Às seis da manhã as palavras fluem com mais certeza do que se fossem de abacate apimentadas de enxofre de mel e de alcatrão, às seis da manhã as palavras são como um abraço tal que não há palavras nem cigarros nem vinho para as escrever a direito numa linha hexagonal, às seis da manhã são palavras e não se fala mais nisso, são palavras ditadas de madrugada, são parque de estacionamento, são projecto de trabalho, são ânsia de paixão, são medos e são escritas de tesão e são palavras e diabo que as leve a correr sem parar até que o verbo se canse de as ditar.
São palavras. De madrugada, a correr para a música e para a neve e para o frio e para o ensino. São as palavras a metro, as palavras a linha e as palavras a comboio e as palavras a rolar pela autoestrada da vida e são as palavras das quais sinto algum orgulho ao escrever, as palavras da noite e e as palavras do dia e as do amor e e as da luxúria e as da moda e as do tempo falado atrás também.
São as palavras que não digo e as letras que não soletro, quanto mais palavroso maior mentiroso já se escreveu em nenhures e são palavras vadias mas quiçá são palavras amigas, são o dia que nasce e o dia que morre e são vontade de ser veneno sem desejarem ser paz, são palavras perdidas, palavras registadas, palavras mordidas e alambazadas - com método e desumano querer -, são só palavras.
E se não forem nem eu as escrevi nem elas foram lidas, as minhas palavras não são para todos os leitores, não são palavras na verdade substantiva da palavra em si, são ideias e pistas e inquietações, palavras tontas escritas ao sabor da água que me escorre pelos beiços, sim, eu bebo da água doce que brota da nascente de mais palavras bonitas que me escorrem da fala embora duma beleza descrente da dicção e nelas encontro mais palavras que não se dizem assim e palavras destas que não passam de gritos impressos no vento da manhã que me gela a glote e outras palavras que falam de coisas fenomenais e faltam só duas horas para fecho e enfim, palavras! Viva a Vida!
E se não forem nem eu as escrevi nem elas foram lidas, as minhas palavras não são para todos os leitores, não são palavras na verdade substantiva da palavra em si, são ideias e pistas e inquietações, palavras tontas escritas ao sabor da água que me escorre pelos beiços, sim, eu bebo da água doce que brota da nascente de mais palavras bonitas que me escorrem da fala embora duma beleza descrente da dicção e nelas encontro mais palavras que não se dizem assim e palavras destas que não passam de gritos impressos no vento da manhã que me gela a glote e outras palavras que falam de coisas fenomenais e faltam só duas horas para fecho e enfim, palavras! Viva a Vida!
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