Quando o Marco chegou à terra tudo se transformou radicalmente e julgo agora que teria sido, por muito que o desejássemos, impossível voltar atrás.
O Marco era madeirense, havia sido guarda-redes de andebol do Marítimo, sabia vestir, tinha estilo, e, acima de tudo, sabia falar com as miúdas, todo ele era relações públicas.
Foi nessa altura que conhecemos a Tininha, a São, a Luísa, a Susana Mamalhuda, a outra Susana, a do Ruca e, com o Ruca, conhecemos também o Gonçalo, o Gonçalo filho do médico e o Miguel, o filho do engenheiro milionário.
Naqueles anos loucos, a Isabel Alpendre passara a ser uma «caveira» do passado (mal sabiamos nós quão profético se revelaria essa alcunha), a Manuela que o Tosh desencantara no 7º B tinha pêlos a mais nos sovacos, ela própria se descrevia «muito peludinha», e nós, porque achávamos tudo isso vagamente idiota, continuávamos a gostar de fazer corridas de bicicleta, até Setúbal e de volta, embora já gostássemos de miúdas e nas descidas posássemos para a fotogradia imaginária que nunca nenhum de nós se lembrou de realmente registar.
Era o verão de 1982 e fomos «penetrar» discotecas, claro, à má fila e como quem não quer a coisa, de gravata do pai roubada no pescoço e blazer a mais escondido nas meias das calças, lá conseguíamos entrar, uma vez por outra. Ao mesmo tempo, o campeonato mundial de futebol desenrolava-se em Espanha, eu tinha televisão, o Tosh também e o Vanela acompanhava conosco. Era verão e entre o futebol e as férias, tínhamos muito, muito em que pensar.
Elas eram todas giras. A Susana mamalhuda era vizinha do Vanela, morava por cima, em frente ao imbecil do Tó Zé, o parvo que namorava com a miúda mais linda desse, deste e doutro mundo qualquer, a Marina. A selvagem e bela Marina. Por isso, como ele também andava ocupado com as suas preocupações de rapaz de 18 anos, não havia azar, o Tó Zé também tinha mais com que se entreter.
Já a Susana Mamalhuda, a líder delas, era alta, bem mais alta do que eu, só o Ruca media tanto como ela, mas ninguém se intimidava com elas todas juntas, A Susana do Ruca era bela, a Tininha não tinha mamas e a São queria deitar-se; para nós e acho que para elas, tudo era simples, repleto de mistério: a idade da descoberta.
|