27.12.08

Coisas que metem nojo



Uma das coisas que mete nojo é as pessoas que aparecem sem avisar. Está um tipo muito bem a despedir-se de amigos que lhe são caros, enfia-se no automóvel com um adeus e até já, e, sem mais água vem ou água vai, pessoas que também lhe são caras aparecem sem avisar, numa de desconfia, numa de cara de porco, sem perceberem que a única coisa de que estão a dar cabo, a única coisa que deveriam defender e estão a deitar fora é o amor que sinto por elas.

Meteu-me nojo quando isso me aconteceu era eu um puto e o meu pai apareceu sem avisar e continua a meter nojo quando tu apareces sem avisar, sem dizeres água vem ou água vai, sem uma palavra de carinho ou de gosto por me veres, só acusações e tropelias que até me apetece perguntar: é isso que tu fazes quando não estás comigo? Julgas-me de acordo com os parâmetros que tu e os teus estabelecem, é assim que tu me vês? Desculpa se te digo, e desculpa o «desculpa», foi assim que me ensinaram, mas o que é mais do que a dúvida nojenta que deitas aos meus pés é que a minha educação não me permitiriria jamais aparecer sem avisar, tal como o fizeste, pronta a deitar no meu rosto o indicador acusativo. É apenas algo que não faria a um mendigo, muito menos a alguém por quem sentisse amor. Tão só e simplesmente.

Vamos a ver, é toda a psicologia da coisa que mete nojo. Mete nojo e acho que é por isso que acaba de terminar uma coisa que até achava importante.

Vê lá bem: passei a noite toda, tortilha, bom vinho, chouriço assado, frango no churrasco e arroz perfumado a falar de ti, a louvar-te entre dois e três tragos de boa beberagem que não é da minha mercê ofertar a amigos como os que ainda vou tendo e até a dizer como são bonitos os teus defeitos - a dizer do quanto gosto de ti, de como és importante para mim, perante pessoas que não são pessoas quaisquer, amigos, o meu melhor amigo, sua puta - afirmando-lhes com te amo, a pessoas que considero e depois, logo no seguimento, sem mais, apareces sem avisar, lanças a mão à minha cara, sem sequer perguntar ou te justificares, que era a primeira coisa que deverias ter feito, para me dares uma bofetada no rosto à má fila e parece que até ficaste à espera que te agradecesse, como se fosse um papalvo feliz e contente.

Por quem me tomas? Achas que devo prestar-te atenção? Achas? Não me parece de todo. Sabes que mais, isso não me interessa.