18.3.09

The right stuff



Bom, já que chegámos até aqui, faça-me um favor, leia esta frase que escreveu, mas em voz alta. Sim, senhor Lúcio: «Estes são exemplos que nos fazem viver, pois sugerem-nos algo, que nos posicionam a mente, de certa forma limpa.» Não acha que há algo aqui que não bate certo? Senhor Lúcio, então, os exemplos do texto fazem com a gente pense da forma mais correcta! Pois, mais ou menos é isso, mas enfim; e, gramaticalmente, não há nada nesta frase que escreveu que o perturbe?.. Tem razão, senhor Lúcio, não há concordância de número... Onde, meu caro, assuma-se como o homenzinho que é e que vai entrar na faculdade pelo menos com 16 valores a português!.. Desculpe, senhor Lúcio, onde é que errei, senhor Lúcio?.. Calma meu rapaz, peço-lhe desculpa, é um erro que todos cometem, desculpe o facto de às vezes ser tão cáustico consigo, é porque deposito imensas esperanças em si, continuemos, quero que me diga onde errou.

No verbo, senhor Lúcio?.. Não lhe vou dizer que sim ou que não. Explique-me, quero a sua explicação para esta burrada. Ó senhor Lúcio, eu acho, senhor Lúcio, que escrevi mal o tempo verbal, é isso? Bom, então, como é que se escreve o tempo verbal de forma correcta, meu caro? Escreve-se assim, senhor Lúcio: «Estes são exemplos que nos fazem viver, pois sugerem-nos algo, posicionam-nos a mente, de alguma forma limpa.» Muito melhor meu rapaz, muito melhor; como estamos de leituras: já leu o «Memorial do Convento»? Não tive tempo, senhor Lúcio, depois da festa estive com a minha namorada e ela acha que isto é perder tempo, desculpe senhor Lúcio.

Não teve tempo? Andava aos beijinhos, não é? Cale-se, não se enterre mais meu caro... Bom, sabe quando é o exame, não sabe? Sei, o senhor Lúcio já disse-me. Já lhe disse, meu caro, já lhe disse, caramba, deixe-se de merdas, quer ou não entrar na faculdade? Quero senhor Lúcio! E como é que se se escreve já lhe disse?.. Diz-se «já me disse», senhor Lúcio.

Muito bem. Aqui tem o seu trabalho de casa. Acha que estou melhor, senhor Lúcio? Depende, essencialmemente depende de si e... tenho uma útima pergunta antes de terminarmos a fazer-lhe: ouça lá, gosta da sua namorada?..

Gosto, senhor Lúcio! É bonita? Pode falar à vontade, tudo o que aqui fala fica entre nós. É linda, linda demais senhor Lúcio, ela é da Filarmónica, foi miss lá da terra e tudo e é minha! Tem sorte Pedro, tem sorte, mas nunca deixe as mulheres gerirem a sua vida, sim? O que quer dizer com isso, senhor Lúcio? Ouça lá, quando foi a última vez que «posicionou» a «mente» da sua namorada?.. Posicionar a mente da minha namorada, senhor Lúcio, eu não faço isso, não percebo. Você não posiciona mentes?.. Não senhor Lúcio, nem percebo que isso quer dizer! Nesse caso, diga-me porque é que escreveu que «estes são exemplos que nos fazem viver, pois sugerem-nos algo, que nos posiciona a mente»?

Alguma vez se lembrou de posicionar uma mente que fosse? Responda! Que merdice vem a ser esta?.. Está armado em intelectual nos trabalhos de casa?..

Tem razão, senhor Lúcio. Ainda bem que percebe, e... o que é que vai fazer? Acho que nunca mais vou «posicionar mentes», senhor Lúcio. E... que mais? Erros de concordância, senhor Lúcio, nunca mais vou dar erros de concordância. Nem mais, acertou. Aqui tem um «extra» ao trabalho de casa, até sexta.