17.3.09

De manhã



Tu dizes que sim, eu digo que não, quero dar-te a mão, dás-me com o pé, tu dizes que não, eu digo que sim, queres dar-me os olhos e eu ponho-lhe óculos pretos e lentes de garrafa e assim vamos os dois, a beber e a fumar a uma janela fechada, eu perdido na tua blusa de malha negra, cavada no teu peito alvo que sobe e desce a cada batida, na franja cuidada do teu cabelo que ondula e tu sem notares embevecida na magia das palavras, a falar já não sei do quê, queres tirar o «s» do sexo, substituí-lo por um «n» que faça sentido, que nos transcenda a todos em geral e te faça feliz a ti em particular e olha, sabes que mais, é isso que eu quero também. Mas não é para ser, lá vamos para cama os dois outra vez sozinhos, os dois a fugir do receio de estragarmos qualquer coisa que nos une e é estável, mais o grande problema da intimidade, não é?
Eu queria saber escrever uma canção sobre como dormi mal esta noite na memória do beijo que não te dei ontem, queria cantar-te uma canção de amor porque, quando estou perto de ti acho que é isso mesmo que sinto, só que, como vês, quando assim me bates forte as palavras não me servem de nada e apenas me fica a mágoa de ter dado mais um passo em falso.