10.4.06

Memórias rasgadas

Acossado, escondido. A salvo. Ninguém me persegue. O crime perfeito. Ninguém viu, ninguém sabe o monstro que se esconde por trás do meu inferno pessoal. Aqui sofro, aqui definho. Após ter cravado no teu peito a faca feita de rancor e de ódio. Choro lágrimas afiadas de sangue e de desprezo pelo que sou e pelo que fui e pelo que te fiz sofrer. Acossado, escondido, ninguém viu, ninguém sabe, ninguém sonha. O crime perfeito. Rodei no teu peito a navalha. Sorriste. Um sorriso sábio, triunfante. Rodei a navalha no teu peito e empurrei-a até sentir os dedos enterrarem-se na carne. E para quê? De que serviu tudo isso? O prazer da dor que te infligi dissipou-se depressa, o teu corpo em convulsões e as feridas que sangram de onde sorvi a tua vontade, o teu Amor, num beijo encarnado, seco e fechei-te e matei-te e tudo se acabou, enfim, para sempre. Mágoa. Remorso. Desespero. O que fiz de nós? O que fiz de mim, Beatriz? Onde estás? Onde vais? Por onde caminhas? Deixa-me descer até ti. Deixa-me ousar viver de novo. Deixa renascer-te.