27.12.08

Da manhãzinha

É assim mesmo!
Não escrevas da luz, nem do belo,
nem do Laio, nem do cravo.
Que enfadonho essas almas
que cagam perfeição em noite de lua cheia!
Que maçada esses espíritos Platões
que nem precisam de limpar o cu
tão perfeita é a merda que fazem!
Não escrevas sequer das trevas, da dor e do feio,
nem mesmo da puta morta na viela.

Senta-te comigo e verte o sangue da ponta da pena
e escreve sobre o espírito,
não do espírito à Platão, mas o mortal e o corrupto,
o que se partilha na sombra do olhar
à beira de um cinzeiro cheio e de um copo vazio.
Escreve, homem!,
versifica, prosifica,
rasga o protocolo, morde a bala,
compra o bilhete e vai na gazua até ao fim
e arrisca!

…o que se chama, assim mesmo, arriscar!

É assim mesmo

Escreve poesia, escreve-a como quem sente o frio na rua e como quem na estrada escura lapida a inocência qual lixo do homem que apara rente a rima, como quem te aguça no vidro a unha com uma lima feita do cio duma cadela de plástico ou duma morcela de paio bombástico e escreve-a como quem sai para a lua em busca duma puta ou duma sida, para a lua da rua se é que queres escrever poesia ou não - na volta és apenas dos que preferem escrever sobre Maio ou dos gregos Laio ou sobre o 25 de Abril (ou sobre a luz, oh, que belo!) ou sobre nuvens no céu mil ou sobre a puta que te pariu e eu não te leio já e nunca te esquecerei até porque de ti nada sei e esta é a primeira vez que te vejo a varrer o chão, num trecho de texto em que dizes de ti, de mim, de nós e do acaso e das vielas em que as cascas de banana nos escorregam como se fossem só sumo de limão.

É sempre a mesma história, a vida e a memória, a docura a cores e a distância a negro e a lonjura cinzenta, a manga do casaco castanho de cabedal dum cão que lhe deu para a raiva de morderdura e o beijo duma fêmea de abrigo de que não se fala de amargura ou na volta era só a ternura e o desejo que tinha de estar ao pé de ti, ela e só contigo, tivesses tido mais tino e sentido, fosses mais forte no que foi lido, mais sabedoria na sarabanda que é a tua vida.

O poeta saiu de casa, não lhe saiu ao poker na vaza - que aguardava, impaciente - comprou cerveja numa tasca, fumou tabaco numa banca e da madeira seca do fumo saltou uma pequena lasca, estava gelado e à rasca, o poeta, era Dezembro de 2008 e o seu membro frio, curto, pequenote, dava para todos os outros, para as moscas e para os doutos, dava-lhes o mote da lembrança e de outros tempos abonava-lhes a bonança.

Um quarto para as cinco

Sim, dizer-te sem mais
dizer-te do tempo e do que ficou por escrever
em prosa ou verso, pouco interessa morrer
dizer-te apenas do que ficou por ser dito
do luar e do ciúme, da mulher e do homem,
do cigarro e da chama e do lume.

Dizer-te tudo numa só palavra
que não é ou não fosse da tua lavra

Dizer-te numa canção
que ninguém te tenha trauteado
Num soneto que Camões
não te tenha patenteado

Dizer-te cantando

São três para as quatro
e o tempo passa a fugir
não te toma lastro

mulher alguma te aquece agora, é Inverno;
É o tempo de ir, buscar cerveja
ou talvez um mata moscas vareja

dizer-te sorrindo

Que sinto o fogo na madrugada negra
como Janis Joplin na fuga da puta grega

E que o tesão que esqueces que nada demora
não te tarda, não te queima mas talvez te foge...

É frio, é escuro, é mau. É doce e é Inferno.

Na crista da onda

Ah, leitor,
Ah, amigo,
Para que servem os versos?,
os versos falsos?,
servem para ser lidos,
para quebrar inibições
tão falsas quanto os versos
que as escrevem
e acolher ideais alheios
de amizades idealizadas
concretizadas na realidade
da língua da confraternização
livre da rima e métrica opressoras.

Apenas versos sem sentido
possuidoras de um sentido
total e universal.

Uma poesia
que podia ser prosa,
É prosa!
Inexoravelmente…

Coisas que metem nojo



Uma das coisas que mete nojo é as pessoas que aparecem sem avisar. Está um tipo muito bem a despedir-se de amigos que lhe são caros, enfia-se no automóvel com um adeus e até já, e, sem mais água vem ou água vai, pessoas que também lhe são caras aparecem sem avisar, numa de desconfia, numa de cara de porco, sem perceberem que a única coisa de que estão a dar cabo, a única coisa que deveriam defender e estão a deitar fora é o amor que sinto por elas.

Meteu-me nojo quando isso me aconteceu era eu um puto e o meu pai apareceu sem avisar e continua a meter nojo quando tu apareces sem avisar, sem dizeres água vem ou água vai, sem uma palavra de carinho ou de gosto por me veres, só acusações e tropelias que até me apetece perguntar: é isso que tu fazes quando não estás comigo? Julgas-me de acordo com os parâmetros que tu e os teus estabelecem, é assim que tu me vês? Desculpa se te digo, e desculpa o «desculpa», foi assim que me ensinaram, mas o que é mais do que a dúvida nojenta que deitas aos meus pés é que a minha educação não me permitiriria jamais aparecer sem avisar, tal como o fizeste, pronta a deitar no meu rosto o indicador acusativo. É apenas algo que não faria a um mendigo, muito menos a alguém por quem sentisse amor. Tão só e simplesmente.

Vamos a ver, é toda a psicologia da coisa que mete nojo. Mete nojo e acho que é por isso que acaba de terminar uma coisa que até achava importante.

Vê lá bem: passei a noite toda, tortilha, bom vinho, chouriço assado, frango no churrasco e arroz perfumado a falar de ti, a louvar-te entre dois e três tragos de boa beberagem que não é da minha mercê ofertar a amigos como os que ainda vou tendo e até a dizer como são bonitos os teus defeitos - a dizer do quanto gosto de ti, de como és importante para mim, perante pessoas que não são pessoas quaisquer, amigos, o meu melhor amigo, sua puta - afirmando-lhes com te amo, a pessoas que considero e depois, logo no seguimento, sem mais, apareces sem avisar, lanças a mão à minha cara, sem sequer perguntar ou te justificares, que era a primeira coisa que deverias ter feito, para me dares uma bofetada no rosto à má fila e parece que até ficaste à espera que te agradecesse, como se fosse um papalvo feliz e contente.

Por quem me tomas? Achas que devo prestar-te atenção? Achas? Não me parece de todo. Sabes que mais, isso não me interessa.

24.12.08

Ridículo



E assim vamos, lendo e fumando, pensando e escrevendo. A olhar o passado e a piscar o olho ao futuro. Qual décima-terceira hora qual diabo, sinto-me atraído por ti e o resto não conta, ou se calhar ainda conta mais do que tudo o resto. Esta é uma sorte tremenda, saber usar as palavras a meu favor sem te deixar ficar mal, ser eu próprio no espaço a que chamas teu, é uma sorte, palavra que é, eu estou ao pé de ti e nem me sentes, aqui, à tua espera.

(...)

Esta vida não é certa, tem palavrões e coisas menos boas mas ainda assim é a vida que tenho para te dar, a única de que sou capaz. Não sei escrever poemas de amor, nem gosto, quanto mais expor-me à tua frente dessa forma, não, não sou ridículo.

Querido Pai Natal



Tenho sido um menino bem-comportado durante 2008. Não fui ao cu a virgens, não li revistas pornográficas, não cobicei a mulher de quem gosto, não tramei amigos, nem fui indelicado com quem quer que seja, pelo menos que recorde. Certo, querido Pai Natal, por vezes não estive à altura do que seria desejável mas isso foi mais por causa das circunstâncias do que da vontade. Por isso te peço, Pai Natal, te rogo de joelhos suplicante, que nestes dias frios me ofertes o colombiano dom da cocaína, apenas e só, da boa, da húmida, da snifável, querido Pai Natal.


23.12.08

E agora...



Para algo absolutamente diferente...

Mãezinha...



É desta que o blogue se passa de vez...

Estou farto do Natal...



Bora falar de sexo?

Alice, alice...



Mensagem de Natal



De acordo com este sujeito «salvar» a humanidade do comportamento homossexual ou transexual é tão importante quanto salvar as florestas tropicais, visto que homossexualidade e a transexualidade são uma «destruição da obra de Deus»...
Em época natalícia, com uma crise económica brutal, com duas guerras terríveis no Médio-Oriente, com milhares a morrerem de cólera no Zimbabwe, este sujeito, que alegadamente é um «intelectual» e um «professor», vem sair-se com uma bojarda destas. Ai Jesus...


4.12.08

Não te precipites


Calma. Muita calma agora. Nada de merdas, o tempo corre a teu favor, o descrédito e a falência dos formalismos estabelecidos é uma evidência e a época está quase madura para uma nova era de cinismo bélico-literário. Em breve, mais breve até do que julgo, as pessoas estarão ávidas de palavras que destilem barris de ódio e pipas de verdade e aí então saberás alimentar-lhes o asco subjacente ao paradigma em que nunca viveram. Escreve para os seus filhos e não para eles. Essa é que essa.

2.12.08

Está muito frio



E diz que amanhã regressa a chuva, boa sorte.

1.12.08

Pensamento da noite



The 60s are gone,

dope will never be as cheap,

sex never as free,

and the rock and roll never as great.


Abbie Hoffman, American activist