30.4.06

Editorial

Há gajos no nosso mísero quarteirão da blogosfera de quem não gostamos. Poucos, mas bons e de quem não gostamos nem um bocadinho. Um desses gajos é o Esmoriz. O Esmoriz é um tipo relativamente culto e inteligente, quase sensível, mas com dois grandes defeitos: é frustrado pra caralho e sentido de humor foi algo que nunca teve. Explicamos: o Esmoriz é um vencido da vida, um melro que tem de si próprio uma ideia deturpada, um cretino que sempre pensou que fosse mais do que os outros até que a vida se encarregou de o desenganar.

De certo modo, lamentamos o Esmoriz. O coitado até era um fulano com potencial, um homem que poderia ter ido longe, só que, lá está, não foi. Lamentamos o Esmoriz porque sabemos o quão difícil é neste país estar à frente dos outros. Nós aqui temos ouvidos para José Mário Branco e não esquecemos aquele "e atiras a culpa para os da frente" com que ele qualificava a generalidade do povo português. Lamentamos o Esmoriz, mas só até certo ponto. O que é certo é que se o Esmoriz não vingou a culpa é acima de tudo dele próprio: se era mais do que os outros teria de o ter provado e não o fez.

Quando surgiram os blogs, o Esmoriz foi dos primeiros a envolver-se na coisa: era chegada a hora da vingança; a hora de mostrar a todos os filhos da puta que lhe tinham fodido a vida quem o Esmoriz era de verdade: um português dos quatro costados, desses que fazem remontar a linhagem a Gonçalo Mendes da Maia; desses que não têm medo de nada e que sabem de tudo muito mais do que todos os sacanas que no passado o haviam lixado.

No entanto, as coisas não se passaram como o Esmoriz pensara: não só ninguém o lia, como os poucos que o liam ou não percebiam patavina, ou se percebiam era porque eram gajos vividos o suficente para achar interessante, mas não genial. E, lentamente, o Esmoriz azedou, azedou, azedou.

Posto isto, O Lado Negro da Lua, frontalmente, tem duas coisas a dizer-lhe:

a) - Aqui, Salazar é, foi e será um grandessíssimo filho da puta.

b) - Não percas tempo e dá atenção à tua família que só eles é que (por enquanto) te vão aturando.

29.4.06

Lúcifer, manager do ano


Entrevistador: Diga-me, qual a sensação de vencer a Liga Angélica?
Lúcifer: Bem, não lhe vou mentir, é uma sensação muito boa! Afinal, o último campeonato que vencemos foi há mais de 2000 anos.
E: Em grande parte, essa vitória deveu-se à lesão da estrela da altura, Jesus. Não concorda?
L: De maneira nenhuma! Jesus era bom e ainda tentei contratá-lo à última da hora. Mas, se quer a minha opinião, não passava de um pirralho mimado que só tinha a importância que tinha por ser filho do Presidente do clube. Estava lesionado, estava lesionado... mas três dias depois já estava de pé! Cá pra mim, não há lugar para manhas na Liga.
E: Pensa que teria vencido mesmo com Jesus na equipa adversária?
L: Sem dúvida, sem dúvida! É verdade que Jesus era uma peça fundamental, mas nós também tinhamos bons jogadores na época: Astaroth, Leviathan, Adramelech, Beelzebub. E, claro, Judas foi uma mais valia de última hora. Mas não falemos mais do passado!
E: Mais de 20 séculos passados, o que pensa que o levou à vitória?
L: Muito trabalho e espírito de equipa. No século XX contratámos grandes estrelas: a dupla de centrais Hitler e Mussolini provou ser invencível. Com Milošević ao ataque e os corredores feitos por fenómenos como Mao e Salazar, era impossível perder.
E: No entanto, é impossível negar o valor do seu adversário directo.
L: É assim: claro que o nosso adversário tinha uma equipa sólida. Mas, sejamos sinceros, não quer, certamente, comparar uma Lúcia ou um João Paulo à exímia técnica de um Franco ou de um Mobutu, pois não?
E: E planos para o futuro?
L: Espero continuar a gerir a equipa como tenho feito até hoje. Tenho uma relação muito especial e muito forte com os jogadores e com os adeptos, e desejo levar este grupo a mais vitórias. No entanto, se surgir uma proposta de um clube como o Chelsea ou o Salgueiros, será caso para pensar no assunto.
E: Muito obrigado pelo seu tempo e boa sorte para o futuro.
L: O prazer foi todo meu! Volte sempre que quiser.

27.4.06

Pensamento da noite


And God said, "Let there be light!"
Chuck Norris said, "Say please."

26.4.06

O compromisso


O, aquele gajo, o, ai como é que o gajo se chama? O... Olha, o Cacilva Vácuo anunciou ontem a sua intenção de estabelecer um compromisso no combate às desigualdades sociais. Ele diz que a malta toda, governo, autarquias, sociadade civil, se tem de empenhar nesse compromisso. Eu acho bem. (Por falar nisso, tenho de ligar à Maria Joana a ver se ainda está de pé o jantarinho romântico de logo à noite, afinal é ela que paga). Mas voltando ao compromisso do Vácuo, onde é que se assina essa cena?
É que por acaso recebi umas massas da herança da minha bisa e sou gajo para alinhar. Outra coisa, o que é que acontece a quem não alinhar? Onde é que estão os termos do compromisso? Ao certo, ao que é que a malta se compromete? É que essa merda de combater as desigualdades sociais até parece bonito, mas gostava de saber, preto no branco, em que é que me estou a meter. Ou é só 31 de boca? Onde está a merda do compromisso? Bem, de qualque forma, não há dúvida de que o Cacilva nos surpreendeu com esta bonita ideia. Nunca o Vácuo surgira tão consistente...

24.4.06

Porque sim

Aos três f's do Fascismo (Fado, Fátima e Futebol) o 25 de Abril traz a promessa dos três D's:




Democracia, Descolonização e Desenvolvimento.


Cumpriu-se a Descolonização, Fez-se a Democracia e adiou-se o Desenvolvimento, o que teve como consequência a Democracia de cartão que vivemos. Não há problema: Nossa senhora de fátima ainda há de fazer de portugal campeão mundial de futebol. E, então, cumprir-se-á o nosso fado.



Ah, sim. E já me esquecia. Que o
filho da puta não tenha paz no Inferno.

21.4.06

Murmansk


Acordo às sete da manhã com o nariz inchado e a vista toldada dos lisos de ontem. Com uma fuça de meter medo e de cuecas lilás preparo um vodka branco, calço meias amarelo-canário, enfio-me no carro preto e arranco para Coimbra. Vamos à Clínica.
Sempre a abrir, sinto logo a falta dum liso e carrego ainda mais no acelerador. Ela, no banco de trás, descansa, alheia a tudo isso. Estação de serviço de Aveiras. Ao invés do liso, vou por um café e dois galões achocolatados. No banco de trás um vestido rosa-escarlate faz clap, clap, clap. É o vento do turbo a dar-lhe gás. No retrovisor o seu cabelo loiro espraia-se, inocente, nos bancos de couro castanho.

11h25. Estamos em Coimbra. Verde. Azul de Verão e de Vida borbulhante. Ciumenta de alguém que me dá direcções, passa, ciosa do que é seu, rápida, para o banco da frente. A mão aninha-se na minha e sou sacudido por um espasmo violento. O contacto, assim brusco, inesperado, tolda-me por momentos os reflexos e quase bato no carro da frente. Ufa!..

Coimbra, há que séculos que não vinha por estas bandas. A cidade está mudada. Não, não é isso: está só com uma maquilhagem diferente. Deixo-a encarregue a si mesma sem me atrever a beijá-la e parto em busca de uma caneca e das memórias de outros tempos: hotéis, tertúlias, sessões de caça, quintetos de gemidos e suspiros de deboche. Está-se bem. Paro o carro ao pé do Avenida e abanco, descontraído, na esplanada da Praça da República. É a Coimbra da Primavera tal e qual a recordava. De manhã. No Choupal. Na Sereia. No Moçambique. No Trianom.

A casa dos avós do Jorge Silva. A casa dos meus tios. O liceu José Falcão. As serenatas à Cruz de Chelas. Os arcos e a estátua de Camões. Como nos divertíramos nesse tempo, o Jorge e eu... Eramos jovens e íamos mudar o mundo. Na vertigem duma caneta, no grito duma viola e na composição dum livro da demência. Inocentes, os nossos projectos fervilhavam pelas avenidas da mente, espraivam-se no delta dos sentidos e desembocavam na grande praça da razão do Absurdo (sic).

Enfim, o passado a Deus pertence e só a ele. Tem uma grande vantagem e um grande defeito, podemos sempre pintá-lo à medida das nossas conveniências mas é sempre uma cópia e nunca o original. No presente, emborco mais uma caneca e outra ainda. Não é um liso mas sabe bem e faz companhia às codornizes que marinam na chispalhada d’absinto em que se converteu o meu cérebro. Coisa gira, este presente. É algo que está aqui mas já foi e ainda há de vir.

O presente não é algo de que se possa falar. Simplesmente, acontece. Como agora. A olhar as mães que passam na rua e os carrinhos de bebé. A emborcar mais uma caneca e a fumar paivante atrás de paivante. Enfim turvo e liberto de tudo. Dela, do seu vestido rosa e do passado. Quanto ao futuro, bem, esse que se lixe. Invariavelmente, vai ser pintado com os pastiches da incerteza.

“Manuel! Manuel!”
“Sim, olá, como correu, então?”

Senta-se e rapa do telefone só para mexer em alguma coisa e disfarçar o nervosismo. Uma lágrima no canto do olho. Uma lágrima nunca vem só. (As lágrimas adquirem uma tonalidade estranha quando reflectidas num balde de cerveja, agora reparo.) Uma lágrima, duas... Enchuga-se e começa a desbobinar. Às tantas, pelo tom da voz e amálgama de palavras, fico preocupado. Não era caso para menos. Mas, para já, não quero chatices e deixo correr o marfim com uma cara de pedante colada no rosto. Não é burra e repara no meu ar indolente. Então, só para chatear, desembucha tudo de uma vez. Está grávida. Quatro meses e a contar. Enrolo um paivante. Deito-o fora, enfadado, e acendo antes um Lucky Strike. A menina do bar troca comigo um olhar cúmplice. A grande estúpida.

Dou um longa, longa passa. Voluptuosa, saborosa e um tudo ou nada fingida.

“Diz-me, sabes quem é o pai?”
“Não és tu.”

Que simpático da sua parte, como se eu não o soubesse já.

“Então, quem?”
“O Jorge... O Jorge Silva...”

Levanto-me, polidamente, com vontade de lhe apertar o seu lindo pescoço de ninfa.

“Senhor, Senhor!”
“Diga, por favor?...”
“A sua conta...”

Vou pagar e aproveito para me demorar contemplando o rosto ao espelho. A empregada sorri e penso para comigo que tudo seria muito mais simples se estivesse apaixonado pela empregada e não por ela. É bonita sem ser vistosa e alegre sem ser viciosa. Podiamos ser felizes. Sinto a promessa na forma como sorri e no toque dos seus dedos quando me entrega o troco. Mas não. Não vai dar.

Quando regresso ela chora ao telefone com um outro tipo do lado de lá que não era o Jorge e que não era eu e que provavelmente também já fora para a cama com ela. Um dos seus múltiplos “amigos”, dos quais era tão ciosa, e que a mim me exasperavam ao ponto da loucura. Ao ponto de lhe querer bater. Desfigurá-la. Sem compromisso. Arder na fogueira do seu corpo e lambuzar-me todo na chama dos seus olhos, deitar-me com ela e apertar-lhe o pescoço e ver a cor a fugir das suas faces, e o medo – sim o medo – o medo finalmente estampado na sua cara de vaca. Puta!

Pensando melhor, o tipo do telefone não passava dum imbecil. Um imbecil que, tal e qual como eu, não tivera a arte ou o engenho de a prender definitivamente – fazendo-lhe um filho. Saco da carteira e remexo nas notas, como que a certificar-me do meu poder, da minha superioridade. Preciso dum liso. Um whisky. Não, um bagaço. Por muito que deteste beber. Agora. Já!

Saímos. Ainda soluça. Obrigo-a a calar-se com um lenço azul de Caxemira. Recupera rápida e tem ainda tempo para um comentário depreciativo ao perfume do lenço, o que me alegra. Ela não o sabe mas é o perfume de Paula. A Paula dos seios aveludadados; a Paula do riso brejeiro e do sexo fácil. A Paula que levo para cama ou me leva ela quando a embriaguez é de tal modo que não me recordo de quem sou nem de por quem sofro.

Vamos ao almoço. Como está sexy. Atraente. Fascinante. Toda ela mulher. Flerta com os clientes e estes com ela. É como se eu não existisse. É como se a bebé não existisse. Não estou satisfeito. Resolvo trocar galhardetes. Acuso-a de tudo e tudo o que digo é a verdade crua e nua. A falsidade. As traições. A maneira de me tratar como se fosse a sua marionete. O calculismo. O despudor.


Ela não gosta. A briga é feia. Pesada. Trata-me desdonhosamente. Grita comigo, que nunca mais me quer ver, que nunca me pediu nada, que nunca me mentiu sobre os seus “amigos”. Que se não goste que me mude. Esta também é a verdade. Cinzenta, cinzentona e comezinha, mas esta é também uma das faces da “nossa” verdade. Não quero saber. Estou possesso e insulto-a, só para ver a reacção. Resolve ignorar-me. Não diz nada. Veste uma cara fria, gelada, e já a minha determinação se esvai e ela é de novo a minha princesa das mil e uma noites, a minha vida, o meu encanto, a minha graça e a minha vontade.

À tarde. Peço desculpas. Procuro desajeitadamente a sua mão, mas foge-me. Renego tudo o que disse. Renego a verdade, tão convictamente a renego. Mas também, o que renego eu? O amarelo-canário das minhas peúgas ou o rosa escarlate do seu vestido? A verdade? Que se lixe.

Finalmente, perdoa-me e fazemos as pazes. Regressamos a Lisboa. A auto-estrada corre por baixo de nós, enrolada numa tagarelice toda molenga e sorna. Ela é só mimos. Afaga-me o pescoço, vitoriosa. Resolvo sair num atalho qualquer e estaciono num miradouro. Quase louco já as minhas mãos se perdem na floresta dos seus cabelos. Trémulo, beijo-a e é uma explosão de sentidos por todo o meu corpo. Ela sabe-o e encosta-se mais a mim, enpurra os meus lábios para os seus seios. Chupo-os avidamente e aperto-lhe os bicos, fazendo-a gemer. A intensidade do nosso amplexo não tem limites. Agora sei tudo. Estou perdido, não há nada a fazer. Afasto-a com brusquidão, com uma certa violência, até, mas não diz nada. Como é sábia. Dá-me um beijinho...

Recomponho-me e ela puxa as alças do vestido, devagar, provocante, fazendo-me engolir em seco. Mesmo depois do Amor continuo consumido pela ânsia da posse. Viro-me para o lado e detenho-me a contemplar a paisagem. Que bonito que isto é. Como se chamará? E o que é que isso interessa? Que interessa como se chamam as coisas? O que interessa é que é bonito e isso devia bastar. Mas não. Nunca basta.

Telefona o Jorge Silva. Que continua bem. Algures no Mar Báltico. Arranjou uma namorada russa. Óptimo, penso eu. Ao meu lado a respiração dela está alterada. Faço de conta que nem noto. Estou-me nas tintas.

“Então e depois Jorge, para onde partes?”
“Para Murmansk, para Murmansk Manuel. E tu, diz-me, como estás?”
“Olha, eu....”

Ela acende um cigarro, nervosamente, muda a estação da rádio.
“Eu – cá estou – grávido.”
“Hum... parece realmente grave. Pois... Fica bem Manuel, não abuses dos lisos e assim que puderes vem ter comigo a Murmansk!”
“A Murmansk, Jorge!!!”
“A Murmansk, Manuel!!!” E desligámos.
......................................................................
Nunca fui ter com o Jorge a Murmansk. O que foi uma pena, pois por lá tudo é branco, branquíssimo a perder da vista. Mas agora já não interessa. Ele nunca soube da Inês, a filha deles que nasceu quase há 10 anos num dia sete de Dezembro.

Poucos dias depois, parti para bem longe e nunca mais a vi, ela não me que queria ver e eu não as queria ver a elas. Mas ao escrever estas linhas sinto que nunca a vou esquecer. Por muito que faça, por muitos sítios onde ainda vá, por muito que ainda viva. Naquele dia sete um pedaço de mim morreu.


Lisboa, 28 de Abril de 2004

PS-Esta é uma história de ficção qualquer semelhança com eventos ou pessoas reais é pura coincidência

Pensamento da lua


Hoje em dia, nos momentos lúcidos, o simples facto de abrir a porta do minha casa e começar a descer as escadas implica um esforço terrível. O que me vale é que me são raríssimos os momentos de lucidez.
....

20.4.06

Amanhecer


Agora quando o gato comeu o rato e o cão fugiu assustado e ferido com o rabo entre as pernas; agora quando nada mais há a fazer e quase tudo ficou por dizer nas palavras que se partiram e cortaram a meio de um suspiro, de uma emoção abrasadora; agora, agora é tempo de despertar, passar pelo rosto um pano perfumado e agarrar com gosto o escasso futuro que resta. É tempo de regressar e de acreditar que um novo amanhecer ainda é possí­vel. É tempo de voltar a sonhar. Agora.

Luz Verde


Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-nos, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba,
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!


Cesário Verde, in O Sentimento dum Ocidental


Cesário Verde é um poeta que marca uma profunda reaccão contra formas linguísticas e de conteúdo da poesia portuguesa do sec XIX. Cesário surge na contra corrente do Romantismo, ultra lírico nos conteúdos e artificialista na linguagem.

Em Cesário Verde a linguagem vai plastificar-se e o conteúdo concretizar-se. Assim, Cesário será por um lado poeta-pintor, impressionista, por outro poeta do quotidiano, do real. Será na realidade concreta que se oferece a seus olhos e nao em míticos paraísos poéticos ideais onde Cesário irá encontrar a inspiração para a sua obra.

É um poeta cuja linguagem se desenvolve sobre sensações, impressões que a realidade lhe provoca. No entanto, se Cesário se aproxima do Sensacionismo e do Impressionismo, tal não quer dizer que aí se esgote, já que, lado a lado com os novos usos linguísticos está um rigor “alexandrino” e, sobretudo, uma atenção abrangente ao concreto da realidade e a denúncia das desigualdades sociais que pode ser lida como percursora do Neo-realismo.

Essa denúncia insere-se numa temática mais vasta em que a oposição cidade-campo desempenha um papel central. Pessoa de Cesário dirá que era “um camponês preso na cidade”.
A oposição campo-cidade remete para a oposição entre mulher sã, mulher fatal e finalmente para oposição vida-morte.

Cesário Verde representou uma ruptura radical com a tradição e valores estilísticos do seu tempo e irá influenciar decisivamente a Literatura nacional do séc.XX, podendo ser apresen-tado como percursor de movimentos tao díspares como o Modernismo ou o Neo-realismo.

A poesia de Cesário Verde tem uma frescura de intensidades quente e uma limpidez de sensibilidades humanista. Trata-se de um grande poeta, infelizmente tão pouco lido hoje. E felizes os que se vão, amén.

19.4.06

Bizarrias










Ora aqui partilho convosco imagens que me alegram e me restauram o espírito. E até depois do 25. Tenho uma festinha algures na Tasmânia que reclama por mim.

Thanks Donald


Obrigado Pato. Neste Mundo absurdo em que vivemos já me safaste de muitas situações filhas da puta. "Vi! Vi! Vi as múmias sentadas em seus ataúdes comendo sanduiches!"

18.4.06

Pecado, disse ela


Como sabem, aqui somos tudo menos católicos, o que não quer dizer que não tenhamos interesses do foro religioso. Nem sempre, é certo, mas por vezes me interrogo sobre essas matérias da criação, de Deus e sobretudo de Nossa Senhora. Talvez por ser mulher e uma das mais famosas de sempre.
Posso dizer-vos, sem que caiam os parentes na lama, que sou um pouco inculta em relação à Igreja Católica, aos Mistérios de Cristo e tudo o mais. Também, quem tem paciência para ler a Bíblia de uma ponta à outra? Por isso, vos deixo duas perguntas, duas dúvidas, quem sabe me possam elucidar.
Algures no Livro, penso eu, se diz que Jesus foi concebido sem pecado. Ora, que quer isso dizer? Os escritores estão afirmando que o sexo é um pecado? Ou é outra coisa?
A segunda pergunta tem que ver com José. Se José não é pai de Jesus, isso quer dizer que ele é corno? Ele já era casado com Maria aquando da imaculada concepção, ou só casou depois, não sendo assim corno mas antes padrasto? Duas dúvidas que não me atormentam mas que gostaria de ver resolvidas...

Chispalhada d'Absinto


O meu cérebro está feito em postas de carne de porco congelada com um travo a absinto gelado e uma suave fragância a cravo da Índia. Como podem ver, na ressaca da Páscoa, não há mesmo qualquer hipótese de me tornar violento. Nenhuma.

Fotografia de Nik Ainley

The banquet


He walked down the canal and embroiled himself further in the morning midst.

His thoughts were with him, his father. There. He spoke:

It is all still open in your path, my son. There’s still time to walk back and build brand new beautiful bridges. Adventurous gothic bridges. To be reborn, and to live the life you once were want to live. I’m your father, listen to me son. You’re my only child.

He walked further on, still stumbling down deep into a midst of sorrow. His slippery shape but a vague feline figure in the shady darkness of the cool, crisp, morning dawn.

There’s no turning back – the old man grumbled. Besides, she’s dead, she’s dead, he muttered. There’s no bringing her back from the dead, there’s no bringing her back from the dead – why should I worry – he complained. Why, father, why?

Tell me, he asked, where did it all go wrong? Where had he failed? Oh mother, now I’m about to die, too. The agonizing death I’ve so long wished for, mother. It’s been years of nightmare an now it will be over; I’m as old as a man who gazes at his lonesome pathetic past deeds; as old as an old terrified man recollecting pieces, small bits of an old man’s shattered, broken, swamped, destroyed illusions.

It all has been said and done more than enough, and a thousand times before in a better, more refined, subtle way. He said.

Son. There is still time. You can still turn back. There’s still a future where you can be born again. A bright future; a future painted in flaming vibrant colours and virulent brand new emotions. There’s a fresh, blazing, rapid, violent – vivid life to be lived.

..........................................

You must believe your mother. She knows best. She’s always known best. Oh my love. Breath of my breath. Flesh of my flesh. You must believe your mother. She’s always known best.

Who was it for you when you were young and meek? Who was it when you had the plague bursting through your chest? Who was the one by your side when your maths failed you and you couldn’t comply? Hear your mother. She’s with you and nothing matters but my love for you – my son. I’m your mother.

It is over, though, the old man whispered.

Life is over. I welcome oblivion, he shouted.

I welcome thee, my fair lonesome Madam – he cried.

Nay, I cherish my own annihilation, I say.

At least, he grumbled, at least, my rotten corpse will be of some good; at least, I say, the crows, at least.

At least the crows will have themselves a banquet to feast upon.

Ressaca de Páscoa


Wir waren einfach, weil das Volk einfach ist. Wir dachten primitiv, weil das Volk primitiv denkt. Wir waren agressiv, weil das Volk radikal ist.

Joseph Goebbels



Resumindo. Na ressaca das celebrações de Páscoa não corro risco algum de me tornar agressivo.

13.4.06

Dirge Of Love

Come away, come away, death,
And in sad cypres let me be laid;
Fly away, fly away, breath;
I am slain by a fair cruel maid.
My shroud of white, stuck all with yew,
O prepare it!
My part of death, no one so true
Did share it.
Not a flower, not a flower sweet,
On my black coffin let there be strown;
Not a friend, not a friend greet
My poor corse, where my bones shall be thrown:
A thousand thousand sighs to save,
Lay me, O, where
Sad true lover never find my grave
To weep there!

William Shakespeare

Tempos Modernos


Ah! A Igreja! Não há instituição neste nosso vasto mundo que se lhe equipare. Com ela espumamos de raiva e, ao mesmo tempo, rimos até às lágrimas, numa orgia de sentidos sem igual.
Não é que estava eu refastelado no sofá a gozar a pausa pós-almoço quando, de repente, entre um arroto e outro, a minha atenção é desviada para um qualquer jornal televisivo num qualquer canal. A notícia: o Vaticano e as suas traquinices.
Eis que o Vaticano, desejoso de se adaptar ao mundo moderno dos meios de comunicação, resolve fazê-lo, após longa deliberação, à maneira antiga: proibindo. A já uma longa lista de pecados como o aborto, eutanásia, adultério, homossexualidade e até mesmo fuga aos impostos e excesso de velocidade, o Vaticano decidiu, na sua infinita sapiência, que ler jornais e ver televisão durante muito tempo, bem como passar tempo em demasia na Internet, é pecado.
Ora bem, se já ardemos para toda a eternidade nos confins do Inferno por comer e foder muito, agora já nem podemos passar o nosso tempo de lazer como bem entendemos! Basicamente, qualquer meio de informação é mau. Vá-se lá saber!

Pecador: "Senhor, perdoai-me, pois matei a minha mulher adúltera, o seu amante e cometi incesto com a minha irmã."
Deus: "Pagaste os impostos, respeitaste as regras de trânsito e viste pouca televisão, meu filho, como manda a doutrina?"
Pecador: "Bem... sim."
Deus: "Então, caga nisso, meu filho! Bem vindo ao Paraíso."

12.4.06

Poem Review: Beowulf



In Beowulf there seems to be a constant tension between the past upon which the author dwells and the present of the society for whom he writes. This happens because the author, most likely a monk, continuously attempts to Christianize the pagan story that he narrates. Most Contemporary readers would think that this challenge is one that the author (working with a text from a pagan oral tradition) never solves. This conflict, contemporary readers will think, is not handled in a proper Christian way, and, at stages, 21st Century readers dismiss the author’s endeavours as futile and naïf. Nevertheless, contemporary readers should not be to prompt in stating the futility of the so called Christianization of the pagan epic. In fact, one must admit that all concepts change in time, and that that applies to the concept of Christianity also. In the millennia since he walked on earth, the representation of Christ went through several paradigmatic shifts; the most recent one being the departure from the Old Testament in favour of the New Testament. The same is to say that the mode in which the image of Christ has been perceived was both seriously influenced by men and, in turn, influenced the ways in which humanity perceives God.

Written some 1200 years ago, Beowulf, for its contemporary audience, would most likely sound truly Christian in spirit. It was not before the 19th Century that Christians themselves begun to attach more importance to the New Testament and, increasingly, less to the Old Testament. When Beowulf was written, not only the Old Testament would be considered almost as important as the New, but in addition Christianity was extremely recent to England, and the actual process of bringing Anglo-Saxons into Christ was, somehow, made more of a blending between Christian values and pagan imagery, than of a shift from pagan beliefs to Christian values: “One must, indeed, draw the conclusion from the poem itself that while Christian is the correct term for the religion of the poet and of his audience, it was a Christianity that had not yet by any means succeeded in obliterating an older tradition.” (Norton: 26).

Throughout the poem, the book of Genesis serves as a touchstone. And this does not happen merely because it would be (almost) impossible to fit the revolutionary ideology of the New Testament into the text. It happens because the Old Testament is in many ways an epic story full of maddening and barbaric episodes. Moreover, the Old Testament related much more to Anglo-Saxon traditions than the New Testament ever could. Christian readers today tend to forget that the Old Testament is full of infuriating episodes, like when Abraham is ready to assassinate his own son just in order to prove his faith to God. Or the gory stories about the end of the World, and the vivid descriptions of the Devil and his demons. Contemporary Christianity focus almost entirely on The New Testament, or when it turns to the Old Testament it carefully selects the positive bits and ignores the massive bulk of negative ones.


Although this is mere speculation, one must not assume that when Beowulf was written the Old Testament was not as important (possibly even more important) than the New Testament. And that the Christianity of those days was a bit different from ours. Nevertheless they were still Christians, because they believe in God, the Holly Trinity and so forth all the way to Hell and the Devil.

II Christian Justice?

In several Greek tragedies, namely the Oresteia by Aeschylus, justice is served, again and again, in the form of revenge. It is the well known formula: you kill my father, I kill you, your brother kills me, and my son kills your brother, until the end of the world. This formula is also present in Beowulf. The society of Beowulf is defined in terms of kinship. When a relative is killed it was the sworn duty of the surviving relatives to exact revenge upon the killer, either with his own life or with weregild, a sum in gold. Beowulf’s own existence derives from this fact: when his father Ecgtheow was banished for killing Heatholaf, he sought sanctuary at the court of Hrothgar. The latter subsequently paid the weregild, and Beowulf’s father was from then on indebted to the king. Beowulf himself says at a given time to Hrothgar: “It is better for a man to avenge his friend than much mourn”.

Hence, the hero travels to kill the monster that is causing trouble to Hrothgar. Consequently, the monster’s mother wants to exert revenge and Beowulf has to kill or be killed. Now in the Orestia, Aeschylus brilliantly solves this problem by introducing the Polis as the proper judge for Human disputes. Private retribution is no longer admitted; the wrong doings of individuals are to be scrutinized by society, the rule of law substitutes the rule of revenge. The important thing here is that Aeschylus was not a Christian and so he could opt for such an enlightened and visionary solution. Beowulf, on the other hand, follows more in the line of the biblical tradition: “Exodus 21:22 If men strive, and hurt a woman with child, so that her fruit depart from her, and yet no mischief follow: he shall be surely punished, according as the woman's husband will lay upon him; and he shall pay as the judges determine. 23 And if any mischief follow, then thou shalt give life for life, 24 Eye for eye, tooth for tooth, hand for hand, foot for foot, 25 Burning for burning, wound for wound, stripe for stripe.”

Old Testament provisions when it came to Justice do not end here: “Leviticus 24:18 And he that killeth a beast shall make it good; beast for beast.19 And if a man cause a blemish in his neighbour; as he hath done, so shall it be done to him; 20 Breach for breach, eye for eye, tooth for tooth: as he hath caused a blemish in a man, so shall it be done to him again.21 And he that killeth a beast, he shall restore it: and he that killeth a man, he shall be put to death”. More examples could be procured, but these, combined with what already has been said of the Anglo-Saxon society, suffice in supporting the argument.

Contemporary readers claim, because references for the New Testament are not made in Beowulf, the tension between Christian and pagan values is never fully solved. This seems almost self-evident: Christ’s message is (mainly) one of tolerance and good will. Nevertheless, again in this case, modern readers should not be so selective when reflecting on the lack of Christian values in Beowulf. It is a fact that there are no references to the New Testament, but at least one could have been made:"Ye serpents, ye generation of vipers, how can ye escape the damnation of hell?" (Matthew 23:33) – Jesus addressing people who did not like his preaching. It seems evident that the author of Beowulf is faced with a problem: he has in his hands a story full of revenge.

What does he do to Christianize his story? He turns to the bible, being as much selective as modern Christian readers who go away from the bad parts and concentrate on the good ones. The problem is, modern readers at large (in The West, at least) will accept what modern Christian readers say is Christianity.

III Boasting

One is forced to agree that at stages there seems to be a difficulty in the process of merging the epic past with the author’s present. One of the best examples for this would have to be the presence of boasting in the poem. Here, modern readers think they see the ultimate contradiction between Christian and pagan principles. They will look at Beowulf and say: how un-Christian to be always boasting and boasting. They will have in mind “Mean-spirited ambition isn't wisdom. Boasting that you are wise isn't wisdom. Twisting the truth to make yourselves sound wise isn't wisdom. (James 3:14). Or, more to the point: “Don't dare talk pretentiously- not a word of boasting, ever! For GOD knows what's going on. He takes the measure of everything that happens”. (Samuel 2:3).

However, they are wrong. Boasting in Beowulf is not to do with pride, in the colloquial sense of look at how marvellous I am, I kill all these monsters; it is to do with honour and promises. When a warrior boasted, what he was actually doing was making a promise, a public vow. Therefore, when Beowulf boasts that he will kill Grendel, what he is in reality doing is committing himself to that task in front of an audience. The crux of boasting was that after the boast there was no turning back; either mission accomplished or die. If a warrior conducted himself in this fashion, wining or losing, he would be talked about and praised. If he did not, he would not be respected any more. He would become a motif of scorn and his name for ever synonym of shame. However, some might point out that, if so, why does Beowulf boasts so lengthy about his aquatic challenge with Breca? Again, here Beowulf is not boasting at all, he is merely setting the record straight. For his honour, he could not let Unferth’s accusations fly. In fact, if there is something more to add about boasting, the words of Beowulf are enough: “Like boys we agreed together and boasted – we were both in our first youth”.

IV Conclusion

In this analysis I have tried to highlight how easy it is not to understand a text. Texts have multiple interpretations; besides, the older a text is, the more the difficult it is to “read” its meanings. This happens because we just do not know much about the context in which the text was written. In the case of Beowulf, I was mainly interested in refuting contemporary interpretations that it is not, in essence, a Christian text. Of course, I would be a genius if I had really achieved success in this task. In conclusion, is Beowulf a story about Christians fighting evil, or is it a pagan epic? It is both and it is neither. Alas, the synthesis is never fully possible. The same happens to man: Beowulf is poem about man, about man’s qualities and about man’s faults, imperfections. That is why, in the pressing matter of Christianity and Beowulf, we can never be truly sure. Beowulf is not to do about Christianity it is to do about man. And so I, an immodest reader back in the 21st Century, say to the author of Beowulf: I salute thee! Thou are a more intelligent and wise man than I will ever be.

Bibliography
The Norton anthology of English literature, M.H. Abrams, general editor. - Vol.1, 4th ed, New York.
Tolkien, J.R.R. The Monsters and the Critics, in “The Beowulf Poet” Fry, D.K, editor, Prentice –Hall, Inc., Englewood Cliffs.

Se ainda não leram o poema Beowulf, e se estiverem interessados, podem encontrar uma versão de um dos maiores poemas épicos aqui.



Paradise Lost*


"The other shape,
If shape it might be call'd, that shape had none,
Distinguishable in member, joint, or limb;
Or substance might be call'd that shadow seem'd;
For each seem'd either; black it stood as night,
Fierce as ten furies, terrible as Hell,
And shook a dreadful dart; what seem'd his head
The likeness of a kingly crown had on.
Satan was now at hand; and from his seat
The monster, moving onward, came as fast
With horrid strides; Hell trembled as he strode."

-- John Milton


* Certas palavras só o são na língua em que foram escritas.

Mentiras & ilusões


Eu julgava que não me era possível voltar a ler.



Mas neste jogo de xadrez não há tempo algum a perder. Os tubarões estão à solta e afiam os dentes nos meus impostos por pagar e a ilusão da Liberdade não passa disso mesmo: uma ilusão. Ao menos essa ilusão, comprimido azul, permite comer uma bife tártaro sem o desprazer de o ter de pagar. Permite ignorar o Nosferatu e pensar que tudo não passou de um sonho mau. Imagens.


O poder de certas imagens. Um post com insinuações e desejos ocultos e fantasias por resolver. Um post deselegante, roubado algures no tempo que foi.
Um dia olhei. O meu rosto no espelho e não me reconheci. Quem sou eu, perguntei à imagem que me olhava como se olha um cão vadio em vísceras na auto-estrada. Bomp. O espelho não responde. Olhei para os teus olhos e foi lá que me reconheci. Tão próximos, como se fossemos um só, sem que nunca nos tivessemos visto. Tudo falso. Tudo mentira. E que queriam? A história detalhada da minha vida? Não há. Sou feito de ilusões. Que por vezes magoam. Como agora.

Costa Nova III


E Nesse dia. Verão de 2004. 14 de Agosto. Morremos ambos.

Costa Nova II


A Igreja. Não está longe.

Costa Nova



Verão de 2004. Em busca de uma Igreja.

10.4.06

A fiel ajudante




Satã conta na sua folha de pagamentos com uma fiel ajudante. Um demónio fêmea que surge aos homens nos seus sonhos para os seduzir e com eles ter intensas relações sexuais, que lhes provocam um êxtase sublime. O demónio drena das suas vítimas a energia vital de que necessita para continuar a existir. Muitas vezes, esse processo carnal é de tal modo poderoso que causa aos homens dele vítima uma exaustão fatal. Succubi é o nome deste demónio. O que muitos de vós não dariam para ter uma Succubi nos vossos sonhos. Mentira?..

Memórias rasgadas

Acossado, escondido. A salvo. Ninguém me persegue. O crime perfeito. Ninguém viu, ninguém sabe o monstro que se esconde por trás do meu inferno pessoal. Aqui sofro, aqui definho. Após ter cravado no teu peito a faca feita de rancor e de ódio. Choro lágrimas afiadas de sangue e de desprezo pelo que sou e pelo que fui e pelo que te fiz sofrer. Acossado, escondido, ninguém viu, ninguém sabe, ninguém sonha. O crime perfeito. Rodei no teu peito a navalha. Sorriste. Um sorriso sábio, triunfante. Rodei a navalha no teu peito e empurrei-a até sentir os dedos enterrarem-se na carne. E para quê? De que serviu tudo isso? O prazer da dor que te infligi dissipou-se depressa, o teu corpo em convulsões e as feridas que sangram de onde sorvi a tua vontade, o teu Amor, num beijo encarnado, seco e fechei-te e matei-te e tudo se acabou, enfim, para sempre. Mágoa. Remorso. Desespero. O que fiz de nós? O que fiz de mim, Beatriz? Onde estás? Onde vais? Por onde caminhas? Deixa-me descer até ti. Deixa-me ousar viver de novo. Deixa renascer-te.

O fim do silêncio

Esteve calado por mais de um mês. Não o sentira, não o escutara nem o cheirara e quase o tinha esquecido. Bom, este quase está aqui a mais, é certo, e contudo foi um mês menos mau para mim por não ter tido o desprazer de me lembrar dele. Agora regressou. Foi visitar as criancinhas enfermas e dizer aquilo de que há muito se esperava. Ele está de volta. Devagar, mansinho, com pezinhos de lã. Mas de volta. Para iniciar uma nova fase, segundo diz. Eu também inicio uma nova fase. Não me esqueci dele. Cá te espero. Mostra lá as tuas cores verdadeiras que eu mostro as minhas. Até já. A Sinfonia do Morcego segue dentro de momentos.

8.4.06

E porque Ele não caiu sozinho...


Como é de conhecimento público, Lúcifer, Satã, ou como lhe quiserem chamar, arrastou consigo um terço da hoste angelical. E como ninguém gosta de monopólios, eis que o nosso amigo, ao despedir-se do seu emprego de chacha como securita do Paraíso, onde andavam Adão e Eva todos felizes a dar nomes a animais e a dar a queca divina, decide montar loja no negócio da carne, do pecado e do prazer, roubando a clientela da Jesusito & Pai, lda.
Porém, como o sucesso de uma empresa está no trabalho de equipa (à excepção dos déspotas omnipresentes, omnipotentes e omniscientes que por aí andam) também Lúcifer, de Estrela da Manhã a incarnação do Mal, soube rodear-se de pessoal competente e com iniciativa, evitando sobremaneira o stress do mundo empresarial e uma possível depressão nervosa.
Assim sendo, proponho que, de vez em quando, seja apresentado um dos trabalhadores do Senhor das Trevas, quer seja um demonito de segunda ou um membro do conselho de administração... já que Ele não trabalha sozinho.

Amor


É desejar-te como não desejo ao meu pior inimigo. É querer-te parte inteira do meu ser e gravar na tua pele, a letras vermelhas, arroxeadas, a intensidade da minha ânsia de posse. E lambuzar-me numa orgia dos sentidos e possuir-te num ânsia de raiva, fúria, desespero. Amo-te.

7.4.06

O Crepúsculo de Deus


Pelo menos 50 pessoas morreram e 200 ficaram feridas, hoje, num duplo atentado suicida contra a mesquita xiita de Buratha no norte de Bagdad no final da oração de sexta-feira, informou [sic] fontes oficiais citadas pela cadeia televisiva Al Iraqyia. (Diário Digital)

Mais uma Mesquita à viola no Iraque, com a habitual procissão de mortos e feridos. E tudo em nome de Deus, claro. Muito gostam os gajos de andarem à chapada bombista lá na santa terrinha. A culpa é nossa, pois claro. Quem nos mandou ir para lá desassossegar os gajos? Olha, agora é isto, as víboras estão à solta e o sangue corre a jorros. Rejubilemos, pois. Te Deum. Até à última garfada.

Segredos & tentações*



*Só para iniciados.

6.4.06

As Onze Regras Satânicas da Terra


1- Não dês opiniões nem conselhos se estes não te forem pedidos.
2- Não fales dos teus problemas a outros, a menos que tenhas a certeza de que os querem ouvir.
3- Quando estiveres no covil de outro mostra-lhe respeito, ou então nem vás lá.
4- Se um convidado no teu covil te incomoda, trata-o com crueldade e sem misericórdia.
5- Não tenhas iniciativas sexuais, a menos que te seja dado o sinal de acasalamento.
6- Não tomes o que não te pertence, a menos que seja um fardo para outra pessoa e este implore para ser aliviado.
7- Reconhece o poder da magia se a usaste com sucesso para conseguires o que desejas. Se negas o poder da magia após a teres convocado com sucesso, perderás tudo o que conseguiste.
8- Não te queixes de nada ao qual não precises de te submeter.
9- Não magoes crianças.
10- Não mates animais, a não ser que sejas atacado ou precises de alimento.
11- Quando estiveres em território aberto não incomodes ninguém. Se alguém te incomodar, pede-lhe para parar. Se não parar, destrói-o.

5.4.06

Uma questão de fé






Retiramos de Satã o verdadeiro Poder. A nossa força emana do lado negro, das trevas ocultas do Príncipe da sabedoria mística. Não nos fastia verter o sangue, nosso e dos outros. Sentimos fluir em nós a força vital da Besta. O nosso credo? A nossa religião? Aqui está.