«There are only two options when dealing with scum; the first is to shoot them merciless, and move fast; the second is to bluff your way out and also move fast.»
Tenho vivido uns belos dias ultimamente. Domésticos. Poucos ou nenhuns seres sinto em torno do espaço pelo qual caminho, à medida que se me tem vindo a aguçar na moleira a disposição para discorrer sobre as coisas mais bonitas que existem no universo, exceptuando talvez as pérolas que por vezes aqui nestoutro espaço ou casa vou segmentando ou as multas que me interpelam já de madrugada à saída do casino - isto sem mencionar sequer os classificados que me arrulham, no matutino de circunstância, soberbos, au Café Soixante-neuf, lisonjeiros e imperativos de si mesmos - quando volto para minha casa, para o meu lar.
Não é só um espaço, entenda-se, pelo menos não um espaço como se cartografa um espaço, tridimensional, físico, concreto; na verdade, não vivo numa casa.
É certo que tem mobília, trastes, tachos, panelas, estantes e verdades, mas não é uma casa – um lar – no sentido verdadeiro da palavra espaço a que chamamos nosso, porque nem sequer é uma propriedade visto não existir tal coisa a não ser nuns livros que eu nunca li.
Não, aqui neste momento apenas existe a ideia de casa, abarrotando de vácuo, tal como na peça de Bertie Brecht o sujeito abarrota de objectos até estes o submergirem da vista pública.
Eu não vivo numa casa. Habito numa base de partida, logística, de onde planeio todas as investidas multi-espaciais que cumpro nos mundos e nos tempos dos outros, nos lares deles, nas suas casas e outros espaços inventados nos tempos menos adequados, que só existem na imaginação do quotidiano bafiento no qual vivemos todos hoje em dia – menos eu - sem remissão. A não ser que, como é óbvio, alguém mais viva numa casa sem aspirador, não é? Pinto. pintinho pinte...
A minha casa é ainda um cornetim de chegada, confortável, para a qual retiro quando sinto necessidade de reagrupar os músculos com um tónico jazzístico ou meramente afastar-me do mundo, dos outros lares, das outras casas, inventadas ou não; a minha casa é o sítio de onde vos escrevo agora e não é um sítio qualquer como a língua portuguesa ou as outras que por aí fenecem ortograficamente acordadas do seu torpor por tipos como eu que não vivem no presente e que sorriem à definição de casa que nos querem construir a preço módico.
A minha casa; as minhas palavras. Ou, melhor, as nossas. Talvez mesmo até as deles, embora pessoalmente não aconselhe a que se ajuíze por aí, pelo menos não nos dias que correm. A minha casa são as que contam. As que fazem duma prosa banal no primeiro dia chuvoso de Setembro um prosa doméstica ímpar, sem rivais, fossem esse o Luís, o Juvenal ou o Fernando: em casa minha ficavam à porta, porque sim, porque quem não mata Édipo nunca teve uma casa a que pudesse chamar sua. Nunca teve um espaço onde o tempo lhe pertencesse. Nunca teve um serão assim – doméstico.
Boa noite.
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