19.6.08

Pensamento de Junho

Com o mês a correr contra mim e sem nada mais para ocupar a mente que não as minudências infinitamente complexas da lógica límpida dos teoremas da completude e incompletude de todas as acções humanas, sejam estas finitárias ou indemonstráveis, consistentes, sistematizáveis ou até reprováveis, lembrei-me de pensar em qualquer coisa que caracterizasse com tem sido e como será recordado este mês de Junho de 2008.

Esforcei-me. Juro-vos que me esforcei. Fiz por visualizar o mês todo num ápice de actividade sensorial; pensei em camionistas, na Cicciolina e em pescadores; na mannschaft e na TV Rural; no gosto de estar aqui a beber whisky e a mandar umas bolas fora, ou dentro, para esse efeito; na Luísa, na Joana e na Miquelina mas não me lembrei de nada de jeito, nada que fizesse o pleno de um pensamento que escoasse, deste banal mês de Junho, ano de 2008 da graça de de deus após Cristo - um ano histórico, «the year of the second global oil crisis» - algo de autêntico, de genuíno, algo que falasse de mim e por conseguinte de todos. E também de ti.

Falhei nessa missão e não é porque a minha verdade de Junho de 2008 seja diferente das outras verdades de Junho de 2008. É só porque a minha mentira é mais igual, apenas e tão só isso.

Este mês, este mês bonito - é o mês da ressaca contra Lisboa (diz não a Lisboa, manda foder o tratado!), o mês do povo e o mês da Irlanda. É o tempo do emprego do tempo desempregado, a hora do minuto que não se decidiu, ali - mesmo à beira da praia, mesmo, mesmo à beira do areal - com ou sem madie ou (como é que a mãe se chamava?) pelo meio - É Junho de 2008! Em todo o seu explendor.

Quero dizer tanto e tão poucas palavras possuo para dizer tudo o que é necessário. Este mês de Junho de 2008 viverá para sempre. Nunca o esqueceremos e, um dia mais tarde, também nós poderemos dizer aos netos dos outros que estivemos lá - a comer a maçã de Junho. A bela maçã de Junho. em 2008, o mês em que Portugal foi scolaricamente batido e os camiões fizeram tremer o país.

Mas falhei nesta empreitada. Não sou capaz de pensar o mês que foge, os dias que correm, os minutos que se desfazem e os segundos que passam sem ti. Portugal. Ai Portugal.
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Não sou capaz de o trincar. Não consigo morder Junho de 2008. Será da falta de cálcio? Será de te amar mais do que a vida?

Quem me dera estar na casa dos meus pais. Ao menos lá, não há Junho, nem muito menos 2008. E que bela que é a casa dos meus pais! Sentem a brisa? Sentem o aconchego suave da manhã? A crista da espuma na pele bronzeada de azul?..

...

Chateia-me não ser capaz de o fazer. Não ter a aptidão de catalogar numa frase clara, curta e descontínua um pensamento que resumisse em duas linhas este Verão ainda morno, esta vontade insatisfeita, esta insegurança permanente, estes camionistas, pescadores e cicciolinas - esta tesão que só nos cabe no momento errado -, esta vontade de foder o papel e a escrita - sem nunca a tocar nem que seja ao de leve. Sem jamais aflorar a sua essência.

Pronto - seja, conformo-me - fica a música. Ao menos essa, nunca falha.