16.1.08

Pensamento de fim de tarde

Júlio não chegou a Frankfurt. Teve um acidente. O piso gelado não ajudou. Foi transportado para o Hospital de Bona - demasiado tarde, ou assim pensam os primeiros automobilistas a acercarem-se do local do sinistro. Em Lisboa, Carlos, amaldoiçoando Marisa e a sua beleza opulenta, saiu da repartição e caminha para casa da mãe – frustrado. Mais a norte, Luís acaba de passar por Famalicão e sente ganas de comer umas papas de sarrrabulho: resolveu pernoitar em Ponte do Lima; Maria está cada vez mais perto dele e a fome do caçador, açoitando-lhe a condução, ainda lhe aguça mais o apetite. Na Almirante Reis, numa tasca conhecida por “Ferreira’s Bar”, João deu um snif de coca na casa de banho. Está alerta e acompanhado; recebeu um telefonema absurdo: um tipo que lhe ofereceu um pagamento extravagante por um serviço fácil embora aborrecido. Aceitou e resolveu pôr a garrafa de parte e investir no seu único capital – ele próprio: João é um homem de necesssidades caras quando não escreve e, quando não bebe, não escreve. É um fim de tarde normal, um fim de tarde de quarta-feira.