20.6.07

Estagia, filho, estagia!



Camóniú, sanóvabiche! Camóne beibi, a ver se me comes! Camóne Luís Vaz, amanda-lhe com as guidelines que eles já vão saber o que é meterem-se com um curso de linguistas! E zás: enfio-te os actos ilocutórios no John Searle! Zás: enfio-te a equivalência no Roman Jakobson! Zás: enfio-te a gramática generativa no Noam Chomsky! Zás: enfio-te as máximas conversacionais no Paul Grice! Zás: enfio-te a skopos theory translation no Hans Vermeer, e acabamos todos numa sardinhada à Teoria da Tradução, a estender o braço, meio Emma Wagner meio Andrew Chesterman, ok boss, tudo ok... Estamos numa porreira, meu, um trip fenomenal, proibido voltar atrás, viva a tradução... né filho? Pois, é irreversível, pois claro, irreversivelzinho, funcionalistas a dar com pau, nada será como dantes: agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra! Deixa lá correr os fonemas, homem, andas numa alta, pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Dicotomias, triângulos semióticos, pá! «A culpa é do relatório, pá! Esta merda do relatório é que divide a malta, pá! Pois, pá, é só paleio, pá, o pessoal não quer é trabalhar, pá! Razão tem o Saussure, pá!» «Olha: estás aí com uma ambiguidade lexical!» «Pois, pá!» «O que é essa variação diastrática que tens aí na página três?» «Epá, deixa-te disso, não desestabilizes, pá!» «Eh, faz favor: mais uma co-ocurrência marcada sem equivalente directo em português.» «Uma porra, pá, um autêntico desastre o relatório de estágio! Esta confusão, pá... a malta estava sossegadinha, dois testes por semestre, uma apresentação oral... Tá bem, essa merda dos exames, pá, bolonhas e o carago... mas no fim de contas quem é que não estudava, hã? Quantos marrões é que não havia nesta merda desta faculdade, hã? Quem é que não empinava? Quem é que fazia directas a estudar, assim mesmo, o que se chama estudar! Hã? Meia dúzia de estroinas, pá! Meia dúzia de estroinas que acabavam todos a fugir prós erasmus!... Isto é tudo a mesma carneirada!» Consolida, filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como a Floribella, não é filho? A cabra da Floribella entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais traduzir entretido, não é? Pois claro: ganhar forças, ganhar forças para consolidar… para ver se a gente consegue num grande esforço académico traduzir esta intraduzibilidade filha-da-puta, não é filho? Tu vais estagiando, estagiando, que ao menos agora pode-se estagiar - ou já não se pode? Ou já começaste a fazer o teu processo de bolonha tamanho familiar, hã? Pois claro! Anda aqui um gajo cheio de prontuários, a pesquisar no corpus, a aprender collocations - e depois? É só porrada e mal viver, é? «O menino não é licenciado», «o menino é estagiário», «o menino pertence a um curso superior sem futuro histórico». Entretém-te, filho, entretém-te! Deixa-te de bolonhesas, que a tua bolonhesa é o trabalho! Trabalhinho, porreirinho da Silva! E salve-se quem puder, que a vida é curta e o São Jerónimo não ajuda quem anda para aqui a fazer relatórios com este paleio de sanzala em ritmo de estágio camoniano, não é filho? Cada um que se vá safando como puder - é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer: traduzes em adequação nos textos literários; traduzes em aceitabilidade nos textos técnicos; e fazes adaptações em poesia. Que mais querem eles? Que traduzas a bíblia como o Lutero?! Era o que faltava! Eu quero lá saber deste paleio, pronto, vou mas é beber um copo! Eu quero que o relatório se foda! Bardamerda o relatório! O relatório é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio!


E agora com licença que tenho um relatório para redigir…


Com a devida vénia a José Mário Branco e ao seu fenomenal FMI
Foto: Picasso