27.2.09

A morte de Miguel



Erámos inseparáveis. Do primeiro ano do ciclo até ao décimo segundo, ninguém fazia farinha conosco.Em primeiros, havia o Tosh, pitecantropo para os íntimos, macaco para os outros, que um dia caiu no poço dum elevador em construção e quase morrera. Mas safara-se e fazia parte do núcleo duro.

Em segundos, O Vanela, assim apelidado por ter nascido na venezuela e porque entre nito e vanela era mais fácil ser amigo. Em terceiros, eu mesmo, puto, curioso, otário, nascido em Moçambique.

Foi um encontro de mentes. Erámos todos bons alunos. O Tosh tratava a matemática por tu, o Vanela era craque em línguas e eu dava uns toques em educação musical e trabalhos manuais. Vivemos a adolescencia em grande. Fomos dos primeiros a brincar com a linguagem basic e os jogos do zx spectrum.

Então apareceu a Isabel. Acho ainda hoje que todos os da turma estavam apaixonados pela Isabel e nós os três ainda mais, embora fingíssemos, ao som dos dire straits do irmão mais velho do Tosh, nada disso nos dizer respeito, até porque nessa altura as miúdas não nos interessavam.

O pai do Tosh trouxera para casa um Sinclair 1000, um dos primeiros modelos de computador pessoal a surgir no país e, pouco depois, todos nós nos tínhamos vidrado na tecnologia moderna.