13.3.09

Tenho medo



Faço parte duma longa linhagem de resistentes anti-fascistas, que remonta aos meus bisavôs maternos, ambos professores primários, passa pelo meu avô materno, more on him latter, por tios de ambos os ramos, em particular um tal de Carlos Mariano Ferro, pelo meu pai e, claro, pela minha mãe.

O 25 de Abril é para mim ainda uma data importante e o meu anti-fascismo, obviamente diverso do dos meus antepassados, julgo que permance actual, até porque o exercito, muitas vezes treinando-me na sua antítese: o poder autocrático e virilmente discricionário sobre outras pessoas à minha volta que, de alguma maneira, vitimizo.

Não estou a falar no mero exercício da autoridade, algo que é sempre necessário, porque haverá sempre conflito, mas sim do Fascismo. O Fascimo é um mal em si porque é discricionário: impôe-se o «bem» aos outros. Como? Metendo-lhes Medo. Entendam, não se trata de os assustar em relação à autoridade fascista (pelo menos de início), trata-se de os assustar com o resto, a criminalidade, a crise, as doenças infecto-contagiosas, de modo a que esses outros "adiram" ao processo fascista voluntariamente.

Claro que, uma mentalidade "fascista" tem de ser "forte", caso contrário ser-lhe-á impossível impor a sua vontade aos outros e, embora isso não seja muito distinto da mentalidade dita democrática, a verdade é que ambas diferem nos métodos a que se socorrem para «impor» as suas próprias vontades distintas; assim, a mentalidade fascista tem de possuir instrumentos de força, exércitos, polícias, universidades calminhas e simpatizantes, cidadãos bem comportados e «respeituosos» [adenda: só se dão gralhas quando são intencionais] para com o regime, confissões à força, tarrafais, um bufo em cada esquina, filhos da puta, operacionais da contra-inteligência pagos a preço de ouro e dispostos às maiores vilezas, e meninas de balllet só para dar o cor de rosa picante, escândalos sexuais encobertos, enfim, tudo somado, essa mentalidade precisa de, numa palavra, para se defender, precisa de: Segurança.


Post Scriptum - Não Promenade. O Salazar não mandou matar o Delgado; foi o Rosa Casaco que agiu à má fé e contra as indicações expressas do Presidente do Conselho. Infelizmente, que queres, mesmo à época já ninguém «respeitava» a «autoridade» do Presidente do Conselho, provavelmente porque o gajo andava entretido a perder a virgindade aos 50 com uma repórter de variedades francesa que precisava de esgalhar para si uma reputação de vamp da comunicação social que se pretendia «objectiva», a qual, por seu turno, nas mãos dos citizen kanes deste mundo buscava o exotismo sensacional: o exotismo das mulheres bonitas, dos ditadores, das operações de charme, após a segunda guerra mundial [adenda: ler «10 diz que abalaram o mundo» de John Reed e interrelacionar o entendimento da revolução russa no ocidente com a guerra fria que se segue à pragmática discursiva de, «A Grande Guerra Patriótica», vol. I e II. Pense antes de escrever].

Ai, ai, as mundanidades, as mundanidades são o princípio do fim de todos os grandes homens. Poderemos, honestamente, atribuir a Salazar, essa incarnação celeste da virtude do labor terreno em prol dos portugueses espalhados pelo mundo, baptizados à borda duma Cerejeira tão ou mais virtuosa do que o próprio, culpas pelo facto de outros, na maioria uma súcia de proletas incultos, o facto de morrrem como tordos no Tarrafal pelo pecado de LEREM Lenine?.. Claro que não.

Não foi Salazar que os matou. Aliás, Salazar era um santo. No seu tempo, tudo vivia em paz, até as putas, menos quando eram esfaqueadas. Não havia ladrões, nem assassinos profissionais [adenda: visionar o filme «O Chacal» e elaborar um dissertação sobre a «identidade» do protagonista], nem tortura legalizada, nem mutilações, nem massacres de pretos à tripa forra, nem prisão por tempo indeterminado, nem o pai em Caxias, banido da universidade de Coimbra e preso à chegada de Inglaterra para ir direitinho salvar vidas em África, vidas de brancos e de pretos, nem o filho da puta do avô Ferro a colocar a sua descendência em risco quando, só por uma questão de princípio (ele dizia que jamais se envolvera com a resistência, não é?) recebe o Cunhal em casa, depois do salto de Peniche, o avô Ferro, um homem da CULTURA, o primeiro marchand de arte do país, o primeiro a lançar Pomares e Rosas Ramalho por esse mundo fora, na sequência é chamado à PIDE e, por sorte, o seu pior receio, «falar sob tortura», (lembras o medo quando contava isso?) não se torna realidade.


De facto, devíamos voltar atrás no tempo. Eu, palhas não palhas, é isso que faço e fico quilhado quando te ouço dizer coisas como a da morte do Delgado. Garanto-te: o Delgado foi morto à revelia, Salazar nada teve a ver com isso.