Antigamente, eu ia para cama com a mesma camisa que tinha usado durante o dia e calçava meias pretas desirmanadas. Antigamente, bebia que nem um perdido, cantava que nem um tordo e acabava a noite a soletrar decassílabos de Camões na beirada de uma casa de Fado antes de adormecer borracho na soleira da porta do meu carro, que não me atrevia a conduzir todavia, embora o guiasse para onde ele tivesse de ir, porque era e sou uma pessoa responsável que gosta de trabalhar e Antigamente jamais me vi ao volante ébrio; coisa que hoje já não sucede.
Antigamente, todos os fins-de-semana, por volta das sete da manhã de Domingo, ia trabalhar, porque sempre tive génio de contrição e me dava gozo trabalhar aos Domingos, quando todos os outros dormiam e assim dormir e folgar quando todos os outros trabalhavam. Mas isso, esses tempos, eram os tempos do Antigamente. Hoje, tenho as meias passajadas e passadas a ferro numa gaveta – durmo vestido de pijama.
10.4.07
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