30.6.08
O onze de Lúcio (ou a filosofia de que o centro-avante é o mais importante)
Agora, que tudo chega ao fim, e ao mesmo tempo recomeça, eis um onze bonito:
Dino Zoff na baliza.
Breitner (Paul) e Baresi (Franco) no centro da defesa.
Precavendo os extremos Charlton (Bobby) e Lima (Pereira).
No miolo uma conjunção de ideias criativas: Lampard (Frank) Briegel (Hans) Júnior (dispensa apresentação) e Maradona.
À frente e porque apenas sobram dois:
Manuel Francisco dos Santos, aka Garrincha e Karl Heinz Rumenigue.
Em suma, assim até dá gosto pegar nos meus putos levá-los a jogar à bola e cair no chão como se fosse um atleta sem me queixar das mazelas.
28.6.08
Lido (1)
Lido algures numa caixa de comentários alheia a propósito de um qualquer post merdoso sobre um pretenso equilíbrio que rege as acções humanas. [cheira-me ao último episódio que vi de Seinfeld na cabo, só muda the way things have to even out.] Serei só eu ou este género de paleio é infeliz para caralho?
Lido (3) e conclusão
luísa"
.
Lido, ainda mais uma vez. Desta feita gostei do "tony" com minúscula.
26.6.08
Pensamento da tarde
PS - Como sempre, está clean. Podem fazer-me um favor? Saiam de casa, tenham ou não saias, enfurnem-se no alfarrabista mais próximo e tragam-me depressa, rápido The mummy's ring - mesmo antes de o lerem.
25.6.08
Deus é minha testemunha
Está limpo e o meu nome é Lúcio Ferro.
24.6.08
Gödel e Wittgenstein: afinidades
De longe, a afirmação da incompletude de Wittgenstein é a mais radical. Para Gödel há conhecimento expressável que não pode ser formalizado. Os limites da formalização, da nossa tentativa de reduzir todo o conhecimento matemático às regras específicas de um sistema, não são congruentes com os limites do nosso conhecimento. O nosso conhecimento matemático excede os nossos sistemas. Para o primeiro Wittgenstein não há conhecimento possível que escape aos limites que o próprio traça. No outro lado da significação residem todas as matérias mais importantes: a ética e a estética e o significado da vida em si. «Existem coisas, verdadeiras, coisas que não podem ser ditas em palavras. Fazem-se manifestas. São a natureza do que é místico.»
A positiva atitude anti-positivista de Wittgenstein em relação à ideia do místico – mesmo que seja um místico destituído de significado – pode ter tocado numa tecla sensível de Gödel, que era até receptivo à sugestão de que os seus teoremas da incompletude tivessem consequências na esfera mística ou, pelo menos, religiosa. Numa carta que escreveu a sua mãe a 20 de Outubro de 1963 comenta, em relação a um artigo que esta lhe enviara e o qual ainda não lera, sobre as implicações do seu trabalho: «É de esperar que mais tarde ou mais cedo a minha demonstração seja utilizada em favor da religião, visto que isso é sem dúvida também justificável num determinado sentido.» No mínimo, Gödel acreditava que o seu primeiro teorema da incompletude sustentava a insistência do Platonismo na existência de um domínio supra-sensível de verdades eternas. Como é óbvio o Platonismo não é equivalente à religião ou ao misticismo, mas há afinidades.
Texto igualmente com direitos de autor. Não copiar.
23.6.08
Rest In Peace
Morreu George Carlin, um homem com um admirável sentido de humor: ácido, pungente, acutilante. Para trás, deixa 50 anos de uma irreverente carreira dedicada à crítica social, à política, à linguagem, à religião e, acima de tudo, ao ser humano, elemento de ligação entre todos os temas que são objecto da fina lâmina do seu humor.
Quem conhece a obra de George Carlin não poderá deixar de se admirar com a forma como este homem, de modo inteligente e brilhante, consegue transformar qualquer tópico, por mais sério que seja, numa brilhante peça de humor, desde o tema da violação ao suicídio. É, também, um homem que compreende a linguagem, que conhece o seu potencial de reflectir o pensamento humano mais primário.
Carlin, acima de nos fazer rir, obriga-nos a parar e a reflectir sobre nós, não apenas enquanto espécie, mas como indivíduos, e sobre o nosso comportamento.
Basta de elogios! Deixo-vos, somente, uma peça que não faz jus a uma extensa obra e o conselho, a quem conhece Carlin, que revisite a sua obra e, se não o conhece, instigo-o entusiasticamente, caro leitor, que investigue a sua obra.
Poderão saber mais sobre a morte de George Carlin aqui e têm uma curta biografia aqui.
Paradoxal
n = NG(F(n))»
Foi para isto, claro, que tirei dois cursos superiores na área de Letras.
19.6.08
Pensamento de Junho
Esforcei-me. Juro-vos que me esforcei. Fiz por visualizar o mês todo num ápice de actividade sensorial; pensei em camionistas, na Cicciolina e em pescadores; na mannschaft e na TV Rural; no gosto de estar aqui a beber whisky e a mandar umas bolas fora, ou dentro, para esse efeito; na Luísa, na Joana e na Miquelina mas não me lembrei de nada de jeito, nada que fizesse o pleno de um pensamento que escoasse, deste banal mês de Junho, ano de 2008 da graça de de deus após Cristo - um ano histórico, «the year of the second global oil crisis» - algo de autêntico, de genuíno, algo que falasse de mim e por conseguinte de todos. E também de ti.
Falhei nessa missão e não é porque a minha verdade de Junho de 2008 seja diferente das outras verdades de Junho de 2008. É só porque a minha mentira é mais igual, apenas e tão só isso.
Este mês, este mês bonito - é o mês da ressaca contra Lisboa (diz não a Lisboa, manda foder o tratado!), o mês do povo e o mês da Irlanda. É o tempo do emprego do tempo desempregado, a hora do minuto que não se decidiu, ali - mesmo à beira da praia, mesmo, mesmo à beira do areal - com ou sem madie ou (como é que a mãe se chamava?) pelo meio - É Junho de 2008! Em todo o seu explendor.
Quero dizer tanto e tão poucas palavras possuo para dizer tudo o que é necessário. Este mês de Junho de 2008 viverá para sempre. Nunca o esqueceremos e, um dia mais tarde, também nós poderemos dizer aos netos dos outros que estivemos lá - a comer a maçã de Junho. A bela maçã de Junho. em 2008, o mês em que Portugal foi scolaricamente batido e os camiões fizeram tremer o país.
Mas falhei nesta empreitada. Não sou capaz de pensar o mês que foge, os dias que correm, os minutos que se desfazem e os segundos que passam sem ti. Portugal. Ai Portugal.
´
Não sou capaz de o trincar. Não consigo morder Junho de 2008. Será da falta de cálcio? Será de te amar mais do que a vida?
Quem me dera estar na casa dos meus pais. Ao menos lá, não há Junho, nem muito menos 2008. E que bela que é a casa dos meus pais! Sentem a brisa? Sentem o aconchego suave da manhã? A crista da espuma na pele bronzeada de azul?..
...
Chateia-me não ser capaz de o fazer. Não ter a aptidão de catalogar numa frase clara, curta e descontínua um pensamento que resumisse em duas linhas este Verão ainda morno, esta vontade insatisfeita, esta insegurança permanente, estes camionistas, pescadores e cicciolinas - esta tesão que só nos cabe no momento errado -, esta vontade de foder o papel e a escrita - sem nunca a tocar nem que seja ao de leve. Sem jamais aflorar a sua essência.
Pronto - seja, conformo-me - fica a música. Ao menos essa, nunca falha.
Ai ganha-pão
Ai ganha-pão, ganha-pão*, ao fim de 19 dias non-stop de ti, começo a ficar farto como o diabo. Raios te partam. Ora, só faltam outros 19 dias até ao fim e, sim, hei-de lá chegar, hei-de lá chegar - não é verdade?
* Die Entwicklung der Mathematik hin zu immer größerer Präzision hat, wie wir alle wissen, zur Formalisierung großer Gebiete derselben geführt, so dass man jedes Theorem beweisen kann, indem man nichts benutzt als einige mechanische Regeln. Kurt Gödel, 1931, Conisberga(?).
17.6.08
Sim, um juízo
Filosofia do Francis (II)
Faz hoje uns quinze dias que confirmei uma suspeita que já vinha de há algum tempo: o Francis anda a comer duas tipas em simultâneo, o pulha.
No momento em que as minhas suspeitas foram confirmadas confesso que intuitivamente reprovei a sua atitude, até porque, assim que percebeu que apesar da cara feia que lhe apresentei o seu comportamento não era condição sine qua non para o seu padrão de vida, o Francis fez questão de me esfregar as duas na cara, embora, concedo, não literalmente.
Fê-lo é certo e ainda continua a fazê-lo mais com uma fórmula assim «uma de cada vez», sem que, mau grado a água na boca, me fosse dada a oportunidade de trocar dois dedos de prosa com qualquer uma das duas - para minha grande consternação.
Deixei o tempo passar e hoje, finalmente, tive a coragem para o confrontar. De manhã, ele partira um dos meus copos de vinho – o bêbado – e quando o cumprimentei fez-se todo pressuroso – Bom dia Lúcio! Repliquei-lhe que um copo não era um copo e aconselhei-o (vivamente) a que não voltasse a lavar os meus (não o seu conteúdo, claro, pois sei bem que ele o beberia de bom grado, com ou sem a minha aprovação), numa frase cheia até à medula de denotações enfáticas, como, por exemplo, a que realmente lhe dirigi:
Partiste um copo de vinho.
O Francis sorriu com sempre o faz nestas alturas, daquela maneira descontraída que lhe é peculiar e emborcou o resto do pequeno-almoço sem muitas presas, desligado das notícias, do relógio e do abespinhamento que, por seu turno, é sem dúvida peculiar, só que das minhas manhãs de segunda-feira.
Urinei no assunto e quando dei fé tinha-me metido a fazer a barba. Foi nesse momento que pensei em tudo o que acabaram de ler e também noutras coisas e me lembrei de encostar o Francis - a sangue-frio – à parede. Se bem o pensei melhor o fiz e do quarto de banho saiu disparada a seguinte rajada – Olha lá, que merda vem a ser essa de andares a comer duas mulheres ao mesmo tempo, seu imprestável sacana? Não tens vergonha, chulo?..
Acompanhara as palavras com um escarro de espuma de barbear no lavatório ao mesmo tempo que abruptamente cortava o abastecimento de água morna da torneira que ciciava. Esperei, argumentando com o súbito silêncio, contemplando o rosto semi-barbeado, os olhos injectados de sangue mas felizes que me sorriam, sarcasticamente, curiosamente, do lado de lá do espelho. Esperava uma resposta e ainda não ouvira o ranger de uma cadeira ou sequer uma gota de água na porcelana e nem um ruído nem outro se faziam ouvir. A posteriori, era como se estivesse só com o homem do espelho ou pelo menos foi essa a impressão que me ocorreu à medida que os segundos se escoavam e o rosto me secava.
Então, a voz dele cobriu o silêncio de eco, replicando, ainda que atrasada: Gostas de arroz de pato, Lúcio, gostas? - respondi que sim – é um dos meus pratos favoritos – e logo ali o Francis prometeu levar-me a jantar nas duas semanas seguintes. Sem mais, nem menos. Inteira, completa e absolutamente por sua conta. Essas duas semanas terminaram hoje.
No dia seguinte fomos jantar e, fiel à sua promessa, tudo o que pedi me foi servido e pago por ele. A cena repetiu-se, dia após dia, refeição após refeição. Ingeri chá dos Barbados e cerveja alemã. Comi arroz de pato, bacalhau à Brás, leitão da Bairrada, cozido à portuguesa, até Yorkshire pudding, ovos mexidos, salada de gambas grelhadas, salmão fumado, leite de cabra, fermento de cevada e champanhe de vinho eu bebi, Santo Deus!
Por fim, com a gula saciada, disse-lhe que não valia mais a pena, que me apeteciam umas torradinhas e muito café da cafeteira do senegal de casa –a acompanhar com a medida justa de águas naturais del cano com gelo.
Permaneceu inflexível. Que não, que não, que prometera, que jurara levar-me a comer fora três refeições por dia e que nada se interporia entre ele e a promessa que jurara cumprir para comigo.
Franzi o sobrolho, pigarreei e respondi-lhe - Sabes, ‘tou uma beca farto de comer no restaurante,
Francis. Fez-se um clarão nos seus olhos foscos e pareceu-me entrever na pausa uma candura chave que nunca antes entrevira. De pronto, senti que tinha perdido a parada. Atirei com umas gotículas de after-shave ao rosto, despejei o autoclismo e preparei-me mentalmente para o enxovalho, pois que tão bem me dou com o Francis.
Este, o enxovalho, embora discreto, não se fez esperar. - Estás a ver, Lúcio? – sim, eu estava a ver. – Vês, Lúcio? Nem sempre comida caseira, nem sempre comida de restaurante, meu rapaz – o segredo é variar, variar - e, à medida que a mão se adiantava na descodificação de mais um talking de um dos seus amores, a sua voz descambou numa risada tão insana quanto triunfal.
Pensamento da tarde
16.6.08
O segredo dos saloios
Pensamento da noite
És...
És muito mais do que pensamento da noite.»
Um músico, há pouco no rádio.
12.6.08
Bem...
Um dia não são dias, não é verdade? Pois, eu bem sei que, a 35 euritos a garrafita, é capaz de ser um cadito puxado, mas, como sempre digo, temos de atender, em primeiro lugar, em primeiríssimo lugar, à relação preço-qualidade, certo? Isso dito, como é, mandamos vir só uma ou batemos duas?.. Temos de ponderar sabiamente a matéria; na verdade, não nos podemos esquecer de deixar um espacito para isto.
11.6.08
O comboio dos duros
9.6.08
Já me sinto outro
De todas as gajas com quem me envolvi, as que recordo melhor foram as que me deram o corte, aquelas que acabei, enfim, por não comer. Porque será que isso sucede, não só comigo, como com tantos outros gajos com mais ou menos jeito para o engate? Hum?
Escusam de responder - a não ser se forem fêmeas sequiosas de amor e, como calcularão, condição sine qua non, fêmeas podres de supimpas - pois que de mim nada mais levarão a não ser, como é hábito, um sorriso cumplíce :-)
Pensamento da tarde
Frases detestáveis
Há vinte anos - desde que trabalhei pela primeira vez - que ouço esta frase com muita regularidade. «Está para assinar» já me causou problemas de toda a ordem, porque quando «está para assinar» é porque não está na minha conta bancária.
Hoje, mais uma vez, voltei a ouvi-la e, de novo, fui sacudido por uma insofismável sensação de asco, em tudo igual à da primeira vez em que ouvi «está para assinar», quase há vinte anos.
Os leitores que sejam mais novitos podem até nunca terem escutado estas palavrinhas mas nada temam, diz-vos aqui o Lúcio, habituado a lidar com toda a espécie de filhos da puta que têm tempo para tudo menos para, sim, adivinharam, «assinar», que mais dia menos dia o «está para assinar» deixará uma marca indelével nas vossas vidas.
Isto dito, tenho de ir trabalhar, porque o trabalhinho, é verdade, «nunca está para assinar», bem pelo contrário: «já devia era estar feito» - outra frase filha da puta, especialmente em conjunção com a anterior. Boa semana.
PS- Tivesse eu uma moedinha por todas as vezes em que me dirigiram um seco «está para assinar», geralmente aconpanhado por um «ligue na sexta, depois das três» (topam a coisa, para não dar mesmo hipótese?) e muito possivelmente estar-me-ia borrifando para essa frase. Que corja e ainda dizem que os ingleses é que são fleumáticos. Fleumático é levar com esta corja de bandalhos «assinantes» e ainda ter de agradecer a benesse da «assinatura».