6.8.07
Blogosphere Blues
Já há vários anos que ando a blogar, tenho dado ao assunto alguma ponderação ao longo de todo esse tempo e ainda não consegui encontrar uma resposta apropriada para a questão mais pertinente no que a esta matéria diz respeito: o que é blogar?
De certo modo, suponho que isso sucede porque blogar é uma das actividades mais criativas e ao mesmo tempo mais individuais, mais solitárias, que se possam levar a cabo na nossa época, neste admirável mundo novo em que o vizinho da porta em frente é um estranho e a moça do supermercado uma gaja qualquer que nos atende mal e porcamente e os amigos que temos só os vemos uma vez por semana e no emprego anda tudo à cata do mesmo, do tal do lugar ao sol que, supostamente, nos traz de bandeja a felicidade que não sabemos aproveitar.
Mas, o facto é que não é assim na blogoesfera ou nos outros sucedâneos que a Internet nos proporciona. Não, na net podemos ser criativos, dizer aquilo que não dizemos a mais ninguém, explorar o outro(s) e a nós próprios e, acima de tudo, sermos reconhecidos por aquilo que mais nos interessa: sermos reconhecidos enquanto indivíduos (não um tipo qualquer que acabou de fazer uma tradução merdosa pela qual ainda por cima lhe vou ter de pagar umas massas, o pulha).
E, depois disso, a blogosfera é o reino da liberdade e a liberdade é, por definição, o reino da criatividade. Mas, como sermos criativos, num mundo virado para si mesmo e para o imediato e individualista como o raio? Difícil.
Por isso, suponho, é que eu blogo sempre que posso. Acima de tudo, os blogues são meios de expressão da criatividade e numa época virada para o individualismo, expressar a criatividade é quase uma exigência básica da vida: é a criatividade que faz de nós especiais, é ela que nos distingue e, como referi, os blogues são meios privilegiados para a expressar.
Ser criativo, não ser apenas o Luís não sei das quantas que trabalha no banco há 20 anos e cuja cara já está enrugada, gasta, eis o que a Blogosfera nos permite fazer.
Até pessoas que só blogam uma vez por mês, até pessoas que apenas blogam para os seus amigos mais próximos, para os seus familiares ou apenas para si próprios; até pessoas cujas mentes não são, como dizer isto, criativas por aí além, todos os bloguers se envolvem numa actividade individual de imaginação criativa: os blogues necessitam de conteúdo e este não aparece das nuvens sem mais nem menos.
Blogar força o bloguer a pensar por si próprio de maneira a alcançar aceitação, e reconhecimento, por parte de si mesmo [atenção que é mesmo assim, qual não foi o bloguer que não ficou a olhar para o seu blogue e a pensar: isto está mesmo giro?] de outros [a audiência, que é o próximo passo] ou de ambos.
Há uma dimensão dupla no processo: o individualismo compete com a necessidade de pertença a uma comunidade de interesses, gostos, sentimentos partilhados, etc e etc.
Também por isso blogar pode tornar-se altamente viciante, o que pode acarretar impactos a vários níveis na vida dos indivíduos, alguns um pouco [ou muito] desagradáveis ou, bem pelo contrário, podem levar o bloguer até fronteiras que nunca julgou possível cruzar; podem, inclusive, mudar radicalmente a vida dos indivíduos, muitas vezes para melhor.
Também há uma outra consideração menor a ter em linha de conta, a de que esta história se pode tornar, bem, um pouco frustrante, especialmente quando o bloguer considera a sua actividade de modo tão ou tão pouco sério ao ponto de desejar uma audiência abrangente.
Seja como for, blogar e todos os outros sucedâneos que a Internet proporciona mudaram radicalmente a vida das pessoas e representam uma revolução, não só na forma como os indivíduos se expressam, mas também e [o que quase me mete medo a mim, um tipo que cresceu e se formou numa época em que nem sequer existiam telemóveis] se relacionam uns com os outros.
É de capital importância que percebamos o enorme significado da Comunicação Mediada na sociedade Ocidental. Tudo mudou com o advento da Internet e, mais ainda, com a possibilidade de expressão individual e de comunicação que ela traz na sua esteira. Onde é que, enquanto cidadãos e cidadãs, nos levará tudo isto?
Cada vez mais, a percentagem de tempo que passamos a comunicar se desenvolve em frente a um computador, tratando das nossas necessidades e desejos diários a partir de um teclado. Compras por um teclado. Impostos por um teclado. Amor por um teclado. Morte por um teclado?
Pode argumentar-se que a comunicação sempre foi mediada, de uma maneira ou de outra. Basta o exemplo da comunicação mediada pela Igreja e pelo Clero, um pouco por todo o mundo e em quase todos os períodos da existência, a comunicação que Igreja mediou entre o Homem e Deus.
No entanto, permanece o facto de que a Igreja ainda desempenha o papel de mediador [Russel estava enganado nesse aspecto] e agora até o pode fazer por intermédio da Internet! E as seitas e os atentados e os marados crescem, crescem, crescem.
Por outro lado, a net traz agarrada a si o relativismo total e absoluto. Até há palhaços que, single handed e com a ajuda de um PC ligado à rede, “provam” que o 11 de Setembro foi obra do Governo dos Estados Unidos!
Termos como sociedade on-line, comunidade on-line, vida-online [será possível acreditar nisto?!?] sexo on-line, tornam-se banais e a gente come e come e “came”.
Quando eu era rapaz, e isto talvez seja nostalgia, o meu avô costumava levar os netos todos ali para o Minho, para Caminha e para Moledo, para o seio da Natureza e dar-nos umas valentes tareias sobre a Sabedoria e sobre o Xadrez e ensinar-nos acerca dos prazeres da boa mesa, de ler jornais e de beber café em goles longos de malgas típicas e acerca da amizade genuína. Ensinou-nos acerca dos homens e das mulheres. Trouxe felicidade, conhecimento e o bichinho do raciocínio às nossas vidas ainda tão jovens.
Seja como for, ao longo da minha vida desenvolvi uma personalidade muito céptica e o meu avô já cá não está para me ensinar o resto do caminho. It’s a brand New World, that’s what it is, but is it good or is it bad or is it both? You tell me.
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