10.10.08

O clone (antevisão)

Ao que parece sou um clone. O DNA do meu Pai é exactamente igual ao meu. Foi o resultado que recebi hoje do laboratório. Mas será que o resultado é fiável? Os exames foram obtidos com cabelo existente no caixão, presente no mausoléu da família. Terei que repeti-los eventualmente com tecido ósseo, por muito mórbido que possa parecer.

As minhas suspeitas cada vez se avolumam mais. As minhas fotos e as dele em idades semelhantes eram completamente iguais. Só havia alguma diferença no vestuário. E depois as pessoas que a rir me diziam que eu era um clone. Eu ia sorrindo, que estupidez, sabendo eu a maneira de pensar do meu Pai.

Só comecei a ficar preocupado quando uma senhora quase desmaiou ao conhecer-me, depois de me chamar Paulo. Era já a segunda vez. Da primeira vez, fora uma outra senhora, casada com um amigo do meu pai, que vivia e ainda vive em Itália.

Mulher inteligente e muito culta, bastante acima da média, e calma, muito calma. Num primeiro encontro em que quase desmaiou também, muito discreta, fez-se encontrada comigo e pediu-me para passear um pouco ao longo do parque.

Estava um dia lindo Olhava-me fixamente visitando o meu rosto, as mãos, nas quais pegou suavemente, mas tudo muito natural e sem que eu estanhasse. Era bonita, ou melhor linda, embora já com rugas.

Que lhe iluminavam os olhos, curiosamente. Disse então como se falasse sozinha a pensar alto: Paulo o que aconteceu para estares aqui comigo? Senti, de certeza sentida, que ela amava o Paulo.

E quase senti pena de não ser ele. Mas mau. Foi quase a medo, que lhe perguntei: estará a confundir-me com o meu Pai?.. Olhou-me como se acordasse e disse devagar: Esquece, deixou-me as mãos suavemente e foi-se embora.

Ainda disse baixinho: perdoa.

Soube depois que tinha regressado a Itália.