6.3.09

Uma pausa


Ao fazer uma pausa na minha última maratona de charros, cerveja, Hearts of Iron II (estou pro, desafio qualquer um), café, cachaça, pão com manteiga, fumos, alface e bacalhau, na companhia do meu bom amigo Francis, um tipo que pede meças a qualquer um de vós, apesar ou se calhar mesmo por causa da sua provecta idade, dou de caras com o dito do momento idílico, que me surpreende, insidiosamente, no televisor idiota que adquiri no tempo das vacas nutridas do verão passado para nos acompanhar às refeições, ou talvez fosse eu um grande estúpido que precisava de objectos para me sentir acompanhado.

Nesse dia (ontem?), não passariam das quatro da tarde e, no écran da cozinha, uma tipa novinha, mas muito boa, dengosa de morena, pernas até aqui, seios até acolá, vestido leve de estúdio bem recheado em tons pastel azul, olhos pestanudos a razar por todo a audiência, e a meterem-se com os universos que a transcendem, segura, devagar, pousa a mão no joelho da calça de ganga dum outro tipo de aspecto duvidoso, à medida que (agora reparo) entrevistam mais um caso de vida, agoniante mas sempre bem vindo para as audiências, juntinhos, muito pesarosos ambos, uma com o outro cúmplices com a vítima que lhes relata a desgraça alheia.

De súbito, então, a realidade abate-se sobre mim e quase desfaleço; venta terrívelmente lá fora e na pequena caixa da janela da cozinha o outro tipo é o João Baião, nota-se que não lhe agrada aquela mãozinha ligeira a uns escassos dez centímetros do seu sexo e o programa era uma dessas xaropadas da tarde - uma dessas porcarias da televisão generalista que até metem nojo.