30.1.08

Coisas que me fazem feliz

«The Betti numbers of an object describe its features, such as the number of its components or the number of its holes and cavities. An object has one more Betti number than it has dimensions. One-dimensional objects such as the circle have two Betti numbers, two-dimensional objects, such as the surfaces of balls, pretzels and bagels, have three Betti numbers. (Recall that solid spheres and bagels are three-dimensional objects. The surface of spheres and bagels, i.e., their skins, are two-dimensional.) Intuitively, the k-th Betti number counts the object's k-dimensional connectivity or holes.»


Faz-me feliz ser capaz de ensaiar a tradução de uma passagem como esta sem atirar com o computador contra a parede; sobretudo da última frase.

27.1.08

Os dias antes de Matilde

Acordei tarde, deveria passar das dez. Tomei um duche, fiz a barba e mentalizei-me de que tinha de lavar a louça de ontem antes de me pôr a beber. Mas, antes disso, ainda de pijama, fui à mercearia e comprei cinco garrafas de cerveja. Voltei para casa, lavei metade da louça e, como prémio, mandei duas abaixo. Então, desci ao quintal, fui ver como estavam os gatos, passei no senhor Augusto, tomei um café, e vim acabar o que faltava: uma série de copos que gamara algures e uma catrefada de talheres sujos da véspera. Quando terminei, bebi as cervejas que haviam sobrado.

Olhei para o sol e verifiquei que eram quase horas de almoçar e ainda não comera nada. Mas estava bem disposto. Tomei mais um duche, enxuguei-me, vesti uma camisa de Verão, perdi mais de uma hora à procura das chaves do carro – tenho sempre a mania de as esconder de mim próprio quando chego perdido de bêbado a casa, desta vez estavam no interior da caixa da sanita – e, então, de óculos escuros, arranquei em direcção ao bar do Ferro.

Chego ao bar quando batem as duas da tarde. Não está cá mais ninguém, só eu e o Ferro, o que é sempre bom porque assim tenho tempo para o “amaciar”. Vemos televisão e jogamos às damas. O Ferro não gosta de perder às damas e – como sabe que quanto mais bebo pior jogo – fia-me logo uns dois ou três vodkas. Depois é sempre a abrir. Bebo sem parar e o Ferro parece feliz cada vez que aponta no seu livrinho mais uma dívida minha.

Após meia dúzia de derrotas e de uma inédita vitória sinto-me contemplativo e pergunto-me do porquê de o Ferro, aparentemente, gostar de fiar álcool - às pessoas em geral - e a mim em particular. Será o Ferro judeu? Será que é porque sabe que eu pago sempre e assim tem-me sempre na mão? O Ferro é um tipo estranho, mas, ao quarto ou quinto vodka fiado, apenas me parece ser a pessoa mais generosa do universo.

Entretanto, chegou o Sr. João. É um cabo-verdiano que ganhou a lotaria o ano passado e que, desde então, como não sabe o que fazer ao dinheiro, esbanja-o no álcool e nas piores companhias possíveis. Aproveito que madruguei para lhe cravar cinco contos. Acabou de ir ao banco e ainda não se encontrou com ninguém. O pior é que exige sempre um preço pelos cinco contos. É um homem ligeiramente enfadonho, o Sr. João. Na sua companhia o tempo passa devagar, está sempre a queixar-se, ou disto ou daquilo e, como na verdade empresta-me sempre guita, sou forçado a escutá-lo pacientemente.

Nisto são cinco horas da tarde e perdi todo o interesse. Despeço-me com um até já, enfio-me no carro e regresso a casa. Deixo-me cair na cama e adormeço logo. Acordo com mau hálito, a boca seca e constato, para meu desgosto, que já é noite. Não sei que horas são nem tenho relógio, mas isso não me preocupa. Tomo o terceiro duche do dia, abro uma lata de sardinhas e uma garrafa de bagaço empoeirada, que ficara esquecida pelo anterior inquilino a um canto da dispensa.

Cozo as sardinhas enlatadas e também um esparguete que comprei há dias. Não sabe lá muito bem, esqueci-me de juntar sal, mas o bagaço não é mau de todo. Quando acabo, atiro os pratos para o lava-loiças, onde depois faço a barba e lavo os dentes. Calço os sapatos e arranco, desta vez a pé, outra vez até ao bar do Ferro.

Só agora me lembro de que não mudei de camisa desde que acordei e reparo com desgosto que ela está toda amarrotada. Já estou a meio caminho, mas resolvo voltar para casa. No regresso, pergunto as horas e fico a saber que passa das dez da noite. Não é mau de todo.

Chego a casa e dispo a camisa. Aproveito e dou mais uns goles de bagaço, só para ganhar forças. O bagaço descontrai-me e deixa-me sonolento. Ponho uma cassete do José Mário Branco e aqueço café numa chaleira velha e suja. O café sabe-me bem, quase como se fosse uma beberagem exótica e a música ainda me anima mais o espírito. Desligo tudo, visto uma camisa pasada a ferro e saio para a rua. Já é tarde e resolvo ir de carro para poupar tempo.

Chego à rua do bar do Ferro e não tenho sítio para estacionar. Não há problema, estaciono em segunda fila. Vem logo um tipo perguntar-me se não quero nada e eu, só para não parecer indelicado, compro-lhe um conto de haxixe. Entro no bar e o Ferro, que observou a transação de esguelha, não parece satisfeito. Cumprimento-o, saco de uma das notas que me sobrou do empréstimo do Sr. João e peço whisky.

Bebo a noite toda. Já não sei quantos whiskies bebi. Umas gajas meteram-se comigo e fumámos umas ganzas – haxe delas, que o meu é privado e só o comprei para não parecer antipático. O tempo passa lento até que há uma rixa. Dois mauzões que, ao que parece, têm maus vinhos. Mas a diversão termina com um abraço patrocinado pelo Olívio, um cigano de meia idade que por vezes me parece demasiado íntimo do Ferro, quase como se o Ferro tivesse medo dele.

A música volta a fluir e o álcool também. Estou quase a ir-me embora, quando aparece o Miguel Ângelo, um tipo engraçado que, ao contrário do Ferro, gosta de jogar xadrez. Jogamos duas partidas. A primeira vence ele, a segunda eu. Combinamos o desempate para outro dia, contamos a guita que nos sobra e acabamos a cravar mais dois vodkas ao Ferro.

É quase uma da manhã e malta está toda a bazar. O Miguel Ângelo pergunta-me se não quero ir com o pessoal ao Lux, mas, então, saída de um taxi, chega a Bibi. Vem sozinha. Digo aos gajos para se irem embora, «bazem, bazem», e fico só eu, o Ferro e a Bibi.

A Bibi é a mulher mais sexy que conheço. É alta e elegante. Tem cabelos ruivos, compridos e os olhos azuis, penetrantes e inteligentes. Usa mini-saia e fica-lhe bem. Aqui há dias estivemos a beber juntos e depois dei-lhe um linguado que me me valeu uma estalada, mas não me arrependi. Parece ausente, hoje. Que merda a Bibi estar a entrar num mundo de onde acabo de sair. Convido-a para beber um vodka, ela aceita e pergunta-me logo se não tenho droga. Respondo que não uso disso e ela sai porta fora. O Ferro tinha ido à arrecadação e, no regresso, estranha a ausência dela. Quando me olha, compreende.

São duas da manhã e estamos a jogar às damas. Perco o quinto jogo consecutivo. O Ferro está tão feliz que até me oferece um último whisky e se disponibiliza para me estacionar o carro em frente ao tasco e me levar a casa no dele.

Recuso, educadamente. O Ferro intima-me a fazer o quatro. Respondo-lhe que só os ébrios o fazem e, desejando-lhe boa noite, saio, entro no carro, ligo o motor, aceno-lhe e disparo para casa.

...

Acabo de estacionar à minha porta. A Antena 1 informa-me que são quatro da manhã. Está alegre, o locutor. Demasiado alegre. Demasiado superficial. Fecho o carro, abro a porta do prédio, subo as escadas e entro em casa. Senti-me tentado a fazer como de costume, senti-me tentado a fazer uma barulheira tremenda e com isso acordar a vaca da octagenária que mora no andar debaixo. Sei lá porquê, hoje não me apetece. Ligo a aparelhagem e levo com as últimas palavras da música do JMB. Sou diferente dele, penso. O meu nome não é artístico, nem eu tenho talento de artista. Sou apenas um gajo a quem os pais (ou melhor, o meu pai, visto que a minha mãe morreu ao dar-me a vida), puseram o nome de Jorge.

Tenho 32 anos e não sei o que vou fazer. Os meus dias são assim. De casa para o bar do Ferro, do bar do Ferro para casa. Será que vale a pena? «É claro que vale a pena», diz-me uma voz que não reconheço.

Sou o Jorge Braga Melo. Tenho 32 anos e não sei o que ando aqui a fazer. E é assim que eu vivo os meus dias. É assim que os dias passam por mim – É assim que eu vivia, era assim que eu era - antes de Matilde.

25.1.08

Só para «linguísticos», amadores de gramática ou mestrandos em assuntos afins

People, tou com um problemão. Tenho aqui a minha baby (ela diz que não o é), ao lado e ela teima comigo que se pode dizer "foi-mo". Assim mesmo: "foi-te entregue o livro? Foi-mo." Eu, digo que não, que não pode ser. Do meu ponto de vista, o livro "foi-me" entregue, ponto. Agora, estou na dúvida, coisa que detesto. Gostaria de vos perguntar - em particular a ti, meu discípulo, se "foi-mo" existe. E, se não existe, gostaria que me explicasses o porquê.

Abraço, o vosso sempre fiel,

LS.

24.1.08

Cinco tostões de cérebro após a meia-noite

"Mary gave birth to Christ without having known a man's touch, that's true. But she did have a husband. And do you really think he'd have stayed married to her all those years if he wasn't getting laid? The nature of God and the Virgin Mary, those are leaps of faith. But to believe a married couple never got down? Well, that's just plain gullibility."

Personagem de "Rufus", no filme "Dogma".


Que saudades de bater

Isto acontecia muitas vezes sempre que me drogava. Esquecia-me de que estava ao volante e adormecia e depois, depois - passe a rima e a cacofonia - batia, chocava, vá, ia de encontro a. Então, passei a ter outro tipo de vida e deixou de acontecer. É uma chatice. Era tão bom mandar pelo menos um carro por semana para a sucata... Tão bom ver as feições estupidamente alteradas do meu chefe, quando, com a pronúncia mais neutra, mais impecavelmente neutra que se possa descrever, tinha o prazer de lhe comunicar: «André, tenho más notícias: houve um tipo que me abalroou o carro da empresa...» Ah, que saudades da visão das veias que se lhe inchavam no pescoço, da voz que se lhe embargava na garganta, dos dedos que ele conseguia quase evitar que lhe tremessem, um segundo antes de, em virtude de não me poder despedir (que querem, o filhinho do papá não se despede assim sem mais nem menos), me responder, quase calmo, quase refeito de mais uma despesa de milhares, quase como se fosse um filósofo estoico na presença da erupção do Vesúvio, que «não faz mal Luís, não há problema», sabendo eu e o gajo que havia mais do que problemas envolvidos na minha acidental circunstância... Ah... Que saudades de ir aos cornos do ex-gerente da Smith & Nephew em terras lusas, sim, que saudades de te partir a tromba, meu caríssimo, meu saudoso André Santos.

PS- It's pay back time- bitch.


22.1.08

22-01-2008




LDT 22 – 01 –2008
Sumário

Aula extremamente interessante. Estamos há quase duas horas a vegetar e a apresentar textos que não vão servir de nada para o nosso futuro. De facto, a aula decorre no preciso momento em que escrevo isto e, embora neste (naquele?) momento este texto sirva apenas para horar, a verdade é que, agora (sim, neste momento, não naquele), penso já em dedicá-lo ao leitor. Como ia dizendo, a aula decorre no acto da escrita e apercebi-me de súbito que me estou a cagar, porque não dizê-lo?, para os adjectivos axiológicos, positivos e negativos, nenhum escapa, para a etopeia, para as prosopografias por esse mundo espalhadas ou para o sistema de relações dos tuaregues, dos vikings ou dos piratas, paz às suas almas!, e para a casa assombrada do Poe (atenção, notícia de última hora, parece que os tuaregues têm rebanhos e há quem afirme que tenham, inclusive, cavalos). (Bocejo) (2º bocejo) (Bocejo longo, breve lacrimejar de tédio e… bem, somente tédio). – Exacto! …não estou a perceber, - exclama a professora num súbito clarão de compreensão cósmica que, como já vem sendo habitual, depressa se esvaneceu no vazio do pó cósmico que é a sua mente, um planeta morto. – Ah, o pronome, sim. Tenho fome… neste momento, a única relação que quero ter com adjectivos, substantivos e afins é que estes se traduzam em bife tenro e suculoso (Mia Couto, rói-te de inveja!) com batatas fritas e, de preferência, com uma cerveja bem fresca a acompanhar. Não obstante, estimado leitor, nem tudo são rosas numa aula de LDT. Aprendi, também, uma coisa muito interessante, de entre as muitas que tenho vindo a aprender nesta aula, tais como err…. e hm…, mas bem, uma coisa muito interessante, colegas mestrandas que consideram que a expressão inglesa comic book se traduz como «obra cómica». Não é grave (pronto, é!), apenas estúpido, a sua carreira que se foda, em bom inglês, não podia dar menos do que uma foda para a carreira delas que, aliás, dará, com toda a certeza, uma poderosíssima obra cómica, assim como o primeiro número do Tio Patinhas. O que na verdade me aborrece é que, quando chamadas à atenção, insistam na idiotice e digam comentários geniais como «fica em aberto» ou «aqui julgámos que não se adequava traduzir comic book como banda desenhada». Como diria o meu bom amigo George Carlin: Fuck'em! E, mais interessante ainda, não fosse a intervenção magnânima e com um perfeito sentido de oportunidade deste vosso criado, passaria ileso pelo escrutínio rigoroso da profesora que, com todo o seu conhecimento sobre tradução, inglês e português já ia dizer: “entõn, vamos passarrr ao prrróximô grrrupô.” Não é ser picuinhas, também dou erros em tradução, muitos e até imbecis, mas, que fazer?, cáustico, sinto-me cáustico… Talvez não estivesse a rabiscar isto no caderno se a aula me ocupasse devidamente com algo interessante e desafiante. Agora, são os alemães. Escusado será dizer que não percebo ponta d'um corno; por outro lado, a professora também não, mas, como já tiveram várias oportunidades de perceber, isso já é cour du jour. São 14:00 e parece que o meu grupo hoje já não vai apresentar. Mas isso é somenos! É o melhor grupo e com as miúdas mais giras. Além disso, pode contar com o génio do B. e com o meu profundo conhecimento sobre… aahhh… E os alemães lá vão, lado a lado com o Goethe e com o Barrento, em Nápoles (ou será no Nepal?), a discursar sobre o processo de enchimento (de chouriços?), a blitzkriegar a malta como se não houvesse amanhã. E assim se vai mestrando em tradução, a gozar a vida, meio etopaico, meio prosopográfico. Ah, duas horas em ponto! Chow time! Não sei que fim dar a este texto. Dei-o a ler à S., ela riu e, no final, é o que interessa.
There is no hell. There is only France.
Frank Zappa

17.1.08

Do belo e do bem



O belo e o bem são por vezes intermutáveis. Mas nem sempre. Se assim fosse como explicar a excelência estética patenteada pelo movimento Nazi? Como explicar Triumph des Willens e Leni Riefenstahl? Como explicar Albert Speer, arquitecto da Reichskanzlei e, mais tarde, todo poderoso ministro dos armamentos do Reich? Não nos iludamos, a estética fascista, muito mais do que a comunista, revelou artistas de génio em diversas áreas, do filme à arquitectura, passando pela moda, com Hugo Boss a desenhar os belíssimos uniformes de gala das SS. Hoje, em virtude de, subjacente a esse movimento artístico, estarem valores que consideramos condenáveis, condenamos também a estética fascista, muitas vezes erradamente e de forma primária.

sítios: Nazi Architecture; Nazi Aesthetics; Arno Brecker.

16.1.08

Pensamento de fim de tarde

Júlio não chegou a Frankfurt. Teve um acidente. O piso gelado não ajudou. Foi transportado para o Hospital de Bona - demasiado tarde, ou assim pensam os primeiros automobilistas a acercarem-se do local do sinistro. Em Lisboa, Carlos, amaldoiçoando Marisa e a sua beleza opulenta, saiu da repartição e caminha para casa da mãe – frustrado. Mais a norte, Luís acaba de passar por Famalicão e sente ganas de comer umas papas de sarrrabulho: resolveu pernoitar em Ponte do Lima; Maria está cada vez mais perto dele e a fome do caçador, açoitando-lhe a condução, ainda lhe aguça mais o apetite. Na Almirante Reis, numa tasca conhecida por “Ferreira’s Bar”, João deu um snif de coca na casa de banho. Está alerta e acompanhado; recebeu um telefonema absurdo: um tipo que lhe ofereceu um pagamento extravagante por um serviço fácil embora aborrecido. Aceitou e resolveu pôr a garrafa de parte e investir no seu único capital – ele próprio: João é um homem de necesssidades caras quando não escreve e, quando não bebe, não escreve. É um fim de tarde normal, um fim de tarde de quarta-feira.


14.1.08

Do Belo



Dizia Schopenhauer que na contemplação estética ficava arrebatado, isto é, livre de si mesmo e da tirania dos seus desejos. Acrescentava que só o Belo permitia suspender a dor, na justa medida em que a sua contemplação fazia com que o sujeito se esquecesse de si mesmo, e se encantasse com a existência: "A beleza é uma carta de recomendação aberta que nos predispõe o coração para o bem, antecipadamente."

13.1.08

Pensamento da manhã

Júlio não acordou a tempo do pequeno-almoço, mas finalmente resolveu-se: vai regressar a casa. Só tem uma dúvida: aguentará o chasso até Lisboa? Pagou a conta no Hotel, passou pela Friederich Strasse, fez uma caralhada ao soldado de pacotilha de guarda ao posto de controlo obsoleto e rola agora a todo o gás em direcção ao sul: prometeu a si próprio não parar antes de Frankfurt. Em Lisboa Carlos está a ter um dia longo na repartição das finanças do Areeiro, 3º Bairro Fiscal: a sua chefe - Drª Marisa Gomes - parece ter tirado o dia para o chatear. Luís despediu-se da puta preta e gorda ainda no quarteco desta ao Cais do Sodré e também se meteu à estrada; ainda não desistiu de foder Maria, daí que, como reza o ditado, se Maomé não vai à montanha... João está deitado na cama - bêbado. A reunião não correu bem. Das 15 curtas que submetera à apreciação da editora apenas três receberam luz verde para publicação. Este semi-fracasso tem para João severas implicações económicas; o dinheiro chega-lhe à justa para pagar a renda do quarto e para 23 garrafas de vinho; o que irá comer nas próximas semanas? Não sabe. É uma tarde normal - uma tarde de segunda-feira.




Padrão



A Arte serve para muitas coisas e, ao mesmo tempo, não serve para nada. A Arte pode estar ao serviço dos mais funestos objectivos ideológicos, dos mais "puros" ou ainda ao serviço de si mesma (a Arte pela Arte) o que também pode ser visto como um serviço a uma agenda ideológica niilista. Afinal, estar "ao serviço de si própria" não será uma falácia? Para mim, que não sou crente, a Arte é Religião: a Arte reduz-me à minha insignificância, transcende-me e faz-me ter fé; não em Deus, mas no Homem, afinal, o criador da Arte.

12.1.08

Pensamento da tarde

São seis da manhã e Júlio fuma um cigarro encostado a uma das colunas da Porta de Brandemburgo. Passou as últimas horas num clube nocturno da Unter den Linden e, apesar do frio, sente-te bem, muito bem. Em Lisboa, Carlos ainda dorme. Está a ter um pesadelo: tem o rosto ancorado no meio dos seios de Marisa e estes não páram de crescer - sufocando-o. Luís, entretanto, fode com uma preta gorda que engatou no Caís do Sodré: o facto de a ter engatado e de não ter tido de pagar para a comer deixa-o cheio de tesão. No seu quarto da Almirante Reis, João acordou, mal disposto. Contudo, já se lavou e prepara-se agora para vestir o seu fato de "Mr. Nice Guy". João tem uma reunião importantíssima às oito e meia na editora e chegou à conclusão de que não se pode dar ao luxo de continuar deprimido. É uma madrugada normal - uma madrugada de terça-feira. Lá, como cá, os pássaros assobiam uma melodia melancólica - triste sem rival.




Deutscher Dom



Ao contrário do Design, onde a beleza é sempre condicionada pelas virtualidades funcionais do objecto, na Arquitectura, por vezes, a beleza, o critério estético, impõe-se como único factor de concepção e avaliação da obra. Daí que, por exemplo, em Lisboa, a Gare do Oriente desempenhe tão mal a função (é fria e chove em cima dos passageiros) e tão bem o critério estético: é uma obra arquitectónica que não deixa ninguém indiferente. Por mim, não vou tão longe e deixo-vos com um pormenor da Deutscher Dom, ao cair da noite.

10.1.08

A Tess está linda (emagreceu)...

E mesmo assim vai para Moçambique. Bom. Há-de voltar. E, quem sabe, há-de voltar para mim. Se não for para mim e se não for para o "Frigorífico" também não é importante. Estou-me nas tintas para o "Frigorífico" e ainda me estou mais nas tintas para mim mesmo.

O mais importante somos nós. A Tess; o Phil; o Tiago; a Ana e, porque não, eu também. Boa sorte Teresa - volta depressa.




Pensamento da noite

São dez e meia da noite e Júlio saiu do Hotel em direcção a Tiergarten; está a nevar e fazem 10 graus negativos. No aconchego do lar materno, Carlos toca uma punheta com o cérebro vidrado nos seios de Marisa. Em Lisboa, contrariado, Luís contempla o relógio: Maria está atrasada e ou muito se engana ou os seus planos de foda, ponderados, calculados e revistos, não se irão materializar. João engoliu três valiums e deitou-se cedo. Sente-se cada vez mais só e sem razões para viver. É uma noite normal - uma noite de quarta-feira.







Gemaldegalerie



A Gemaldegalerie é um sítio fantástico. É uma realidade fora da realidade. Não sei se é da perspectiva. Não sei se é da escala, ou das salas sem fim onde nos perdemos, apenas para irmos ao encontro de Rubens, Bosch, Caravaggio e seus discípulos. A Gemaldegalerie é um sítio fantástico.

Ich hab noch einen koffer in Berlin



9.1.08

Pensamento da madrugada

Às três da manhã Júlio arrumou a cozinha e pondera conduzir até Lisboa. Carlos sonha com os seios de Marisa e Luís prepara, calculista, a próxima foda com Maria. João sente-se só; acaba de acordar, suado. É um dia normal - uma quinta-feira.


8.1.08

Frágil, também me sinto frágil



Ao ver esta tipa no Gemaldemuseum senti-me, senti-me como se fosse o Lobo quando ele destila veneno, senti-me, dizia, senti-me frágil. Como ela, como esta doçura a dois tempos. Digam lá, é ou não uma beleza?

PS- Julgo falar por todos quando digo que o Lado Negro da Lua é um blogue Palmaníaco. Palmaníaco até ao fim dos dias. Frágil como a vida.

A Nefertiti de Berlim



Em Berlim há muitas mulheres bonitas. Há-as para todos os gostos. Caucasianas, nórdicas, eslavas, italianas, espanholas, brasileiras, ruivas, morenas e louras. Mas esta, esta foi sem dúvida a mais bonita que por lá encontrei. Ora digam lá (e não me venham com a história de que estão fartos de saber "o que é que é bonito") ; a Nefertiti de Berlim - é ou não é linda?..

7.1.08

Triumph des Willens



Por vezes gostava de não ser o que sou. Por vezes tenho saudade de ser apenas uma imagem perdida no Tempo, um instante solitário; capturado talvez por um fotógrafo anónimo - algures na Roma Antiga, embora na Roma Antiga não existissem fotógrafos. Por vezes gostava apenas de ser apenas uma imagem num espelho, para sempre contemplando todos os rostos que há muito não são deste mundo.


Back from B.



Back from B, I look myself in the mirror and don’t like what I see. I need booze, but I lack money, I need peace, but I lack will, I need love, but I don’t believe in it. Back from B, I look myself in the mirror and don’t like what I see.

Visto ao espelho no Museu de Pérgamo, Berlim.

5.1.08