créditos anti-José retira das suas postas. Não os percebo, cambada de progressistas de merda. Continuem assim, continuem, que se mais lá para à frente tiverem o azar de lhes calhar na rifa a alternativa, logo quero ler então o vosso paleio.

Pensamento do dia










É certo que o trabalho enobrece, mas eu prefiro ser humilde.

Zé Carioca

15.2.09

Blogging for Grace

I've been blogging for some four years know and although I've had my ups and downs I don't regret any single moment of it. Blogging changed my life (it was while blogging that I met my girlfriend) and blogging also helped improve my language skills (English and Portuguese alike), that single talent that makes my work a palatable one (I'm a free-lance translator, by the way). Furthermore, blogging made me curious about the internet as a whole (a reality of which I had sparse, little and insufficient knowledge) and about new techs in general and that also helped my daily life, the first rate example being the proper handling of Trados, one of the main tools of my business. Now, as I've written before, blogging has its downfalls; it's time consuming, remits you to a parallel reality, it may be addictive and, worse of all – it's non-profitable (for most bloggers, not all, that is).

Anyway, not being an ambitious person moneywise speaking (quite the opposite), I've always regarded blogging as great fun and, besides, being an adventurer by nature, that button you can find in your navbars (not in mine, sorry), the next blog button, from time to time, tends to seduce me and every now and again I embark on blogging expeditions, going where no blogger has gone before, exploiting the deepest corners of the blogosphere, may they be in China or Saint Helen's island and, every year or two, I stumble upon interesting blogging projects.

This, in turn, brings me to the title of this post. A few days back, on a random cruise through the blogosphere via next blog button, I came upon Grace's blog. Now, me and Grace, we have nothing in common. For starters, she's a believer and I'm an atheist; then she's a mother of two and I'm a father of none; she's an American living in Maine and I'm Portuguese living in my mind, and then she's just started blogging and I… Well, I will not repeat myself on that subject.

Nonetheless, there was something about Grace's blog: politeness, education, truthfulness.

In Grace's post I came across she was asking for some help on a (for me) trivial blogging issue and I couldn't resist. And so I blogged her back some help on the issue and guess what, it felt good.

And then, while cruising back to more familiar edges of the web, it struck me: blogging is not only about writing unbelievable weird texts full of exotic words; it surely isn't only about making money, and it surely isn't about that stupid sense of self-gratification: uh, look at me, I'm so original when I write, I'm bound to dazzle everyone else.

No, not really. Blogging is mainly about sharing and, through sharing, learning with everyone else.


14.2.09

Out of time


Out the window winds the winter
It sings a tune of long and sorrow splinter
It flickers through the glass and it chills
In its whisper I can feel the hallow
I can hear the final fine of the Lister;
With a grin I read its deadly line;
It reads simple and weirdly sublime
It purely states that we are - completely -

Out of time.

13.2.09

Pensamento do dia

"There was a direct, intimate connection between chastity and political orthodoxy. For how could the fear, the hatred and the lunatic credulity which the Party needed in its members be kept at the right pitch, except by bottling down some powerful instinct and using it as a driving force? The sex impulse was dangerous to the Party, and the Party had turned it into account.”

George Orwell in "1984".

12.2.09

Me and the redhead



Now, i need some help on this one, me and the redhead, that's sparks blazing, if you’re interested in what I have to say. Me and the redhead, i suppose we go a long way back, back to Ferro's pub in the nineties and all the shit that was taking place back then. Me? I was on the rebound, just cleaning up my act (remember it was the late nineties) but she?.. Well, she was a hooker walking the avenue for heroin money.

She was tall, skinny, red hair like the devil, flashy green mistaken eyes, hot and cool, remarkably suitably well shaped legs, she was a desperate woman, a desperate hot woman on the prowl for joes and she was gorgeous, the most beautiful trilling woman I’ve ever seen. That's a fact.

Recently, I got the redhead in bed, had hard sex with her, just a few months ago. I called her a whore, while she sucked my cock, and she gave me the finger but I wasn’t (back then i had a girlfriend – the blond -) really impressed and then i fucked her in the ass to finally overcome.

In truth, I couldn't be bother; i was nuts about the redhead (always have been), absolutely mad, fixated on her red hair and her tight white moon of mine, although I was still with the blond in the back of my mind and in my daily life all during the proceedings; actually, the blond has always been there (in the back of my mind, that is) and in the end the redhead drove me insane, as you might be suspected to understand by now, after reading all the story such as it is truly written by the way it took place just a few months ago, in the summer of 2008. You couldn't believe it even if you’d been there. I mean. The redhead was hot, on fire, what a slut, what a foxy woman! Yes. Indeed. What a woman.

These days – today - I feel like calling her up and ask –merely that and nothing else – what’s up, baby?..

É o sexo, energúmeno!



Anda aqui um gajo, a tentar ser criativo de várias formas, o tocar o estilo como se fosse um virtuoso do html e o conteúdo como se almejassse ser mais do que um troll dos significantes referenciais dos vocábulos, a escrever que nem um possesso, a ler que nem um devorador de palavras e, depois, enfim, vê-se confrontado com factos triviais de merda e ao mesmo tempo decisivos como se fossem o supra-sumo da análise sociológica mais recomendável. É terrivel, só vos digo; alguém me explica porque carga d'água é que a maior parte dos novos e anónimos visitantes que chegam a «O Lado Negro da Lua» (todos os dias sete ou oito à vontadinha), o fazem por intermédio deste post?..

Pensamento da manhã



“My mother said it was simple to keep a man, you must be a maid in the living room, a cook in the kitchen and a whore in the bedroom. I said I'd hire the other two and take care of the bedroom bit.”

Jerry Hall

11.2.09

Me and the blond




She's still in love with me, i know that much. Maybe i'm still fond of her, too. Most likely. I guess i could pick up the phone and give her a call and she would answer. But no. Will not do. Not up to it, fuck the blond, although tired, exhausted, consumed, i'm not that crazy, the blond would dry me up completely and in one, two, five years at the most, i would look back to this day and feel as the most miserable man on earth. No, i rather sleep this one off alone; anyways, as i've been told ever since my finest days back as lad fighting for my own life against a devil much worse than the one I presently face, the truth is that what doesn't kill you makes you stronger.

What da fuck?



Lúcio! Lúcio, cê tá bem?!? Na boa miúda, acordaste-me, porque? O carro Lúcio, seu carro tá todo esmagadinho, cê tá bem mesmo? Fino, tou fino que nem um rojão e umas papas de sarrabulho, cof, cof. Papas de quê, Lúcio, tá doido, tá bem, sério que tá mesmo bem?.. Já te disse Patrícia, tou fino, com sono e umas contusões mas 5 estrelas e a pé, fora isso. Uai, tu deves ter tido uma sorte daquelas, bateu forte mesmo, hein?.. Pois, tenho um anjo negro protector no céu, senão agora estava a fazer comida para peixe. Foi lá em Lisboa que cê bateu?.. Na marginal Patrícia, Estoril Lx, falharam-me os travões, perto da curva do Mónaco, por sorte, tava um carro à minha frente e serviu de aparador. Ai Lúcio, não fica triste não, essas coisas acontecem... A quem o dizes, precisas de alguma coisa, Patrícia?.. Não, querido Lúcio, vim só saber de tu e tua saúde... Já soubeste, posso voltar para a cama?.. Olha Lúcio, se tu precisar, tu me diz, cê quer que eu lhe empreste o Volvo?

Pensamento do dia



No princípio do Verão de 1942 a terceira ofensiva de Rommel em África atinge o paroxismo. A 28 de Maio, na frente de Gazala, entalado entre campos de minas, a 150ª brigada de infantaria e as 2ª, 22ª, e 4ª brigadas blindadas inglesas, o Deutsches AfrikaKorps, carecido de munições e de água, parece perdido… Teria Rommel cometido o erro fatal? Efectivamente, não. Na mesma noite, o alemão iria dar mais uma prova do seu génio; correndo um risco terrível ordenou aos seus sapadores que abrissem um corredor e fez recuar o DAK para lá dos campos de minas. E, uma vez mais, os tanquistas ingleses, lançados na perseguição, caíram sob os canhões 88 que Rommel havia mantido de reserva… Durante dois dias, foi um atirar aos coelhos… Uma autêntica carnificina. A 3 de Junho o VIII Exército inglês deixara praticamente de existir e as guardas avançadas dos panzers de Rommel precipitavam-se em direcção a Tobruque e, mais para leste, também em direcção ao Cairo. Nunca aí entrariam, mas isso é outra história.

Made for walking



Got fucked


Just when i thought things couldn't get worse. Já dizia o meu velhote, quando um gajo tá na mó de baixo até os cães lhe mijam em cima. Encarar esta merda como? Fair play? Puta que pariu. See you if and when.

10.2.09

Got lucky

See u 2morrow :)

Eureka


Estou a ter uma ideia. Sinto-a ganhar forma, contornos, especificações, pré-requisitos. E que bela que me parece esta ideia. Não é lá muito original, já sabem que a minha mente, à semelhança da maior parte das vossas, funciona basicamente por raciocínio analógico; quer dizer, é uma ideia original para Portugal, já se começou a fazer lá fora, aqui não tenho pontos de referência mas, se lá fora fazem… Isto, embora, mesmo que lá fora os resultados permaneçam ambíguos, para utilizar um adjectivo mais ou menos «neutral».

Que ideia do caraças. Com o tempo e com dedicação da minha parte, esta ideia pode ajudar-me a resolver uma data de problemas. Pode ajudar-me a fazer aquilo que mais gosto de fazer e a ter o suficiente para o poder fazer sem ter de olhar para o lado à procura de meia dúzia de tostões para comer ou para fumar os cigarros que me alimentam as ideias. Esta ideia pode também ajudar outras pessoas a terem um quotidiano melhor, o que é sempre subjectivo, bem o sei, mas, dentro dessa subjectividade, é uma ideia que pode ajudar outras pessoas, dar-lhes um pouco de gratificação, um pouco de prazer fora do ramerrame das suas existências quotidianas. Afinal, quem não gosta de sonhar? Quem não gosta de sair de si? Quem não gosta de «viajar»?

Terei a ousadia de levar a ideia à prática? E se for um fracasso? E se falhar miseravelmente e ainda por cima for alvo de chacota? Falhado já eu sou, sempre fui, mas alvo de chacota… Isso era bem pior, pelo menos, apesar de falhado, ninguém faz chacota de mim, sinto que há um certo respeito pelo meu falhanço pessoal, um pouco como se pensassem: este tipo tem talento, é uma pena…

Agora a chacota? Bem, no fundo não seria «eu» pessoalmente que seria alvo de chacota, seria ele, o «Lúcio». Mas não serei eu, o tipo que está a ter a ideia, pelo menos em parte, minto, em larga medida, uma personagem de ficção que eu próprio criei e que às vezes parece ter vida própria, o tal do Lúcio Ferro?..

Depois, há uma outra questão ainda, se desenvolver a ideia e a levar à prática, é certo que poderei (um grande mas) obter benefícios de que necessito com urgência, contudo, mesmo se assim for, é certo que com estes virão também responsabilidades e deveres, numa palavra, «constrangimentos», pouco importando serem auto-impostos ou não, estes passarão a desempenhar um papel chave na minha acção e até que ponto não serão esses «constrangimentos» conflituantes com as minhas ambições criativas?

Até ver, estas desenvolveram-se com um único «constrangimento»: tentar alcançar o melhor desiderato possível aos meus olhos e aos meus olhos apenas; não que viva no vácuo e que não me importe o que os outros pensam, bem pelo contrário, é também ponderando as suas opiniões que tento «melhorar» a minha acção, só que, em última análise, sendo a acção criativa das mais solitárias que conheço (isso e bater uma), cabe-nos a nós escolher, decidir, apostar, mesmo quando o fazemos contra a maré vigente.

Se desenvolver a ideia, será que essa liberdade de escolha não ficará coarctada?

Disse Mussolini, entre outras barbaridades mais ou menos acertadas, que era preciso ousar: «Ousar é uma necessidade humana» e viu-se como acabou Mussolini. Sim, não sou Mussolini, nem sequer tenho perfil de Rolão Preto, quanto mais, mas… E se eu ousasse?


9.2.09

Pensamento da noite



Desperate times call for desperate measures.

Ana Drago

Um dia destes, vou armar-me em Rolão Preto, bater-lhe um coro bem batido, falar-lhe da utopia do social nacionalismo, do amor fraterno entre os povos e da amizade entre homem e mulher, bem como de outras coisas que tais, leituras de Marx, Rosenberg e Luxemburgo. Vou ensinar-lhe a erguer o braço, a esticar os dedos e, porque não também, a desenhar no ar o V da Liberdade; vou afeiçoar-me aos seus gestos, vou fazê-la afeiçoar-se aos meus e vou levá-la para a cama, como se fosse naturalmente só a consumação que sempre aguardou dos seus mais puros sonhos ideológicos.

Obviamente, não vai ser hoje, nem amanhã, nem depois de amanhã. Não quero que julgue que sou tarado. Não a quero assustar, pois, nem a quero intimidada, como às vezes a observo no hemiciclo (coisas de quem visita uma casa de meninas na avenida D. Carlos), não, quero-a tal como é, de griffe e com a sua pseudo rebeldia pequeno-aburguesada. Quero papá-la assim, todinha, por inteiro, tal e qual é, petite and skinny e, sem desfazer, talvez tomá-la nos braços e ensinar-lhe uma coisa ou duas acerca do amor.

O Blogue do Vício



No processo de reconfiguração de «O Lado Negro da Lua», para além da para mim dramática mudança do «modelo clássico» para o actual «esquema» do novo blogger, à qual resisti com a determinação de quem fica a guardar o forte mesmo após compreender que não chegariam reforços e que essa era uma causa (quase) perdida, algumas ferramentas e sobretudo alguns blogues foram-me extremamente úteis.

Sendo certo que a minha mente funciona por raciocínio analógico, i.e., pego nos exemplos html disponíveis e, por trial and error, seja isso esticar colunas ou animar imagens, busco o efeito que pretendo, penso que me ficaria mal não destacar aqui um dos blogues que me ajudou imenso e que, julgo, ainda irá ajudar mais, futuramente, e ao qual recomendo uma visita, porque vale mesmo a pena, pelo menos para quem gosta de Brincar com o Blogger.

É um dos blogues do companheiro Vício, se é que a informalidade me é permitida. Grande bem haja.

What da fuck?



Tou, Lúcio? Olá, sou eu! Oi miúda, tá tudo? Tudo bem, olha, amanhã vou a Lisboa e vou dormir a tua casa… Vais? Vou, sim, tu é que convidaste, lembras-te?.. Sim, sim, claro… Mas sabes, não tou em casa nem penso regressar amanhã… Parvo! Telefonaste na sexta de madrugada, acordaste-me, a convidares! Eu já tinha feito planos para ficar na casa da minha amiga, alterei tudo por tua causa!.. Pronto, pronto, não se fala mais nisso, podes ir lá dormir, vou já ligar ao meu hóspede para te abrir a porta e… Estúpido!


8.2.09

Going bazurk



Fuckin' piece of shit web design good for nothing arseholish software. And it's rated the best in the market. Sure, for computer geeks and computer geeks alone, i'm sure they dig it and know all about it, but for little old me? Dreamweaver? Nightmareweaver, that's what, you motherfucker.


7.2.09

The R6 came through



Levei o R6 ao sul, só porque me apetecia, ele guiou-me de volta a casa, arrancámos até Lx, telefonaram-nos, fomos a uma disco, uma dessas coisas que não nos agradam, mas mesmo assim acabamos sempre por lá parar, ele ficou à porta, enquanto eu deitava fora cinco euros emprestados, a controlar umas miúdas desinteressantes, a fingir que dançava e horrorizado por não haver cinzeiros, voltei para ele, enganámo-nos na saída, lá demos com a casa de Lx, até que finalmente nos metemos ao caminho certo, após dizermos adeus à Luísa, bem antes disso: «nada funciona no teu carro, é um carro de merda!»

E regressámos, só eu e ele, quarenta quilómetros a 10 mil rotações, devagarinho, uma hora e vinte, até à casa verdadeira e o R6 cumpriu com garbo e talento - se não o tivesse feito, não estaria aqui a escrever, estaria na rua, cheio de frio, à procura dum telefone para ligar à assistência em viagem ou lá como se chama essa merda.

Tudo isto, mind you, com quatro litros que teria no depósito e outros quatro que lhe dei a beber entrementes. 170 quilómetros ao todo. É obra.


Álcacer do Sal - Fevereiro



Chove num monitor de 14 polegadas mas, pelo menos, o velho R6 não falhou e a ligação, apesar de intermitente, permanece activa. O bar é giro, há internet, como já devem ter percebido, e miúdas, de província, mal vestidas e campónias (esse dado é meu) e há ninhos de cegonha perto do Sado, mesmo aqui ao lado, o que me faz pensar em ovos, mas é tarde e escuro demais para isso. Bom, é tempo de regressar a casa. A ver se o R6 não me falha. Bendito R6. Boa noite e continuação de bom fim de semana.

6.2.09

Bom fim de semana



Diz o José (não quero ofender os puristas do gajo que só sabia que nada sabia e que achava muito bem não se escrever e que inspirou um tipo chamado Platão, cujos ensinamentos, ai a luz, ai a sombra, ai a alma, fizeram mais mal do que bem, na minha modesta opinião, tratando o José por Sócrates, é só cicuta filho, só cicuta), que é vítima duma campanha «negra».

Se é ou não, não tenho a certeza mas também não quero saber. A mim, o que me preocupa, já diziam os apoiantes do Bill (o Clinton, prontos), «it's the economy - stupid.»

Pois bem, a minha economia está... «negra», má como o balancete do BPN e isso é uma foda.

Este fim de semana, sobram-me duas latas de salsichas, uma lata de atum, um pimento, três folhas de alface, quatro carcaças, meia garrafa de óleo, meio pacote de esparguete nacional, uma garrafa e meia de vinho tinto de pacote, três latas de cerveja de marca branca e quatro saquinhos de chá do bom, restos de outros tempos aúreos.

Agora, as boas notícias: ainda não me cortaram a água, o acesso à internet ou a luz, tenho quarenta gramas de tabaco gold leaf, 77 filtros ventil e 65 mortalhas drum. É, contei, pesei, medi, coisas que têm a ver com economia, «negra» ou não.

Ah, sim, já me esquecia: sobram ainda 15 cêntimos na carteira e aproximadamente quatro litros de gasóleo no depósito, ou seja, dá para ir daqui até à charcutaria mais próxima, levar as carcaças e o vinho, fechar os olhos, cheirar a atmosfera da charcutaria e «comer» peitinhos de frango com piri-piri a «boiar» no pãozinho a sonhar que estou a beber «Mouchão» ao invés de vinho de Alguidares de Baixo.

Campanha «negra» diz o José. Sem dúvida, digo eu; campanha «negra» vai ele ver o que é - realmente - se daqui a uns meses aqui o Je (e falo por milhões de portugueses) não tiver, a uma sexta-feira à noite, pelo menos quatro garrafas de vinho na dispensa (do bom, do Douro, nada de porcarias), 30 euros na carteira e 20 litros de gasóleo no depósito, já para não falar no resto.

E é suposto viver um tipo como eu
assim até segunda-feira, altura em que, note-se, receberei dinheiro que me permitirá pagar todas estas «extravagâncias» deste fim de semana, um fim de semana de epicurismo puro.

Pois é, uma chatice, no Darfur, em Gaza e no Zimbabué é bem pior, só que eu não sou nem darfuriano, nem ganzadiano (ora aí está uma outra lacuna grave, gravíssima, come to think about it, na minha economia recente), nem vivo sob a ameaça dum ditador senil. Não, vivo na Europa. Não é verdade?

Tenham um óptimo fim de semana, que eu também.

Cheers!


4.2.09

What da fuck?


Quando deixar de ser parvo e conseguir fingir amizade por mim, fingir que quando está comigo nem lhe apetece sequer foder buceta que não minha, visto uma saia vermelha e umas meias de liga, de rede, calço umas botas pretas, de cano e salto pingolim, encosto-lhe à parede e faço-lhe um broche de rua, como sei que gosta. Até lá...

2.2.09

O homem vestido de preto



Em homenagem a Fernando Gaspar.

Numa noite amena de Dezembro de 1966 franqueou a porta principal do restaurante Adega dos Passarinhos, sito à rua Luís de Sá Pessoa, n.º 17, na Alta de Lisboa, aliás, um dos meus poisos habituais ainda e sempre que me desloco à capital, um homem vestido de preto, um homem que trazia arrastada atrás de si uma sombra misteriosa, inteiramente cerzida de desolação e negrume.


Era um homem de gestos nervosos embora firmes, cabelos negros se bem que esbranquiçados e vestia uns olhos frios, que nem por isso deixavam de ser brilhantes. Paradoxalmente, era um homem acima de tudo discreto e em simultâneo ofuscante; um homem totalmente desconhecido de todos os outros comensais, um homem com rugas vincadas na testa e as unhas sujas que nem sachos, numas mãos que, a um observador atento, se adivinhavam calejadas por décadas e décadas de labutas dolorosas nos cantos mais ínvios da existência; um homem com umas mãos que, em suma e para os poucos de nós que o conhecíamos e o fitávamos de revés – era notório se esforçava por ocultar, como quem tem vergonha dos seus dedos, ou pavor de que os outros vissem a nu a crueldade que deles emanava.

Eu, cliente da casa fazia uns dez anos e à semelhança dos mais antigos criados de mesa do afamado estabelecimento (trata-se de uma tasca que data de 1874 e que albergou em outros tempos memoráveis tertúlias do grupo dos Vencidos da Vida), entre os quais se contavam o sempre afável senhor António Gil, o insofismável apesar da careca senhor Paulo Gomes e o nunca por demais incontornável senhor Teixeira, reconhecê-mo-lo, de imediato.


Nenhum, de nós, no entanto, deu mostras de se lembrar do homem vestido de preto que daquela maneira invadira, bruscamente, abruptamente (porque não dizê-lo), uma noite que até essa altura se anunciara perfeitamente legislada na graça de São Salazar e do bendito clima temperado, tranquila na benesse dos cinco escudos que acabavam de me pagar, enfim, uma noite de Domingo, morna e aprazível, como são e sempre foram desde que me recorde todas as noites de Domingo na Adega dos Passarinhos no mês de Dezembro (interrompo esta narrativa para vos clarificar alguns pontos que, sendo do meu interesse, também poderão um dia vir a ser do vosso: necessário é dizer-vos que o homem vestido de preto era persona non grata da casa, muito embora, pela parte que me toca, e estou cem por cento seguro, pela parte que toca desde os empregados, passando pelas sopeiras da cozinha até à gerência, ninguém dos que ali o conheciam tivesse dele razão de queixa, bem pelo contrário). O homem vestido de preto Sempre pagou as suas contas e resolveu discretamente os seus assuntos particulares, com o superavit de oferecer a todos generosas gorjetas e sem jamais perder a compostura, apesar de ser seu hábito beber em demasia. Contudo, era persona non grata, vá-se lá saber o motivo, e essa certeza bastava para que fingíssemos ignorá-lo desdenhosamente.


Para além disso, fazia pelo menos seis anos que ninguém lhe punha a vista em cima; tinha-se, uma bela noite de Agosto, a primeira vez que o vira, seis anos antes, assim como chegara, pura e simplesmente volatilizado.


Então, o homem vestido de preto, de sapatos brilhantes e lustroso cabelo preto, com a gabardina de couro e as calças de flanela pretas, centrou-se no lobby de entrada da Adega dos Passarinhos, as pernas afastadas e os pés bem fincados no chão, como um tipo que nada tem a perder, armado em duro, como um tipo que desafia o mundo inteiro sem a ousadia ou o descaramento de o dizer claramente, e aguardou, impávido, soberano, que alguém dele se ocupasse.


Coube ao bom do velho Teixeira fazer-lhe as honras da casa; num aceno que guardava para os melhores clientes o idoso Teixeira inquiriu ao homem vestido de preto se desejava jantar ou se vinha por outro motivo.


O homem vestido de preto, reparando melancólico que uma mosca acabara de falecer - como que por acaso - electrocutada no moderníssimo aparelhómetro anti-insectos que o dono da Adega recentemente mandara instalar, acenou afirmativamente e, sem dizer palavra, despiu a gabardina, confiou-a ao pressuroso do Teixeira e foi sentar-se naquela mesa do canto, a única mesa do canto de onde se podia ver tudo e onde quase ninguém se sentava, estranhava eu nesse momento, quanto mais não fosse por nunca me ter lembrado disso, apesar de me considerar sujeito com olho para os detalhes.


Ao contrário da primeira vez em que o vira, quando comera carapaus em molho de escabeche, o homem vestido de preto pediu desta feita uma dose de entremeada de porco e um jarro de vinho tinto da casa, escuro, da pipa, quase negro.

Então, este vosso servidor, naquele êxtase confiante que medeia entre o segundo copo de três de verde e os restantes, fitou-o de modo descarado, longamente, mas o homem vestido de preto não se desconcertou. Pareceu-me que tinha mais cabelos brancos do que da última vez e que os seus olhos eram ainda mais brilhantes, ainda mais alucinados, se é que possível descrever tamanha alucinação como a que lhe vi luzir nessa - felizmente - já distante, numa noite, subitamente tornada gélida, em Dezembro de 1966.


Recordo-me ainda de que no aparelho de imagens a preto e branco o Braga dava uma tareia à Académica (o que me convinha a mim e aos da casa, ou não fossem eles e este vosso humilde criado acérrimos simpatizantes do FC Porto). A vinte minutos do fim, parecia o campeonato decidido, quando o Jorge, por demais conhecido como o bêbado do bairro, me chamou discretamente à atenção, «Lúcio, topa ali» (coisa no Júlio extremamente rara), para a mesa do canto onde se encontrava o homem vestido de preto.


Até hoje estou convencido de que se não fosse esse reparo tímido do bêbado do Jorge nunca mais me teria lembrado do homem vestido de preto, do homem de olhos brilhantes vestido de preto que sozinho não via ninguém e ao mesmo tempo parecia vislumbrar o Universo inteiro.

Foi quando o Jorge me desviou a atenção do jogo no qual o meu clube tantas esperanças depositava que me apeteceu dar ao homem vestido de preto um bom par de estaladas.


Porém, não o fiz. Li nos seus olhos algo de indizível, perturbador, angustiante, algo de que até hoje não me esqueci e estou em crer que é esse o motivo pelo qual vinte anos depois senti a necessidade de confiar ao papel este aparentemente prosaico episódio.


Incomodado, virei-lhe as costas, na minha vã determinação de desfrutar de uma noite de domingo normal, apreciando apenas os dribles de Sousa para Zé Miguel, os cortes de carrinho de Frasco, bem como as sempre incompreendidas acções dos bandeirinhas, que todos nós os da Adega dos Passarinhos logo comentávamos, acalorados, imbuídos de uma estranha fraternidade, a qual, como é óbvio, logo e ainda hoje se esfumava mal o apito final do árbitro se fazia ouvir, para apenas regressar no dia seguinte, isto é se a roubalheira fosse de monte.


Em vão, tentei ignorá-lo, dizia-vos, mas pareceu-me impossível regressar ao meu tão singelo e contudo tão elaborado prazer dos domingos à noite do futebol e do verde na Adega dos Passarinhos.

Na altura em que os meus olhos de novo recaíram sobre ele, quase que tinha terminado o seu repasto. Apanhei-o no preciso momento em que o senhor Teixeira, sem qualquer desdém e, até, num modo que me pareceu a mim respeitoso em demasiada, não prestando ao jogo do Braga que tudo decidia a mínima pevide, com uma clarividência que me pareceu por demais estranha, lhe perguntava, atencioso: «O senhor vai desejar mais alguma coisa?..»

O restaurante inteiro pareceu-me parar no tempo, suspenso da resposta do homem vestido de preto. Pareceu-me inclusive que até os que o não conheciam sentiam no ar que algo de grave estava prestes a suceder, embora ninguém pudesse, em abono da verdade, prever exactamente o quê, ou como, ou quem.


Por graça ou acaso do destino, na televisão uma lesão de Frasco, centro-campista do Porto, interrompera o jogo e o silêncio do ruído ecoava ensurdecedor a partir do estádio até vir embater de chofre nas paredes engorduradas da sala de refeições da Adega dos Passarinhos, num estribilho cadenciado de tribo de futebol que me lembrou uma canção diabólica.


Então, o homem vestido de preto replicou, naquela voz grave e seca que todos sem excepção reconhecemos com temor, naquela voz desprovida de qualquer sentimento, naquela voz que era como se fosse a de um homem morto e vivo apenas por segunda ou terceira ou sexta prestação interposta, num sorriso cúmplice que só o Teixeira pareceu compreender: «Hoje, Senhor Teixeira, apenas desejo beber um whisky e prestar atenção ao vosso jogo. Estou de folga, como de costume, sempre que vos venho visitar.»


E, como de costume, o Braga acabou por ser goleado pela Académica. Como de costume, o Porto acabou por perder o campeonato. E, como de costume, as nossas vidas acabaram por perder qualquer sentido nesse momento, sem que eu ou mais ninguém tivesse dado fé de que a história se repetia sempre quando o homem vestido de preto aparecia em público. Mesmo quando estava de folga.


Provavelmente, era por essa razão que o considerávamos persona non grata, era por esse motivo que o odiávamos como não odiávamos a mais ninguém. O homem vestido de preto tinha vindo visitar-nos.

Foto via Promenade du Feu.


O Lado Negro em escavação



Caro habitué,

Passei uma boa parte desta tarde a brincar com o template de «O Lado Negro da Lua» e o resultado é o que pode observar. Na verdade, não estou muito convencido, daí que lhe peça a sua opinião, sem mais rodeios: prefere este modelo ou o anterior? Guardei uma cópia do outro e a cada momento posso reverter.

Tenha uma boa tarde.

1.2.09

What da fuck?..


Oi, tudo bem contigo Lúcio, tu andas desaparecido? Népia miúda, ando fixe, tá tudo bem, e contigo Patrícia? Cá vamos, andas desaparecido, há pouco ouvi-te chegar... lá no portão de cima... É, fui às compras e depois voltei, sabes, não quis incomodar, é um carro a diesel e faz barulho... Ai Lúcio, e aí, tu nunca falas comigo, que é feito de ti? Na boa, sabes como é, cada um na sua. Ora Lúcio, eu e tu nos entendemos, sempre, és mau, Lúcio... Sou? Sorry, cada um na sua como te disse, não gosto de te incomodar, aliás, nem a ti nem a ninguém. Nunca incomodas Lúcio... Eu e tu nos conhecemos bem... Estás sozinho?.. Ya. E tu?.. Eu não, mas olha, posso vir aqui tocar que tu abres, mais logo?.. Claro, toca à tua vontade...


At least...


...the day is not a total waste.