6.2.07

Do Tempo

Tempo é rio ligeiro que corre pelo estreito,
qual lágrima que sulca as rugas de um
rosto empedernido desaguando nos lábios secos
da amargura, onde os murmúrios morrem
na quebra da onda. É olhares perdidos
na infinita treva do espaço, onde mãos se alcançam
como palavras que ecoam no desespero silencioso
e sentido de se fazerem sentir no coração farto
de bater num peito cansado, quando as mãos
nunca partilham do calor das estrelas que rasgam
o breu do céu. É Tempo tudo o que nosso seja
e da vida se deseja. É idade que corre veloz,
sopro dos deuses que, moribundo, encontra
os suspiros dos homens. É maré que se enche da vaza,
sol que devora a solidão da lua, não mais que cinza
morrente, delicadamente se apagando,
deixando-nos nesta ânsia de estarmos sós
no sabor da imensa escuridão do mar.

Tem tanta pressa o Tempo! E já passou
quando não queremos, e tarda em chegar
nos tempos em que pelo Tempo ansiamos,
passando, ágil e leve, criança inocente que
do tempo se ri, por não saber que tempo jamais terá.