7.7.08

O meu último post



Limpinho. Não imaginava este desfecho há 39 dias. Na semana passada, estive perto do pânico. Na sexta-feira, trabalhava aqui a todo o gás, ao mesmo tempo que escondia de mim mesmo as dúvidas que me assolavam. Lutei contra G. e insurgi-me contra W. No fim-de-semana avancei destemido contra a incompletude que me avassalava e senti a minha causa insatisfeita. Nem por isso esmoreci.

Chegou o dia de hoje [ontem] que agora termina. Na 13ª Hora. Acreditem ou não, preciso de passeios de jangada, de Chivas Regall antes do almoço de febras e de poker ao cair da noite. Alguém poderá censurar-me?


PS - Quero agradecer às pessoas que tornaram possível este post. Quero dizer-lhes que, sem a sua ajuda, este passo, por miserável que possa parecer, não teria sido possível.

Sem vós, não estaria aqui.



6.7.08

Defender a dama

Cheira-me - para estas coisas tenho um nariz extremamente apurado - que muito em breve terei de defender a minha dama. Não auguro nada de bom. Mesmo que, no fim de tudo, a dama passe incólume, os estragos causados à sua imagem, bem, cheira-me, vão obrigar-me a novos e supremos esforços - quiçá em outros tabuleiros, em outras batalhas.

De moto próprio, embarquei no presente desafio. Não tenho ninguém a quem possa atribuir culpas que não a mim mesmo. Se a dama ficar ferida de morte, a culpa é minha e só minha. Mesmo assim, sinto um travo amargo na boca, uma sensação de que de algum modo fui tramado por circunstâncias alheias à minha vontade e - acima de tudo - à minha competência.

De moto próprio dei o corpo ao manifesto e talvez seja só por estar exausto que escrevo esta prosa deslavada de esperança e de saber. De moto próprio embarquei neste navio.

De moto próprio digo a mim mesmo, agora, quando só vejo escolhos e rochedos nesta jornada, que ela chegará ao fim - meta o barco água ou não.

De moto próprio - de livre iniciativa e sem ter sido coagido - digo que a rainha até se pode molhar mas que uma coisa é certa e sê-lo-á sempre, enquanto este vosso escriba for vivo: a dama não naufragará e os seus dias de glória apenas começaram. Caralho!

5.7.08

Pensamento do dia

O tradutor, escravo de dois amos, o autor e o público, prisioneiro dos prazos estabelecidos pelo cliente e dos formalismos linguísticos que este lhe impõe, o tradutor, refém dos seus próprios humores intelectuais variáveis, em cujo nome ninguém repara a não ser quando as coisas correm mal, o tradutor, de quem se diz não ter talento para escrever nada a não ser re-escrever na sua língua o que outros escreveram numa outra, o tradutor, esse herdeiro do legado de São Jerónimo, o tradutor pode facilmente resvalar para o abismo da mais profunda das depressões intelectuais.

2.7.08

A Madalena...

Finalmente, acredito em Proust. Sim, também eu, como Marcel, comi a Madalena, sim, também eu, eu também, traguei a Madalena até ao tutano, até à última migalha.
Só que, no meu caso, foi quando fui mijar ao quarto de banho e o meu olhar recaiu sobre o criado-mudo. Tantas coisas de que me lembrei quando o vi.
Recordei o dia em que chegaste a esta casa, o dia em que me levaste ao IKEA e eu não gostei desse outro-criado-mudo que por lá vimos, quase como se fosse uma Madalena defeituosa e to neguei, peremptório, argumentando que era um criado-mudo «foleiro».
Depois, pegaste em mim num dia de ressaca, arrastaste-me a um centro comercial e ele lá estava - o nosso criado-mudo que agora ornamenta a casa de banho, servindo à descrição aos passantes e aos da casa toalhas de mão, outras de banho e rolos de papel ao Francis.
Senti-a, a Madalena ou o criado-mudo, agora mesmo ao despejar o autoclismo, a sensação de que ele, para além de pertencer ao espaço onde se encontra, pertence a ti e a mim e a nós os dois - faz parte da nossa história em comum; é como a madalena de Marcel, mexe comigo não porque me faça pensar numa tia distante, mas sim porque me recorda de ti. Bem haja para nós e continuemos.
Quanto aos putativos leitores, embrulhem, vão ao corpus, que lá encontrarão, sem margem para dúvidas a definição: naõ só de madalena como também e acima de tudo a de criado-mudo.