22.3.09

Laços invisíveis



Estava tranquilamente a resolver os meus assuntos no sossego do lar quando recebo uma chamada da minha mãe a convidar-me para ir passar o fim-de-semana com ela à quinta. Um convite da minha mãe não é coisa que se recuse muitas vezes e, como já me tinha feito de negaças da última, desta feita lá lhe disse que sim, virei costas a Lisboa e rumei a P.
Tudo correu bem até hoje de manhã; ficara alojado num dos anexos da casa principal e, quando ia para tomar banho, reparei que não tinha toalhas. A tiritar de frio (o anexo está sempre vazio e não fora aquecido na véspera) vesti as calças a correr e abotoei (mal) a camisa à pressa e lá fiz a pé os 20 metros que me separavam do edifício principal da quinta.
Ao entrar chamei pela minha mãe e pedi-lhe tolhas. Ela, reparando nos meus lindos preparos, gritou logo: Tu andas-me por aqui descalço?!? Vai já tomar o teu banho que eu levo as toalhas daqui a nada. Ó mãe, de-me as tolhas, não há problema, repliquei eu, ao que ela repetiu ainda com mais determinação: Não me andes por aqui descalço que te constipas! Vai já para o banho que eu levo-te as toalhas! E eu, que remédio, lá fui. Enquanto relaxava os últimos vestígios duma noite muito bem dormida no meu longo duche morno não pude deixar de esboçar um sorriso: em quase quarenta anos de vida, à excepção da minha avó e da minha mãe, não me lembro de mais ninguém que, por uma vez que fosse, se tivesse preocupado de eu andar calçado ou descalço.