30.6.06

A 13ª Hora – III

O velho estava a morrer mas insistia em brincar com o Destino, em jogar um última partida de vida ou de morte antes de ele próprio partir. Que relação teria Califa com Jorge, Miguel ou o cadáver que ainda boiava na banheira é algo que nunca saberá ao ler o capítulo III de A 13ª Hora...

23.6.06

Rise and shine


Quando tu morreres todavia estarás viva
Na minha memória e na de outros cujas vidas
Mudaste.

Quando tu morreres irei a uma tasca
Daquelas que em vida recebiam a tua
Preferência.

Pedirei dois cafés e dois cigarros [que acenderei]
E abrirei o livro na página que deixaste
Ainda ontem por ler.

E no aniversário da tua morte
Brindarei com água pura e
Dir-te-ei todas as coisas
que ficaram [por dizer]

E um dia, eu morrerei também.
E comigo todos e todas aqueles
que te amam [ou amaram] como eu.

Mas tu estarás viva e para sempre viverás.
A tua imortalidade está impressa
Nestas palavras escritas e nas que ficam
[por escrever].

Por isso, ergue-te e brilha!
Encadeia-nos com a tua humanidade
Generosa. Dá-nos o sonho do teu sorriso gentil.


E então te digo que
A tua morte é impossível.
Enquanto existires em palavras
Tu nelas viverás, enquanto existir isto
– E isto existir até ao fim do Verbo.

Bonança

21.6.06

A 13ª Hora - II

Conheça Jorge, o típico playboy decadente, subitamente a braços com um cadáver que alguém plantou no seu refúgio de férias. Como ali fora parar, era algo que só o seu velho amigo Miguel poderia descobrir em tempo útil e ao mesmo tempo safar Jorge de novos e piores sarilhos. Mas Miguel guardava um segredo no seu passado. Um segredo que jamais revelaria no capítulo segundo de A 13ª Hora...

19.6.06

Ética

Um dos meus melhores amigos é o Olívio. O Olívio é cigano, 47 anos, 12 dos quais passados à sombra (inocente das três vezes) bigode preto, espesso como palha de aço, olhos azuis claros à Hitler, a seis, sempre carregada, no bolso interior do casaco e o citrôen escuro, de alta cilindrada, mas sem pressas.

Conheci o Olívio no princípio da década de 90, no Cais. Numa noite de sexta-feira, no Texas. Tinha-me corrido bem o dia a transportar os pretos, da rede dos passes do Libânio, do Governo Civil para o Casal, do Casal para o Governo Civil. Era um bom arranjo o que tinha com o Libânio. Os pretos precisavam de passes e eu e o Libânio de dinheiro.

Ao fim do dia trazia a carteira recheada com duzentas mocas em guito e cinco gramolas em coca. O Texas, bem como o Amsterdam e o Europa antes disso, estava em grande. Só putas e putas e putas e uma mão ínfima de clientes. Perfeito.

Uma das miúdas em particular, uma morena de olhos verdes, com umas curvas de meter o membro dum morto em pé e um vestido preto mais curto do que a minha esperança de vida trazia-me de olhos em bico desde o princípio da noite. Foi no Texas que tudo começou a dar para o torto: coisas de casas de meninas.

Com um snif a mais que fora dar ao quarto de banho fiquei impulsivo e, em menos de nada, um grupo de cabo-verdianos entrou numa de me fazer a folha.

Palavra puxa encontrão, encontrão puxa putas a falar alto e já estou cá fora na rua – à espera dos cabrões. Também, tinha as costas quentes. Não era à toa que dava gorjas de milenas ao portas e aos seguras. Começam os gajos a sair, entra o Olívio.

Coincidências. Isto é, explico melhor: o Olívio vai a entrar e um dos gajos, na precipitação, quase que lhe atira os dentes ao passeio. Digamos que se enganou. È chato, mas acontece. O Olívio não gostou nada. Nadinha mesmo. O outro ainda tentou fazer-se à boca, que não era nada com ele e quê, mas não colou. Num minuto, o Olívio, com o meu desinteressado auxílio, despacha os três e desmarca os sapatos.

Nesse noite ainda bebemos um e outro copo, trocámos pontos de encontro, contactos, conhecimentos e até perspectivas de negócios em comum.

A minha amizade pelo Olívio nasceu nesse dia mas veio a consolidar-se muito mais tarde. Três anos mais tarde, numa noite de Julho de 1995. No Bar do Ferro, naquilo que era antigamente o Bairro das Galinheiras (sita a Camarate).

Uma tasca barra pesada. Nada de putedo no bar do Ferro. Só marginais, vadios, rufias, foragidos à Justiça, drogados, bandidos, espertalhões, músicos e tipos como eu. Enfim, um sítio lindo. Traficava-se, roubava-se discutia-se, polemizava-se, cantava-se, bebia-se, assassinava-se, batia-se, escutava-se e apostava-se com o Ferro sobre o vencedor da próxima partida de dados. (Paz à sua alma).

Ocasionalmente, os graúdos locais traziam as mulheres consigo. Nessa noite o Nuno, acompanhado do cunhado, o Maradona, vinha mostrar à sociedade a mulher loura; aquela que me trazia de beiço e a quem escrevia poemas inflamados quando me via embriagado a golpes de tequilla sunrise. Um traço fenomenal. Linda de morrer. Sensual e furtiva como só uma beleza da Musgueira alguma vez almejaria ser.

Para não variar, deu asneira. O Nuno ficou em pruridos com a forma como olhei para a mulher dele e armou-se um estrilho do caralho. De fininho, selecto, mais uma vez, o Olívio entrou em cena. A coisa resolveu-se em menos de cinco minutos e ele nem precisou de sacar a seis.

Ontem, fui jantar com o Olívio. Está mais velho, rugoso, mas não perdeu os olhos assassinos nem a total coolness de mãos. Continua a andar com a fusca e a ser um gajo de pouquíssimas palavras.

Somos diferentes, eu e o Olívio. Temos tão pouco em comum que a nossa amizade é quase um anacronismo. Mas é uma bela amizade. Ter-lhe levado tabaco a Pinheiro da Cruz decerto ajudou. Mas não foi o mais importante para ele. O Olívio gosta de mim e diz que nunca conheceu um gajo como eu.

Ao fim de duas horas o jantar estava comido e bebido, tudo fora dito e provavelmente só voltarei a vê-lo daqui a uns anos. Provavelmente, quando mais precisar da sua ajuda. Tem a ver com um conceito actualmente em desuso:

Ética.

16.6.06

Para descomprimir


Out of work


And so here I am without a job, with no money in my worn out pockets cruising trough their white fucked up trash burg, thinking to myself, there must be more to life than just letting oneself go down in their fucking white paranoid trash miserable burg. There isn’t.

The night before I slept with Joanne. She’s white and married to some white trash fucker who can’t get it up. Son of a bitch works for the white security department and one of his jobs consists in making sure there’s no white black sexual activities. That’s a laugh.

Joanne’s a pretty good looking white blond bitch, with a warm belly and occasionally she kisses me in the mouth, just like last night, after I had pumped her up really strong.

It felt good. It always feels good when Joanne kisses me in the mouth. Don’t know why. She’s a stupid white blond bitch but when she kisses me in the mouth I don’t think about that. I get out. I forget whom I am and go down on her even stronger.

She says she prefers black cock. She told me that herself after the first time. Bitch was my first lay, not the last.

She likes it up the arse hard and since the only money I can get comes from her, I suppose I must comply.

Tricky business though. If them white fuckers ever got a clue about it my poor black arse was as good as screwed in some particularly nasty, vicious ways.

I hate Johannesburg. There’s nothing about this fucking burg I like. Even Joanne, she being a nice fuck, I know deep down she despises me. She’s but a white bitch with them white bitches fucked up notions about race and skin colour. But she likes it up the arse and she gives me money.

That’s the main reason I’m still fucking her. I enjoy crushing her white pride when I move my big black cock up her human, yes, human, not white, not black, not even coloured, her human entrails.

It’s not a way to live and I’m out of work. I could go north and try them fuckers diamond mines, but it’s not a way to live.

This Apartheid shit they got here is not getting us anywhere. It’s a crazy way of doing business and it’s not fair on half the fucking population.

I mean, it’s not my biggest concern, but they make it my problem, since I belong to that oppressed half fucked up majority. These words I’ve learn from a white man.

Sometimes, I just wish I had been born white, or maybe in some other country where they don’t have this fucked up system; them giving us all this racist crap and we helpless to do shit about it.

It’s difficult. It is annoying for a black man, if you would like a white man’s choice of words. A white man like that English arsehole who came down to the ghetto with all his fucked up concepts about liberty and equality and his God forsaken choice of words and his way of getting himself killed, just like that other arsehole he told us about some two thousand years ago.

Last night, when I was with Joanne, they went down to the ghetto, the white security men, looking for my father. They’ve taken him away. My father is a despicable black man, he bows to them white fuckers and still they had to get a piece of him. It doesn’t make any sense.

Anyway, I’m out of work. There’s no work here to be done. And one of these days I’ll tell them idiots I fuck their women. And then they’ll kill me too, just like they did my father. And we will all still be out of work

14.6.06

A 13ª hora

Olá amigos. Dei início recentemente a um novo projecto que passo agora a disponibilizar via internet. É um conto negro, com assassínios, traições e relacionamentos sórdidos à mistura e cujo primeiro capítulo pode ser lido na 13ª hora.

1.6.06

Pensamento da Noite


"Apparently, to religious folks, especially the truly devout, murder is... negotiable. It just depends on who's doing the killing and who's getting killed." - George Carlin, em The Ten Commandments