7.10.08

Muito boa na cama - mesmo.




«(...)O Trave ficara exausto com o processo de divórcio da Clara e então desafiou a Alice e foi para o Minho pastar, como disse aos amigos. Estava ainda frio em Vigo, onde tinham na ideia passar uns dias. Mas a Alice estava muito para o apropriativo. Sabem como é: com projectos que o incluíam a ele e por isso resolveu desde logo que regressaria à base a destempo. No fundo, o Trave compreendia bem: era a conjugalidade latente que tanto aparece em muitas mulheres de meia idade, já entradas nos quarenta mas ainda a julgarem que são meninas.

Na verdade, a conjugalidade existe de facto, que raio, mas exige muitos, muitos anos de convívio. Agora como muleta da solidão, sem um passado de longas memórias, torna-se piegas, lamecha. No entanto, talvez fosse rebate falso. Se calhar tinha sido do frio, concluíra o Trave, após um programa no club onde tinham ido jantar.

A Alice, longas pestanas negras e pele branca de leite, com pernas curtas mas bem torneadas tinha um passado conjugal complicado, a pobre. Com o primeiro marido, casara muito nova, vítima da influência da família. O sexo? Com eles resumia-se ao facto de que ele apenas se servia dela. Aprendera cedo a masturbar-se sozinha e assim foi andando alguns anos, mas as discussões e o mal-estar desta convivência arcaica terminaram finalmente em divórcio.

Algum tempo depois a Alice veio a conhecer um homem mais velho, calmo e inteligente embora um pouco clássico em demasia, com quem deu o nó. Pela primeira vez sentiu-se feliz, acarinhada, compreendida, com uma vida sexual normal. Conhecendo finalmente o orgasmo a dois e o prazer da partilha do sexo. Infelizmente, ele adoeceu gravemente quatro anos depois, e assim se manteve mais de três anos até por fim falecer com menos cinquenta quilos.

Foi uma falta enorme seguida a curto prazo pela da morte da sua mãe, o que ainda veio a contribuir mais para que Alice quase entrasse em depressão Mas era de boa cepa e com o trabalho profissional intensivo acabou por recuperar. Agora, andava aparentemente muito bem, uma mulher descomplexada e colaborante, sendo manifesto o trabalho por ela desenvolvido em prol da despenalização das drogas duras.

E, além do mais, pensou o Trave, é muito boa na cama, mesmo muito boa.(...)»

A partir de mais um inédito de José Dias Ferro.