- Não me torres a paciência! Se preciso de ti, é porque me serves muito bem como amante do ministro. Mas não penses que és insubstituível. Arranjo uma vadia capaz de fazer o mesmo trabalho que tu, num piscar de olhos. – Sorriu, maldoso, e aproximou o seu rosto do meu. Senti o seu hálito acre e senti o seu rosto suado. – Se calhar, até melhor. – disse, cáustico, forçando os seus lábios contra os meus.
Largou-me e caí, desamparada, a seus pés, procurando sorver a máxima quantidade de ar que me fosse possível enquanto tossia descontroladamente. O estupor quase me sufocava. Ajeitou o colarinho da gabardina e continuou a falar:
- E mais: esqueces-te de que ela já tinha estado com o Lúcio quando a encontrámos? Às tantas, o microfilme já está na posse dele. Além disso, há ainda o rapaz, no quarto. Mesmo que esta cabra não lhe tenha dito nada sobre o microfilme, ele há-de saber onde pára o Lúcio. Acabarei por lhe arrancar alguma coisa.
Suspirou fundo, tirou um cigarro do bolso de dentro da gabardina, acendeu um fósforo e deu uma longa passa, soltando o fumo lentamente e com o olhar absorto.
- Seja como for, tenho de recuperar o microfilme. Aquela merda contém fotos comprometedoras, documentos, registos de conversas. Tudo obra desta espiazinha nojenta! - cuspiu para o chão. - Era ela que ia fazer chegar o material ao ministro, através do Lúcio, sem este sequer o saber.
- Como? – perguntei, perplexa, levantando-me do chão. Compus o vestido e massajei o pescoço. Já começava a habituar-me aos seus acessos violentos.
- O microfilme seria entregue num envelope contendo um relatório de rotina do Ministério. A minha vida «pessoal» ficaria a descoberto. Seria o meu fim. Cadeia até ao fim dos meus dias. Depois, arranjariam forma de me matar na choldra e enterrar-me-iam juntamente com todos os podres que sei sobre muito peixe graúdo.
- E o miúdo? Onde se encaixa nisto tudo?
- Não se encaixa. Não percebes!? – exclamou, dando toques na testa com o indicador. - É o elemento «imprevisto». Foi apanhado numa história que nada tem a ver com ele. Mas, agora, está enterrado nesta merda até ao pescoço. Não o posso libertar. Se o fizer, vai feder para os lados errados. Depois do interrogatório, livramo-nos dele e do corpo dela. – apontou, desdenhoso, para o corpo inerte da mulher espancada. – Diz ao Torres para trazer o puto.
- E quanto ao Lúcio? Se dizes que nem ele sabe da existência do microfilme, o que te leva a crer que, mesmo que o apanhemos, saberá alguma coisa útil?
- Não sei. – respirou fundo. Passou uma mão pelo cabelo preto, que já revelava alguns fios brancos. – Mas não tenho mais opções. As portas fecham-se, o cerco aperta-se e o carregamento chega dentro de dois dias.
«FOGO! Chefe, a casa está a arder!»
Pedro e eu olhámo-nos nos olhos e, sem trocar uma palavra, avançámos, apressados, em direcção à voz.
Largou-me e caí, desamparada, a seus pés, procurando sorver a máxima quantidade de ar que me fosse possível enquanto tossia descontroladamente. O estupor quase me sufocava. Ajeitou o colarinho da gabardina e continuou a falar:
- E mais: esqueces-te de que ela já tinha estado com o Lúcio quando a encontrámos? Às tantas, o microfilme já está na posse dele. Além disso, há ainda o rapaz, no quarto. Mesmo que esta cabra não lhe tenha dito nada sobre o microfilme, ele há-de saber onde pára o Lúcio. Acabarei por lhe arrancar alguma coisa.
Suspirou fundo, tirou um cigarro do bolso de dentro da gabardina, acendeu um fósforo e deu uma longa passa, soltando o fumo lentamente e com o olhar absorto.
- Seja como for, tenho de recuperar o microfilme. Aquela merda contém fotos comprometedoras, documentos, registos de conversas. Tudo obra desta espiazinha nojenta! - cuspiu para o chão. - Era ela que ia fazer chegar o material ao ministro, através do Lúcio, sem este sequer o saber.
- Como? – perguntei, perplexa, levantando-me do chão. Compus o vestido e massajei o pescoço.
- O microfilme seria entregue num envelope contendo um relatório de rotina do Ministério. A minha vida «pessoal» ficaria a descoberto. Seria o meu fim. Cadeia até ao fim dos meus dias. Depois, arranjariam forma de me matar na choldra e enterrar-me-iam juntamente com todos os podres que sei sobre muito peixe graúdo.
- E o miúdo? Onde se encaixa nisto tudo?
- Não se encaixa. Não percebes!? – exclamou, dando toques na testa com o indicador. - É o elemento «imprevisto». Foi apanhado numa história que nada tem a ver com ele. Mas, agora, está enterrado nesta merda até ao pescoço. Não o posso libertar. Se o fizer, vai feder para os lados errados. Depois do interrogatório, livramo-nos dele e do corpo dela. – apontou, desdenhoso, para o corpo inerte da mulher espancada. – Diz ao Torres para trazer o puto.
- E quanto ao Lúcio? Se dizes que nem ele sabe da existência do microfilme, o que te leva a crer que, mesmo que o apanhemos, saberá alguma coisa útil?
- Não sei. – respirou fundo. Passou uma mão pelo cabelo preto, que já revelava alguns fios brancos. – Mas não tenho mais opções. As portas fecham-se, o cerco aperta-se e o carregamento chega dentro de dois dias.
«FOGO! Chefe, a casa está a arder!»
Pedro e eu olhámo-nos nos olhos e, sem trocar uma palavra, avançámos, apressados, em direcção à voz.
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