10.11.06

E ficou sozinho...


E ficou sozinho. A alma despedaçada. E não havia consolo, palavra amiga, sorriso condescendente que da alma arrancasse a mágoa, a revolta... o medo. E parte dele morreu por dentro, o espírito quebrado. “E agora?” – perguntou-se. “Como vai ser, agora?” E chorou, de tristeza, de frustração, de raiva, de tudo. De tristeza pela saudade, de frustração pela sua impotência, de raiva por noite após noite ouvir as suas preces desesperadas a um deus que não a ajudou, a quem pedia que lhe levasse o sofrimento. E ele também pedia... E sofreu, até ao fim, até que o sofrimento acabou. E ele ficou sozinho, perdido.
E o tempo passou, e ele voltou, à vida normal, aos amigos, ao futuro. Voltou a sorrir, a rir, de todas as coisas de que já antes se ria, algumas estúpidas até. A tristeza passou, foi passando, aos poucos, lentamente, disfarçadamente. Mas a raiva e a frustração ficaram, escondidas, encerradas, corroendo-lhe a alma, enegrecendo-lhe o espírito, para se transformarem em ódio. E hoje ele odeia. Odeia, apenas. Não sabe o que odeia. Porque continua a odiar?

Agora, vejo-o escrever estas palavras. Vejo-o, através dos seus olhos. Mas, não é ele. É outra pessoa. E dele só sinto pena, por estar preso a ele mesmo, por se deixar cair desta maneira, por as vezes lhe faltarem as forças para se levantar. Por ser fraco.

E hoje, mais do que nunca, precisa de uma luz, de um caminho. E pela primeira vez apercebe-se de que não pode fazê-lo sozinho, como até então acreditara. E quer ajuda, e pede ajuda. A quem? Não sabe.
Mas, está sozinho.