Sai amanhã para as bancas a última edição do jornal "O Independente", um título que marcou vincamente o panorama da Imprensa portuguesa, em especial na década de noventa. Quando surgiu, o "Indy" representou uma lufada de ar fresco para a Imprensa cinzentona de então e o jornalismo luso nunca mais seria o mesmo.
"O Independente" não só apresentava as histórias que os outros não podiam, ou não queriam revelar, como o fazia com um estilo literário inovador e ousado, dos títulos à construção dos textos e à utilização da fotografia a uma nova escala.
O semanário apresentava um corpo de comentadores de luxo, em que pontificavam, entre outros, Constança Cunha e Sá, Miguel Esteves Cardoso, Vasco Pulido Valente e Paulo Portas. Na verdade, embora declaradamente de Direita, o "Indy" era escrito por pessoas que sabiam usar a cabeça e, igualmente importante, sabiam ESCREVER.
Outro aspecto a realçar reside no facto de o jornal, juntamente com o então Presidente Mário Soares, ter sido das poucas forças que se bateu incansavelmente contra a modorra e a mordaça laranja e ter ajudado em muito a enterrar definitivamente os anos do The Great Portuguese Disaster, ou cavaquismo.
Para que se perceba a dimensão da importância do "Indy" dou-vos um exemplo pessoal: Os meus avós foram sempre comunistas e quando passei a levar o jornal para casa a princípio torciam o nariz e diziam que eu tinha abandonado os meus ideais de Esquerda. Ora, passado muito pouco tempo já não precisava de o levar, pois o meu avô passou a comprá-lo ele próprio!
Por último, e mesmo que o "Indy" fosse um pasquim como "O Diabo" ou "O Avante", lamentaria sempre a sua desaparição. Como ex-jornalista ver desaparecer títulos é algo que sempre me chocou, até porque a pluralidade de pontos de vista só nos enriquece e não o contrário.
RIP.
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