«No dia em que Fanny atrevessou o nosso jardim, passando como a representação da elegância por entre as rosas e os jasmineiros, sobre os quais adejavam ao sol da Primavera as primeiras borboletas cor-de-palha, lia eu um livro de Balzac, e, estendido num banco de cortiça debaixo dos lilazes, sentia vagamente no espírito, ou talvez que fosse no sangue, um efeito semelhante ao que experimentaria se uma das heroínas do meu elegante narrador fizesse estacar diante de mim a parelha do seu coupé e eu descobrisse, palpando o estribo de entre uma nuvem branca, uma delicada botinha cingindo o mais arqueado dos pés e o mais aristocrático dos artelhos.»
Ramalho Ortigão
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