A propósito do escândalo em que este tipo se vê envolvido reparo como os pequenos detalhes nas palavras dão mais ou menos importância ao assunto. Assim, num canal de televisão o sujeito que terá feito umas falcatruas com a eventual cumplicidade de Sócrates é referido como «o tio materno do primeiro-ministro» e eu penso, ena, porra, um tio materno é uma coisa importante, devem ser muito próximos, tio e sobrinho... No entanto, rapidamente me desengano ao passar a outro canal, que se refere ao indivíduo como o «meio-irmão da mãe de Sócrates». Não deixa de ser tio, mas já não é a mesma coisa, pois não? Afinal, se nem um meio-irmão é a mesma coisa do que um irmão, o que dizer de um meio-tio?.. Podia dar milhares de exemplos similares mas não vale a pena, este caso é sintomático: estas diferenças de ênfase parecem insignificantes (para a maioria do público que não tem o treino para as topar e descodificar as implicações) mas não o são, quer sejam intencionais ou não cumprem um objectivo político, i.e., conferir ou retirar importância a algo e demonstram mais uma vez como na política e sobretudo no seu tratamento pelos média tudo são palavras, e toda a nossa percepção é moldada pelas palavras com que nos alimentam. Tenham um bom dia.
27.1.09
Palavras, tudo palavras
A propósito do escândalo em que este tipo se vê envolvido reparo como os pequenos detalhes nas palavras dão mais ou menos importância ao assunto. Assim, num canal de televisão o sujeito que terá feito umas falcatruas com a eventual cumplicidade de Sócrates é referido como «o tio materno do primeiro-ministro» e eu penso, ena, porra, um tio materno é uma coisa importante, devem ser muito próximos, tio e sobrinho... No entanto, rapidamente me desengano ao passar a outro canal, que se refere ao indivíduo como o «meio-irmão da mãe de Sócrates». Não deixa de ser tio, mas já não é a mesma coisa, pois não? Afinal, se nem um meio-irmão é a mesma coisa do que um irmão, o que dizer de um meio-tio?.. Podia dar milhares de exemplos similares mas não vale a pena, este caso é sintomático: estas diferenças de ênfase parecem insignificantes (para a maioria do público que não tem o treino para as topar e descodificar as implicações) mas não o são, quer sejam intencionais ou não cumprem um objectivo político, i.e., conferir ou retirar importância a algo e demonstram mais uma vez como na política e sobretudo no seu tratamento pelos média tudo são palavras, e toda a nossa percepção é moldada pelas palavras com que nos alimentam. Tenham um bom dia.
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