11.1.09

Ariel - Parte VI

Abri os olhos sem me lembrar dos acontecimentos recentes. Voltei a fechá-los. Hm... que dor de cabeça tremenda. Que acontecera? Sim... o Lúcio a dormir na minha cama... A noite com a ruiva, o passeio que fomos dar, à noite, sob um luar auspicioso, e depois… o carro preto derrapando no alcatrão, o grupo de sujeitos mal-encarados saindo do breu e a derradeira pancada na cabeça. No fim, ribombava-me no cérebro aquela voz mais fria do que a chuva que começava a cair: «Boa noite, querida, a dar um passeio nocturno com o teu amigo? Metam-no no porta bagagens. E a ela também, já que parecem ser tão amigos». Antes de perder os sentidos, observei-a, num vislumbre, resistir e esbracejar, mas eu nada podia fazer. Voltei a abrir os olhos e apercebi-me da sua presença. Ao longe, parecia ouvir vozes, vozes indistintas, abafadas pela chuva que caía lá fora, sobre um chão de pedra. Olhei para o lado e já ela estava acordada, observando-me, sentada à beira da cama, enchendo-me o olhar e roçando as pontas do cabelo no meu rosto. Não resisti e, num impulso, puxei-a para mim, e fui subindo com a mão pelas suas pernas, lento, tacteando o caminho com dedos diligentes, beijando-a com a vontade reprimida a noite toda. Ela resistia, empurrando-me, mas cedo baixou as defesas. Eu sabia que acabaríamos juntos nesta noite, apenas não conhecia as circunstâncias. Com o rosto afogueado e o peito em alvoroço começou a afastar-me violentamente. «Pára... pára!» Sussurrou num grito reprimido. «Estou a ouvir passos!» A porta abriu-se lentamente com um lamento de dobradiças e entrou um homem. Com olhinhos pequenos e pretos arrastando-se lentamente nas órbitas, perscrutou a cama desarrumada, as nossas roupas amarrotadas e, por fim, os nossos rostos quentes e corados. Contorceu os lábios, obrigando-os a um sorriso escarninho e molhou os lábios com a língua. «Bom dia, dormiram bem, meus queridos?» «Pedro…» Deixou a mulher escapar num estranho guincho abafado. Era terror, não há outra palavra. Caí em mim: fora raptado por um maluco qualquer, um criminoso ciumento (ou quetreria mais alguma coisa?), e ninguém sabia que eu estava aqui. A minha única esperança era o Lúcio, mas como poderia ele descobrir-me se nem eu sabia onde e com quem me encontrava?estava aqui. A minha qualquer, um criminoso