22.1.08

22-01-2008




LDT 22 – 01 –2008
Sumário

Aula extremamente interessante. Estamos há quase duas horas a vegetar e a apresentar textos que não vão servir de nada para o nosso futuro. De facto, a aula decorre no preciso momento em que escrevo isto e, embora neste (naquele?) momento este texto sirva apenas para horar, a verdade é que, agora (sim, neste momento, não naquele), penso já em dedicá-lo ao leitor. Como ia dizendo, a aula decorre no acto da escrita e apercebi-me de súbito que me estou a cagar, porque não dizê-lo?, para os adjectivos axiológicos, positivos e negativos, nenhum escapa, para a etopeia, para as prosopografias por esse mundo espalhadas ou para o sistema de relações dos tuaregues, dos vikings ou dos piratas, paz às suas almas!, e para a casa assombrada do Poe (atenção, notícia de última hora, parece que os tuaregues têm rebanhos e há quem afirme que tenham, inclusive, cavalos). (Bocejo) (2º bocejo) (Bocejo longo, breve lacrimejar de tédio e… bem, somente tédio). – Exacto! …não estou a perceber, - exclama a professora num súbito clarão de compreensão cósmica que, como já vem sendo habitual, depressa se esvaneceu no vazio do pó cósmico que é a sua mente, um planeta morto. – Ah, o pronome, sim. Tenho fome… neste momento, a única relação que quero ter com adjectivos, substantivos e afins é que estes se traduzam em bife tenro e suculoso (Mia Couto, rói-te de inveja!) com batatas fritas e, de preferência, com uma cerveja bem fresca a acompanhar. Não obstante, estimado leitor, nem tudo são rosas numa aula de LDT. Aprendi, também, uma coisa muito interessante, de entre as muitas que tenho vindo a aprender nesta aula, tais como err…. e hm…, mas bem, uma coisa muito interessante, colegas mestrandas que consideram que a expressão inglesa comic book se traduz como «obra cómica». Não é grave (pronto, é!), apenas estúpido, a sua carreira que se foda, em bom inglês, não podia dar menos do que uma foda para a carreira delas que, aliás, dará, com toda a certeza, uma poderosíssima obra cómica, assim como o primeiro número do Tio Patinhas. O que na verdade me aborrece é que, quando chamadas à atenção, insistam na idiotice e digam comentários geniais como «fica em aberto» ou «aqui julgámos que não se adequava traduzir comic book como banda desenhada». Como diria o meu bom amigo George Carlin: Fuck'em! E, mais interessante ainda, não fosse a intervenção magnânima e com um perfeito sentido de oportunidade deste vosso criado, passaria ileso pelo escrutínio rigoroso da profesora que, com todo o seu conhecimento sobre tradução, inglês e português já ia dizer: “entõn, vamos passarrr ao prrróximô grrrupô.” Não é ser picuinhas, também dou erros em tradução, muitos e até imbecis, mas, que fazer?, cáustico, sinto-me cáustico… Talvez não estivesse a rabiscar isto no caderno se a aula me ocupasse devidamente com algo interessante e desafiante. Agora, são os alemães. Escusado será dizer que não percebo ponta d'um corno; por outro lado, a professora também não, mas, como já tiveram várias oportunidades de perceber, isso já é cour du jour. São 14:00 e parece que o meu grupo hoje já não vai apresentar. Mas isso é somenos! É o melhor grupo e com as miúdas mais giras. Além disso, pode contar com o génio do B. e com o meu profundo conhecimento sobre… aahhh… E os alemães lá vão, lado a lado com o Goethe e com o Barrento, em Nápoles (ou será no Nepal?), a discursar sobre o processo de enchimento (de chouriços?), a blitzkriegar a malta como se não houvesse amanhã. E assim se vai mestrando em tradução, a gozar a vida, meio etopaico, meio prosopográfico. Ah, duas horas em ponto! Chow time! Não sei que fim dar a este texto. Dei-o a ler à S., ela riu e, no final, é o que interessa.
There is no hell. There is only France.
Frank Zappa